OSVALDO LUIZ RIBEIRO
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
domingo, 30 de janeiro de 2011
(2011/051) Não gostei - mesmo sendo Nicolelis
1. 15 dias no twitter, e Nicolelis já foi convidado a falar sobre "redes sociais". O inusitado da situação é tão óbvio, que a saída foi iniciar a palestra chamando atenção justamente para esse fato, ironizando-o, e, por meio da estratégia de tratar da questão com "humor", esvaziá-la. É sempre uma boa estratégia, mas, de qualquer forma, reveladora...
2. A princícpio, gosto de Nicolelis - mas, rapidamente, corrijo minha declaração: gosto de neurociências, e, como Nicolelis parece ser o mais importante neurocientista brasileiro, devo gostar dele, tenho de gostar dele. Logo, gosto. É verdade que achei a sua palestra aos alunos da UnB muito fraca - beirando ao raso mesmo. Mas relevei. No entanto, suas declarações - algumas delas, vai... - na conferência de Natal me soaram muito estranhas...
3. O link da notícia, bem como trechos de seu discurso está aqui. Eis uma das declarações que me pareceram carregadas do excesso do momento: "pare pra pensar: nós vivemos num mundo em que qualquer um pode ser eu, qualquer um pode assumir qualquer personalidade". Ora, o fato de que qualquer um eventualmente pode fingir ser eu não caracteriza nosso mundo - ainda é e continuará sendo uma fraude, desde que tal procedimento não se dê no contexto de jogos conscientemente encenados. Na vida real, o fato de a tecnologia permitir que um número grande de pessoas seja enganada não diz nada sobre o "mundo", ao menos nada que já não se tenha dito há muito tempo - para os canalhas de plantão, toda oportunidade de enganar incautos será muito apreciada, e nosso mundo facilita muito a vida dos canalhas... Se Nicolelis comentasse esse particular aspecto das redes, chamando atenção para o fato de que facultam "crimes", vá lá - mas não, trata do tema como se tratasse de algo oportunamente promissor...
4. Mais adiante, uma exemplo de como axiomas, provérbios, máximas, tomados e tomadas como filtros unilaterais da realidade levam, invariavelmente, a constrangedores equívocos. Nicolelis declara, categoricamente, que não há "imparcialidade" - o que justificaria a encenação de "eus" por quaisquer "eus". Para "provar" sua tese axiomática de que não há imparcialidade, ele recorre ao processo eleitoral de 2010, e, segundo o articulista, teria dito que, "a imprensa tradicional, mesmo se dizendo “imparcial”, se alinhou à candidatura do candidato do PSDB/DEM, o ex-governador de São Paulo José Serra".
5. A mídia de direita, dizendo-se imparcial, foi parcialíssima - eu sei. Mas eis o que Nicolelis teria afirmado, na seqüência: "o que aconteceu no Brasil na eleição passada foi a demonstração da falácia de certos meios de imprensa e do partidarismo que invadiu essa opinião dita imparcial. Mas o desmentido só ocorreu nesse lugar capilarizado chamado blogosfera. A guerra da informação foi travada aí. A eleição foi ganha na trincheira da blogosfera, porque os desmentidos eram instantâneos". Ué?! Então quer dizer que na blogosfera há "imparcialidade"? A trincheira ocupada pela blogosfera foi "parcial" na sua "imparcialidade"? De outro modo, como teria desmentido a mídia? E desmentido em que, se a regra é que não há imparcialidade?
6. Mais adiante, sobre a cidadania representativa, Nicolelis afirma que "a democracia representativa é muito interessante, mas ela faliu, porque o grande objetivo dos representantes dos indivíduos do planeta é representar a si mesmo". Ora, ora, ora - mas se não há imparcialidade, não há como os representantes não representarem senão a si mesmos, porque são, necessariamente parciais - não? Percebem? O axioma não se encaixa - e o correto deveria ter sido denunciar a imparcialidade da mídia, e ter a coragem de afirmar que há, sim, parcialidade possível. Todavia, uma vez que tudo e todos são postos sob o tapete da parcialidade, até a própria palestra de Nicolelis revela-se suspeita - defende que intereses, professor, já que, não havendo parcialidade, também o senhor é parcial?
7. Das duas uma: ou o professor Nicolelis deixou-se levar pela fluidez discursiva do veículo-tema da palestra, ou o repórter que assinou a reportagem misturou alhos com bugalhos. Por exemplo, observe-se a declaração seguinte, atribuída ao professor Nicolelis: "o neurocientista destacou que as redes sociais 'conseguiram fazer as identidades, às quais a gente se apegou tanto, desaparecerem. Você pode assumir o que você sempre quis ser, mas não podia por medo do preconceito. Nós ainda não conseguimos lidar com o fato que as pessoas são de diferentes matizes. As redes têm essa vantagem de permitir que as pessoas possam assumir [suas ideias] livremente'".
8. Como assim - o "eu" subjetivo do sujeito pode ser acintosamente descartado e substituído por um outro qualquer - bem entendido, sem que isso seja uma disfunção psiquiátrica!? O sujeito pode assumir ser quem sempre quis ser - onde? Quando o PC é desligado, essa paranóia permanece? O professor está afirmando que a identidade "fake" que se assume nas redes sociais substitui realmente, de fato, a identidade do sujeito - mesmo depois de desligada a rede? Dizer que as redes têm o poder de permitir que as pessoas assumam suas idéias livremente não é a mesma coisa que dizer que as redes permitem que eu me torne outra pessoa. Quando se faz isso, quando um usuário das redes - coisa que (ainda) não sou - assume uma identidade "falsa", nem de longe isso significa que ele se tornou outra pessoa, que sua identidade desapareceu... Deus do céu - o mundo das redes é virtual! E até o Papa sabe que perfil fake é perfil fake...
9. Quando João, maior de idade, 45 anos, entra num chat e se faz passar por menor, 12 anos, ou qualquer outra coisa, para capturar incautos em uma rede de pedofilia; quando José, mau caráter crônico, aproveitador de mulheres carentes, entra na rede e posa de galã, e tira até a pele de quarentonas solitárias; quando Maria entra na rede e finge ser quem não é, simplesmente para experimentar uma espécie de atavismo - isso nada tem a ver nem com perda de identidade, nem com aquisição de nova identidade - trata-se de manobras muito conscientemente levadas a termo por pessoas mau intencionadas e criminosas, servindo-se da tecnologia.
10. E quando pessoas boas, normais, por pura diversão, brincam de ser o que não são na rede, e, na manhã seguinte, despertam, banham-se, alimentam-se do pão de todos os dias, e entram nos ônibus, rumo ao trabalho, vai aí aquela pessoa que nasceu de um útero preciso, cresceu, construiu sua identidade por força de experiências vitais. A noite acabou, os jogos terminaram, e eis mais uma pessoa viva e concreta jogada na ciranda de viver e manter a vida - tal qual ela é.
11. Não, as redes sociais não substituirão - jamais - as identidades (é meu risco de dizer). Nem quando é um neurocientista a dizê-lo.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(2011/050) Pensar fora do quadrado
1. Não é que eu acredite que se devam educar crianças muito pequenas sem uma base, sem um "quadrado". Ainda que já aí se devam introduzir técnicas didáticas "abertas", que incentivem, desde cedo, a criatividade, penso que não se pode fazer bom trabalho com crianças pequenas sem a implantação de uma base cognitiva, inclusive conteudística. Sem os tijolos, base da criatividade, não se pode, mais tarde, ser criativo - o inconsciente e os curtos-circuitos criativos precisam de comida, bem como de panelas!
2. Mais tarde, todavia, é necessário que se aprenda a sair do quadrado, a pensar fora dos limites impostos pela educação. Nesse caso, a criatividade deve agir sobre os próprios tijolos, sobre as próprias panelas.
3. Um bom exercício, simples, consiste no seguinte. Considere-se a figura abaixo - um quadrado formado pela projeção de quatro pontos (em preto).
4. Pois bem - sua missão é, com apenas três movimentos retos sucessivos, sem que a caneta (ou o mouse) saia(m) do papel (ou da tela), unir, passando necessariamente por eles, todos os quatro pontos. Insisto: você não pode tirar a caneta do papel, e só pode fazer três movimentos (três retas, apenas, três). Sim, tem solução - e simples. E, dica: saia do quadrado!
5. Não se trata de uma mera brincadeira, um jogo, uma curiosidade. Na vida, importa que saibamos "sair do quadrado". A criatividade, muitas vezes, materializa-se pelo desenvolvimento de uma nova forma de fazer coisas antigas. Quantas e quantas vezes cuidamos que seja impossível fazer determinada coisa, e desistimos? Todavia, eventualmente, não se trata de algo impossível, se tentado de outro modo, "fora do (antigo) quadrado"...
6. Perdoem-me, mas não posso deixar de particularizar o caso: a Teologia, por exemplo - teimosa como uma mula, e mais ainda, ela só sabe raciocinar assim: sou metafísica, filha dos deuses, e só sei existir assim, metafísica e no "plano dos deuses"; se eu deixar de ser confessional, de fazer-me no plano da fé, deixo de ser Teologia... Acreditem, esse argumento pulula, como nuvem de insetos, os artigos teológicos dos últimos anos, depois que a Teologia entrou no MEC. Uma vez que ela nasceu mito, cuida que só pode sobreviver assim... Pobre Teologia!... Conversou tanto com anjos, que lhes atrofiaram os neurônios. E tanto tempo habitou seu quadrado, que não consegue sair dele. Nem ela, nem nós, teólogos... E a ironia é que, depois de tanto insistirem para serem contadas, também as teólogas entraram - e não é que igualmente estão perdidas no quadrado das racionalizações da fé?
5. Não se trata de uma mera brincadeira, um jogo, uma curiosidade. Na vida, importa que saibamos "sair do quadrado". A criatividade, muitas vezes, materializa-se pelo desenvolvimento de uma nova forma de fazer coisas antigas. Quantas e quantas vezes cuidamos que seja impossível fazer determinada coisa, e desistimos? Todavia, eventualmente, não se trata de algo impossível, se tentado de outro modo, "fora do (antigo) quadrado"...
6. Perdoem-me, mas não posso deixar de particularizar o caso: a Teologia, por exemplo - teimosa como uma mula, e mais ainda, ela só sabe raciocinar assim: sou metafísica, filha dos deuses, e só sei existir assim, metafísica e no "plano dos deuses"; se eu deixar de ser confessional, de fazer-me no plano da fé, deixo de ser Teologia... Acreditem, esse argumento pulula, como nuvem de insetos, os artigos teológicos dos últimos anos, depois que a Teologia entrou no MEC. Uma vez que ela nasceu mito, cuida que só pode sobreviver assim... Pobre Teologia!... Conversou tanto com anjos, que lhes atrofiaram os neurônios. E tanto tempo habitou seu quadrado, que não consegue sair dele. Nem ela, nem nós, teólogos... E a ironia é que, depois de tanto insistirem para serem contadas, também as teólogas entraram - e não é que igualmente estão perdidas no quadrado das racionalizações da fé?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
PS. Provavelmente, não é a única solução possível; mas deve ser a solução mais fácil e rápida - consulte-a aqui.
(2011/049) Quando os fatos são contundentes e constrangedores
1. Quando decididas a obterem um certo grau de paz civilizatória por meio da supressão dos fundamentos do real, como se o real fosse o culpado pelas desgraças, e como se não tivéssemos aprendido sobre o princípio de realidade e o princípio de prazer, a Filosofia e a Hermenêutica do século XX foram em busca de um bordão - e o encontraram em Nietzsche: "não há fatos, só interpretação de fatos". Voilà... Como soa "inteligente", não? Tanto quanto: "tudo é relativo". Ora, se tudo é relativo, a própria declaração categórica de que tudo é relativo é, por sua vez, relativa, de modo que é relativo dizer que tudo é relativo, do resulta necessário declarar, ao mesmo tempo, que nem tudo é relativo, já que é relativo que tudo seja relativo... A mesma coisa se aplica ao bordão do século XX: se não há fatos, só interpretação de fatos, não é fato, mas interpretação, que não haja fatos, só interpretações, de modo que não é fato que não haja fatos...
2. Os fatos são contundentes - quando eles caem sobre a nossa cabeça, é como aquela pequena poesia do Strunf poeta: "na floresta, no outono, reina o silêncio absoluto: é doce a queda da folha... é dura a queda do fruto...". Sim, dura é a queda dos fatos sobre a cabeça dos desavisados.
3. Por exemplo: fato indiscutível, FHC utilizou-se da estratégia de alterar a Constituição para ganhar um segundo mandato - e, corre à boca miúda (será fato?) que o preço não foi nada barato... O que a mídia diz, hoje, sobre isso? Nada. Nadica de nada. Ele pode. A direita pode. Os sabujos podem. Lula podia ter feito o mesmo, e conquistado um terceiro mandato. Tinha o Congresso a seu lado, o povo, a História. Quanta gente da direita encolheu-se na poltrona, apavorado de que Lula o tentasse - porque, se tentasse, levava. Mas Lula não o fez. Entrou e saiu. Fato. Todavia, quem é que está disposto a levar os fatos em consideração? Certamente não a Filosofia, a Política e a Hermenêutica que vêm nos fatos empecilhos à retórica...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
sábado, 29 de janeiro de 2011
(2011/048) De uma certa "teologia crítica" como "guerra de deuses"
1. É preciso dar-se toda atenção ao sentido com que as palavras são empregadas - sejam quais forem. Nem sempre elas significam o que pensamos que significam. As palavras não têm suas patentes registradas, de modo que cada qual as pode usar do modo como lhe convém - e, assinale-se, nisso não há qualquer impropriedade.
2. Nos dicionários, as palavras têm os sentidos que historicamente receberam. Nenhuma palavra é ontologicamente unívoca. Quero dizer, não é próprio de nenhum sentido ser expresso por apenas uma palavra, nem é próprio de nenhuma palavra expressar um único sentido. Mesmo os códigos "fechados" podem ser quebrados e abertos, alegorizados, deslocados. Qualquer um pode pegar qualquer palavra e fazer dela o que deseja sua intenção. É sempre alguém que inventa tanto uma determinada palavra quanto o sentido que ela terá - até que um segundo lhe acrescenta outro sentido, um terceiro, outro, e ninguém mais controla a infinita correição dos sentidos possíveis.
3. E também não importa se duas palavras se articulam numa expressão - também as expressões podem ser veículo de muitos sentidos. João usa-as para dizer xis, José, ypsilom. E o mesmo se dá com textos, que, lidos por José ou João, podem soar aos ouvidos deles como coisas diferentes. "Leitura criativa"...
4. Todavia, o uso que João faz de uma palavra, de uma expressão ou de um texto, escrevendo-os, é um uso "único" - João pensa em xis, e usa determinada palavra, expressão ou texto para dizer esse xis que ele deseja dizer. A polissemia não constitui característa da intenção comunicativa, mas do seu veículo.
5. Veja-se o caso, por exemplo, da expressão "Teologia crítica". Eu a uso no sentido de uma Teologia que rompe com a perspectiva clássica da Teologia - revelada, dogmática, normativa, "no plano de Deus", para referir-me ao modo próprio da Teologia, nos termos que assim a define um eminente cientista da religião... Teologia crítica, para mim, é a Teologia que desceu definitivamente para a terra, abandonou a pretensão dos anjos, tornou-se surda para as coisas metafísicas e divinas e converteu-se ao jogo das Ciências Humanas. Teologia crítica, pois, é, para mim, uma nova Teologia, em oposição a todas as anteriores, desde Platão a Tillich, para mim, o último - em todos os sentidos - representante da escola clássica.
6. Todavia... É fácil encontrar no Oráculo - logo, na literatura teológica - a expressão Teologia crítica como outra coisa. Seu uso diferenciado do meu é legítimo, e contra isso nada posso dizer. Mas posso descrevê-lo, e tecer considerações sobre seu conteúdo - do qual divirjo.
7. Nessa literatura teológica, Teologia crítica é a Teologia clássica (mas) que faz críticas ao "sistema". Ou seja, ela é "profética" - é contra o neoliberalismo. Essa Teologia crítica é uma soma de Francisco de Assis e Paulo Freire, Karl Marx e Amós. Ela é "política", no sentido de que se põe em público para denunciar os deuses da Modernidade, da Pós-Modernidade, do Capitalismo, da Globalização, do Neoliberalismo. Numa palavra: ela é a velha Teologia, quando e se faz críticas político-sociais aos sistemas político-sociais que ela julga injustos e opressores. E eu não diria que não o são...
8. Nada contra o fato de essa Teologia ser de "esquerda". Se o termo "esquerda" vale para alguém que reflete nos limites do "gabinete", e o máximo que faz, em termos públicos, é espalhar postagens e artigos assim posicionados, então também sou de esquerda, e, nesse caso, ideologicamente afinado com a Teologia crítica enquanto "voz teológica" profética. Entretanto, não posso, honestamente, fazer qualquer distinção entre ela, enquanto sistema teológico, e a Teologia de Ratzinger, por exemplo.
9. Em termos políticos, vá lá, há quilômetros de distância entre a Teologia da Libertação, por exemplo, e a Opus Dei. Em termos epistemológicos, todavia, são a mesma coisa, a expressão do mesmo modus operandi - expressões culturais, políticas, tornadas por si mesmas em expressões da "verdade divina", e pronunciadas, ambas, com o phatos da revelação. Ou seja, a Teologia crítica só é crítica porque critica o "sistema", empregando para isso valores éticos não-necessariamente teológicos, marxistas, até. No entanto, não é crítica, no sentido epistemológico, mas é a mais antiga das expressões da Verdade - o mito, a retórica religiosa, do que depende, sobretudo, que todos aceitem o jogo, sem o denunciar.
10. Mas eu denuncio. Não há diferença epistemológica entre a Teologia-de-esquerda e a Teologia-de-direita. Há-o, evidentemente, do ponto de vista político. Do ponto de vista epistemológico, insisto, não. O fato de o campo de batalha da Teologia crítica ser o sistema, o status quo, a põe em conflito com o próprio "Deus", que a anima, mas, agora, enquanto articulado não mais por ela mesma, a Teologia crítica, de esquerda, mas pelos operadores do sistema, eles, de direita - contemplando o campo de batalha, observam-se os deuses "irmãos" em plena batalha pelo controle da gestão pública, pelo destino, pela sociedade, pela justiça, pelo futuro. É, todavia, o mesmo "Deus", em paranóia, o mesmo fenômeno - tão somente tornado evidente como cabo de guerra entre homens da mesma espécie de fé.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(2011/047) Não se trata de pôr "Deus" contra "Deus"
1. Antecipo um questionamento. Por que a crítica teológica aos fundamentos da Teologia cristã? Por que não simplesmente apontar onde ela está errada e onde ela está certa? Dizendo de outro modo - por que pôr em cheque o estatuto da própria Teologia, denunciando-a como artifício retórico, em lugar de tão-somente corrigir seus equívocos e indicar, profética e/ou pastoralmente, as "verdades verdadeiras" da Teologia, separando, assim, o joio do trigo?
2. A resposta me parece muito simples, e relativamente óbvia - deveria ser óbvia a todo teólogo, mas não é, e, se for, pior, porque a atitude do conjunto dos teólogos não o revela. Não se trata de alguém com melhor acesso a "Deus" e às "verdades de 'Deus'" corrigir os erros daqueles que se consideravam, então, os portadores da voz de "Deus". Isso fazem entre si os teólogos eclesiásticos, batistas contra presbiterianos, por exemplo, que, se em público se comportam mais ou menos amistosamente, em seus conventículos catequéticos garantem, jurando sobre a Bíblia, que a verdade é a sua, e que o outro está errado, é herege e vai penar por isso. Pobres teólogos que somos, presos na teia de aranha do dogma e da política de Igreja, tendo de mentir... para nós mesmos, porque esse é o nome do jogo. Triste dia o dia de fazer Teologia...
3. Não há quem possa dizer qualquer coisa segura e garantida sobre "Deus". Nem o papa, nem o Presidente da CBB, nem o Patriarca de Constantinopla, nem quem se assenta na cadeira de Pedro, em Londres, nem Bush ou Obama. Não há. Todos os discursos que se arrogam em portadores de verdades divinas são humanos, seus conteúdos, humanos, suas verdades, humanas, suas mentiras, humanas, suas virtudes, humanas, seus pecados, humanos. Quando sobem, batem no teto e voltam, e se a platéia sente comixões, eis aí um espetáculo que igualmente se dá em outras religiões - em todas, porque, nesse sentido, são fenômenos psicológicos, subjetivos e de massa.
4. Assim, eu cairia num equívoco tremendo, imperdoável, se julgasse que podia contradizer a Teologia a partir de "Deus". Nem defendê-la, nem contradizê-la. Por isso não empunho o discurso de "Deus" para criticar a Teologia. Empunho a perspectiva humana, das Ciências Humanas, seu jogo, sua epistemologia, porque é o mais honesto a se fazer, nesse campo. Se não já a única coisa honesta...
5. Não se trata de selecionar verdades teológicas dentre mentiras teológicas, como quem cata feijões à frente do Jornal Nacional. Trata-se de denunciar que todo o conteúdo - sem exceção alguma - das Teologias, de todas as Teologias, cristãs e não-cristãs, tem caráter epistemológico humano - e nada além disso.
6. Penso, sinceramente, que a sanidade teológica começa aí. E a honestidade teológica também.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. A resposta me parece muito simples, e relativamente óbvia - deveria ser óbvia a todo teólogo, mas não é, e, se for, pior, porque a atitude do conjunto dos teólogos não o revela. Não se trata de alguém com melhor acesso a "Deus" e às "verdades de 'Deus'" corrigir os erros daqueles que se consideravam, então, os portadores da voz de "Deus". Isso fazem entre si os teólogos eclesiásticos, batistas contra presbiterianos, por exemplo, que, se em público se comportam mais ou menos amistosamente, em seus conventículos catequéticos garantem, jurando sobre a Bíblia, que a verdade é a sua, e que o outro está errado, é herege e vai penar por isso. Pobres teólogos que somos, presos na teia de aranha do dogma e da política de Igreja, tendo de mentir... para nós mesmos, porque esse é o nome do jogo. Triste dia o dia de fazer Teologia...
3. Não há quem possa dizer qualquer coisa segura e garantida sobre "Deus". Nem o papa, nem o Presidente da CBB, nem o Patriarca de Constantinopla, nem quem se assenta na cadeira de Pedro, em Londres, nem Bush ou Obama. Não há. Todos os discursos que se arrogam em portadores de verdades divinas são humanos, seus conteúdos, humanos, suas verdades, humanas, suas mentiras, humanas, suas virtudes, humanas, seus pecados, humanos. Quando sobem, batem no teto e voltam, e se a platéia sente comixões, eis aí um espetáculo que igualmente se dá em outras religiões - em todas, porque, nesse sentido, são fenômenos psicológicos, subjetivos e de massa.
4. Assim, eu cairia num equívoco tremendo, imperdoável, se julgasse que podia contradizer a Teologia a partir de "Deus". Nem defendê-la, nem contradizê-la. Por isso não empunho o discurso de "Deus" para criticar a Teologia. Empunho a perspectiva humana, das Ciências Humanas, seu jogo, sua epistemologia, porque é o mais honesto a se fazer, nesse campo. Se não já a única coisa honesta...
5. Não se trata de selecionar verdades teológicas dentre mentiras teológicas, como quem cata feijões à frente do Jornal Nacional. Trata-se de denunciar que todo o conteúdo - sem exceção alguma - das Teologias, de todas as Teologias, cristãs e não-cristãs, tem caráter epistemológico humano - e nada além disso.
6. Penso, sinceramente, que a sanidade teológica começa aí. E a honestidade teológica também.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(2011/046) Tanto trabalho... para nada: breve narrativa irônica sobre histórias que catequistas contam
1. Eis a história, conforme ma contaram os catequistas. "Deus" criou o homem bom. Depois, criou a mulher igualmente boa. Alguns catequistas, mais ciosos das hierarquias teológicas, chegam a especular que, talvez, dado o fato de o homem ter sido criado da terra, e a mulher, do homem, sendo a mulher uma espécime de, digamos, segunda geração, seria, então, menos pura - mas, ainda assim, pura. Registre-se, é um dado importante: aos catequistas, é imperioso que a criação do homem e da mulher se dê como seres puros, porque é o caráter de "Deus" que, em última análise, está em jogo. Os homens e as mulheres são meros "peões" - na Teologia, o que conta é "Deus". Se todos os homens e mulheres desaparecem, mas "Deus" permanece, teologicamente, é um bom resultado...
2. Por alguma razão que a Teologia não consegue explicar, tão-somente racionalizar, no que ela é sempre muito bem-sucedida, a serpente não era lá tão boa, o que, todavia, deixa uma porta escancarada para especulações legítimas sobre a morada do mal no coração da própria divindade, o que se evitará, certamente, racionalizando-se uma co-existência eterna entre o-que-quer-que-seja-a-serpente, de um lado, e, do outro, "Deus". Assim, se o "mal" (mas, alto lá, em Gênesis não é o "mal" - advérbio -, mas é o "mau", adjetivo) constitui uma emergência dentro da esfera divina, não há como reputá-lo a nada que não o próprio "Deus". Para evitar essa, digamos, "culpabilização" de "Deus", só tornando o "mal" alguma coisa ontologicamente equivalente - um segundo "Deus", digamos, como o queria o zoroastrismo, ou o final da poesia de O Trem das 7, de Raul Seixas.
2. Por alguma razão que a Teologia não consegue explicar, tão-somente racionalizar, no que ela é sempre muito bem-sucedida, a serpente não era lá tão boa, o que, todavia, deixa uma porta escancarada para especulações legítimas sobre a morada do mal no coração da própria divindade, o que se evitará, certamente, racionalizando-se uma co-existência eterna entre o-que-quer-que-seja-a-serpente, de um lado, e, do outro, "Deus". Assim, se o "mal" (mas, alto lá, em Gênesis não é o "mal" - advérbio -, mas é o "mau", adjetivo) constitui uma emergência dentro da esfera divina, não há como reputá-lo a nada que não o próprio "Deus". Para evitar essa, digamos, "culpabilização" de "Deus", só tornando o "mal" alguma coisa ontologicamente equivalente - um segundo "Deus", digamos, como o queria o zoroastrismo, ou o final da poesia de O Trem das 7, de Raul Seixas.
3. O fato é que, no mito, a serpente põe as asinhas pra fora. Primeiro, cai a mulher: o que faz sentido, já que o mito se escreve em cultura patriarcal. Depois, cai o homem, o que faz sentido, porque os homens fazem quaisquer bobagens mesmo por conta de um rabo de saia... Apesar de que, então, saia não havia, razão pela qual compreende-se a muito rápida queda de Adão... Fosse uma história real, e, ao sair do Éden, ele teria dito a Eva, piscando um olho: Mas que valeu a pena, valeu... Todavia, o que os sacerdotes-escritores-redatores queriam com a história era outra coisa, de modo que a história termina como seus autores deseja(va)m que termine, como de resto, todas as histórias escritas por escritores.
4. Os catequistas, então, me contam que "Deus" decide regularizar a situação decorrente da queda do casal primitivo. Vai dar um trabalho danado. Primeiro, convencer-nos de que a raça humana é imprestável. Deixá-los reproduzirem-se aos milhões, e, então, afogar a todos, exceto um - que assim se contam famílias, então: o "pai". Depois, dos descendentes deste, escolher um - Abraão, e, daí, fazer um povo, e daí, encarnar nele, e daí, morrer. Os catequistas me disseram, então, que essa morte resolve aquele pecado de Adão, e eu devo, então, aceitar duas coisas - primeiro, que devo satisfações a Adão, e, segundo, que a morte de "Deus" resolve essa situação embaraçosa. Recordo-me de ter perguntado aos catequistas porque eu não preciso aceitar o pecado de Adão, que me mata, mas tenho que aceitar a cura que Deus providencia, e se essa diferença não traduzia que Adão era mais eficiente no "mal" do que "Deus" no "bem", mas os catequistas me disseram que as coisas reveladas são para os homens, e as ocultas, não... Mas eu fiquei pensando, escondido, se a cura não devia ser automática e universal, tanto quanto o veneno da serpente... Essas histórias...
5. Mas eu falava da morte de "Deus" e a cura para o Éden. Resolvida a questão, o céu se abre. É verdade, entretanto, que, entre o céu propriamente dito, e minha vida atual, há um tempo a transcorrer - que Paulo considerava, inicialmente, ser breve, mas que, à medida que demorava, revelou-se que ia, mesmo, demorar, como demora até hoje... E, então, no meio desse tempo que transcorre, revela-se que, se a "culpa" foi resolvida, o resultado dela, não, porque os homens e as mulheres que permanecemos aqui, mesmo "salvos", somos aquelas mesmas porcarias que éramos, e que seremos, até que entremos no céu.
6. No céu, aí sim , será diferente. Por exemplo: lá só haverá salvos e "Deus" e anjos - e alguma garantia ainda não explicitada de que, dentre esses anjos, não surja outro Senjaza... Ora, se cá embaixo, as mulheres e suas curvas já assanharam os anjos antigos, quanto mais, lá, as belas mulheres, em coreografias no altar de "Deus", não excitará os novos anjos? Sei não... Seja como for, é o que os catequistas me dizem: salvos, "Deus" e os anjos. Mais nada. Nem lembrança. Não lembaremos dos amigos e parentes queimando no inferno, e, consideremos sempre as hipóteses, se lembrarmos, sentiremos um sentimento bom, de justiça, quase, um "coitados, mas bem-feito". Eu confesso que não entendo como se pode dizer que haverá, ao mesmo tempo, memória e felicidade no céu...
7. Além de amnésia, haverá canções - só canções. Digamos assim: se fossem os batistas da década de oitenta cantando, até ia. Mas imaginem, com todo respeito, cantores gospel das rádios evangélicas cariocas! Pelo-amor-de-Deus, saio imediatamente! Talvez os grandes compositores dos séculos de ouro dos clássicos estejam lá - e, então, talvez haja bolsões de tolerância sonora, mas se forem os funks pra Jesus, os pagodes de Deus, os rocks do Espírito Santo, sinceramente... Todavia, seja como for, quem acha que aguenta 24 horas por dia de... música?
8. E o que é melhor - ou pior? - não haverá mais pecado. Até o momento em que você entra, você carrega um corpo morto sobre as costas - como o disse Paulo. No instante em que você entra, ele cai, como o casulo da borboleta. E, aí, reside o problema... Será um ser-humano uma criatura que não pode... pecar? Será um representante da "Humanidade" uma criatura controlada por dentro, ética e moralmente, de modo que não tem mais o senso de escolha? Será que, no fundo, no fundo, a explicação para o "pecado" de Adão e Eva - "Deus criou-nos com o direito de escolher" - não terá qualquer validade na racionalização do céu? E se, a despeito do absurdo da racionalização, no céu não seremos mais "livres", porque cargas d'água já não ter criado Adão e Eva, assim, sob "controle", e evitar, assim, a desgraça da História? Os catequistas mudaram de assunto, mais uma vez...
9. Da forma como os catequistas me contaram, não vejo muito sentido na coisa. No início, sim, porque, sob o efeito hipnótico e normativo das catequeses, você crê em qualquer coisa que lhe contam, por mais estapafúrdia que seja. Todavia, em alguns casos, você pára para pensar, mais tarde, e chega à conclusão de que são histórias de fanfarrões... Essa racionalização do mito platônico, ops, paulino, não me parece fazer qualquer sentido, ao menos à luz da afirmação de que "Deus" criou homens sujeitos ao pecado, porque queria que fossem dotados de liberdade, quando, no final da história, serão lobotomizados num céu gospel... Digamos assim: "Deus" queria homens e mulheres, não antas, já que não dá pra conversar com uma anta, e "Deus" queria, no fundo, era ter com quem conversar. Entretanto, no final das contas, no céu seremos, se não antas, robozinhos-primatas... Não faz sentido, faz? Ou será que, depois do céu, teremos Éden II - a missão?
10. Felizmente, isso é o que os catequistas me contaram. A história que os catequistas contam não faz sentido. Mas é a história dos catequistas. Eventualmente - quem sabe? - a história seja bem outra. E, então, chego à conclusão de que me parece mais prudente aguardar que Deus ma conte, pessoalmente, quando e se a contar. Porque, cá entre nós, esses catequistas...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(2011/045) Sobre Tunísia, Egito e coisas que se dizem muito rápida e facilmente
1. Como entramos na temporada das coisas ditas para vender telejornalismo - e, agora também, blogpostalismo - uma enxurrada de declarações sobre as causas das "revoluções" na Tunísia e no Egito foi canalizada para um leito curioso: creditam-se as duas reações populares às redes sociais e ao twitter - isto é, à Internet. Pode ser. Mas eu duvido.
2. Não acredito que a Internet, via redes sociais e twitter, tenha sido a "causa" desses episódios, um dos quais ainda se desenrola enquanto escrevo. No Iêmen, parece que se ensaia um outro. O Joelmir Beting, anteontem, já afirmava, célere - e precipitado, sob meu juízo -, que, por causa dessas redes sociais e twitteres da vida, até 2020 - sim, dentro de uma década!, já não exitirão ditaduras no mundo... Professores de faculdades estadunidenses já anunciam que Irã, Rússia e Sri Lanka são candidatos fortíssimos a caírem no alçapão da revolução cibernética - isso em cinco anos!
3. Por outro lado, nem todo mundo crê na relação direta entre essas "revoluções" e aquelas redes - por exemplo, "As redes sociais e mais uma revolução que nunca houve". Permito-me acrescentar-me a essa lista eventualmente menor. Tão logo ouvi as notícias, desconfiei delas, tanto quanto desconfiei imediatamente da "barriga" que certamente se dava no caso do cão que não saía de perto da cova da dona morta na tragédia da Região Serrana do Rio - a avalanche de notícias a respeito punha à mostra a incompetência jornalística de que estamos cercados, e apela ao sensacionalismo que anima, de um lado, a mídia, e, de outro, o público, na era dos BBB e dos Datenas e dos Montes.
4. Não se trata de uma afirmação "científica". Não tenho como desmintir cientificamente as declarações, reportagens, blogpostagens. Trata-se de uma opinião, de uma hipótese - que até pode ser testada e falseada. Em si, a hipótese é científica. Na forma em que a apresento aqui, não. Mas alguém pode reconstruir cada momento dessas revoluções e verificar o que é, afinal, que aconteceu por trás das câmeras.
5. Para encerrar, um breve comentário político: a mídia brasileira cai de pau em cima de Lula por causa de sua relação com o Irã. Ora, ora, ora - os Estados Unidos "investem" bilhões - bilhões! - de dólares anualmente no governo do Senhor Mubarak, o "faraó" egípcio, que está no poder há 30 anos, e o que é que você escuta dessa mídia sem-vergonha? Nada. Pelo contrário - correm a nos fazer ouvir preocupadíssimas manifestações da Sra. Clinton. As reações populares do Irã foram tratadas com desejo iconoclasta de queda do Governo local - as do Egito, com trêmulos joelhos. Mídia bandida, mídia vendida - uma desmídia. Uma vergonha...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Não acredito que a Internet, via redes sociais e twitter, tenha sido a "causa" desses episódios, um dos quais ainda se desenrola enquanto escrevo. No Iêmen, parece que se ensaia um outro. O Joelmir Beting, anteontem, já afirmava, célere - e precipitado, sob meu juízo -, que, por causa dessas redes sociais e twitteres da vida, até 2020 - sim, dentro de uma década!, já não exitirão ditaduras no mundo... Professores de faculdades estadunidenses já anunciam que Irã, Rússia e Sri Lanka são candidatos fortíssimos a caírem no alçapão da revolução cibernética - isso em cinco anos!
3. Por outro lado, nem todo mundo crê na relação direta entre essas "revoluções" e aquelas redes - por exemplo, "As redes sociais e mais uma revolução que nunca houve". Permito-me acrescentar-me a essa lista eventualmente menor. Tão logo ouvi as notícias, desconfiei delas, tanto quanto desconfiei imediatamente da "barriga" que certamente se dava no caso do cão que não saía de perto da cova da dona morta na tragédia da Região Serrana do Rio - a avalanche de notícias a respeito punha à mostra a incompetência jornalística de que estamos cercados, e apela ao sensacionalismo que anima, de um lado, a mídia, e, de outro, o público, na era dos BBB e dos Datenas e dos Montes.
4. Não se trata de uma afirmação "científica". Não tenho como desmintir cientificamente as declarações, reportagens, blogpostagens. Trata-se de uma opinião, de uma hipótese - que até pode ser testada e falseada. Em si, a hipótese é científica. Na forma em que a apresento aqui, não. Mas alguém pode reconstruir cada momento dessas revoluções e verificar o que é, afinal, que aconteceu por trás das câmeras.
5. Para encerrar, um breve comentário político: a mídia brasileira cai de pau em cima de Lula por causa de sua relação com o Irã. Ora, ora, ora - os Estados Unidos "investem" bilhões - bilhões! - de dólares anualmente no governo do Senhor Mubarak, o "faraó" egípcio, que está no poder há 30 anos, e o que é que você escuta dessa mídia sem-vergonha? Nada. Pelo contrário - correm a nos fazer ouvir preocupadíssimas manifestações da Sra. Clinton. As reações populares do Irã foram tratadas com desejo iconoclasta de queda do Governo local - as do Egito, com trêmulos joelhos. Mídia bandida, mídia vendida - uma desmídia. Uma vergonha...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
(2011/044) Da "criação" como idiossincrasia da dimensão humana
1. Existimos, vivemos, estamos-aí, nessa faixa de existência, de vida, de estar-aí - nessa, precisamente, e não em outra. Não estamos situados nem no muito pequeno, nem no muito grande, nem no reino atômico, e daí para baixo, nem no reino planetário, e daí para cima. É aqui, nessa faixa "média" - mas, será mesmo "média"? - que nos encontramos. E, convenhamos, não sabemos quantas faixas há para cima, nem quantas faixas há para baixo. Sabemos, sim, é que há a nossa faixa de existência, e faixas acima e abaixo...
2. Foi quando começamos a criar coisas, a fabricar coisas - instrumentos, equipamentos, casas, sobretudo casas e vilas, e disso ter "consciência" - ações construtivas conscientes e conscientes de que são ações intencionais - que passamos a aplicar também ao "cosmo", nossa "casa", essa perspectiva: assim como criamos coisas em "nossa casa", alguém deve ter criado isso sobre o que, agora, nós criamos. Eu crio o instrumento de pedra, mas alguém deve ter criado a própria pedra... Eu crio a casa sobre a colina, mas alguém deve ter criado a colina... Eu crio o barco sobre o rio, mas alguém deve ter criado o próprio rio...
3. Evidentemente, não se percebeu a operação de fundo: o fato de aplicar-se ao "cenário" o critério antropológico (a rigor, biológico-vital) de "criação" - Homo faber - constitui um possível vício antropológico, que consiste em presumir que, se na faixa de existência em que eu vivo, eu crio coisas, logo, a própria faixa de existência em que eu vivo deve ter sido criada por alguém. Assim como eu, vivendo, crio coisas nesse mundo em que eu vivo, casas, vilas, barcos, alguém, vivendo em seu mundo, cria, intencionalmente, esse mundo em que agora vivo. Todavia, não é necessariamente verdadeira a inferência...
4. Talvez haja no muito pequeno alguma forma de existência que, afinal, seja não-criada e não-destruível, ab-aeterna, em que não se aplique os critérios de "fabricação" - intencional - próprios do meu mundo, de minha forma de existir, de minha faixa de existência, e que se transforme continuamente, numa progressão e evolução aberta infinita. Teria sido nossa consciência de que nós criamos coisas que teria aplicado à dimensão total da vida o conceito de criação, de modo que somos tomados pelo phatos de perguntar pela "origem" de todas as coisas, eventualmente pelo fato de que nós temos uma origem (um parto) e damos origem a muitas coisas - nossas cidades... Todavia, pode consistir essa operação em uma neurose, semelhante àquela de aplicar intencionalidade à natureza, porque somos atores intencionais...
5. Bem, talvez a criação seja uma operação não intencional do próprio Universo, de modo que nós fomos fruto desses processos dinâmicos de destruição e criação - transformação. Todavia, no fundo, tratar-se-ia tão somente da transformação do mesmo em outra coisa, mantida, no fundo do saco, a mesma substância, mas, à medida que se "sobe", percebem-se estruturas cada vez mais diversas, resultado de infinitas articulações e organizaçãoes daquela substância fundamental.
6. Nesse sentido, o que a nossos olhos parece "criação" consistiria no resultado de operações físicas próprias do que seja exatamente o Universo, e nós, a nosso modo, "criadores", projetamos no Universo a intencionalidade orgânica e intencional de nossos atos de criação. O que seria uma ironia, porque, apesar de projetarmos nossa intencionalidade e personalidade no Universo, nós é que seríamos a personificação inusitada das operações não-intencionais da dinâmica da matéria. Talvez, nesse caso, as teorias estruturalistas sejam exatamente o inverso das doutrinas personalistas - ou o sujeito personifica a matéria, ou é teoricamente despersonificado. Talvez seja a hora de aprendermos a pensar o próprio de cada dimensão, considerando o que passa de uma dimensão para outra, e o que é próprio de cada uma. Talvez seja apenas na nossa dimensão que exista isso a que chamamos consciência e intencionalidade... Talvez...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(2011/043) Do "ser psicológico" que somos
1. "Eu" - quem é esse? A sua referência tende a remeter à alma, una, completa, simples, transcendente... A dessacralização, ou, digamos, a desmitologização da alma, não impede, todavia, a manutenção de uma perspectiva unitária sobre esse "eu" - seja cartesiana, "penso, logo existo", seja schopenhaueriana e seu "homem" pan-volitivo - de um lado, tudo é cognição, de outro, tudo é vontade... Mas nem a cognição, nem a vontade, nem qualquer outra "faculdade" desse "eu" pode sustentá-lo. Se me permitirem uma metáfora neotestamentária, uma referência, eu diria que "eu" é "multidão"...
2. O "eu" emerge das profundezas do cérebro: o "eu" espreme-se entre as circunvoluções desse órgão absurdamente complexo. Mas não emerge "dele". Emerge de uma série de estruturas que "nele" se articulam e o configuram. O "eu" não parece estar em nenhum lugar específico desse órgão, mas emerge de cada e de todo lugar que o constitui.
3. Além disso, "eu" é o resultado de atividades orgânicas, hormonais, químicas, elétricas. físicas. Qualquer disfunção em qualquer dessas estruturas constitutivas da condiçlão de emergência do "eu" e alguma coisa reverbara nesse "eu" - seja uma depressão, seja sua absoluta extinção.
4. Esse "eu" emerge, ainda, como uma tríade de dimensões de abrangência do real - afeição (hierarquização do real), volição (apropriação do real) e cognição (mapeamento do real). Se uma das dimensões sofre disfunção, a disfunção reverbera no "eu". O "eu" pisa sobre muitos fundamentos, depende de todos, de cada, e não se reduz a nenhum - isoladamente...
5. Todavia, o mais extraordinário é que esse "eu" não se reduz a um produto biológico desse órgão. O "eu" retroage sobre o órgão que faculta a sua emergência, e interfere em sua própria formação e construção - é o "eu", em sua fase infantiul, infanto-juvenil e juvenil o responsável pela fixação das sinapses - estruturas físico-químicas!, de sorte que o "eu" - imaterial - "molda" a própria matéria, recursivamente. São as vivências do "eu" as artesães da estrutura sináptica do cérebro do qual o "eu" emerge... Fantástico!
6. Não se pode reduzir o "eu" à biologia - mas não se pode - mais - pensar o "eu" de forma não-biologicamente articulada. E mais do que isso - a dicotomia corpo e alma, matéria e espírito, bem, chegamos à conclusão de que não faz o menor sentido. Enquanto durou, era fruto de uma grosseira incompreensão da vida humana, seja do cérebro, seja da psiquê. Hoje, quando perdura, das duas uma: constitui resquício, ainda, de ignorância, ou, no outro extremo, adesão cega a dogmas não apenas religiosos, mas, no final das contas, também filosóficos...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(2011/042) Superman e Super-herói - quase chego a achar que a versão, com Júnior, chega a ser melhor do que a "original"
1. A primeira vez que ouvi Super-herói, com Júnior, estava justamente aqui, em Vitória, em um hotel, por volta das três da manhã, numa crise de insônia. Dava aulas no Mestrado (livre) do CETEBES, então. Curiosamente, ontem, ouvi na 92,5 (Antena Um), em Vitória, de novo, a versão "original", do Five for Fighting - Superman - que eu desconhecia. Muito linda...
2. A versão que Júnior (e Sandy) cantam me parece melhor - transformou-se uma letra sobre a crise existencial do Superman em uma letra que fala, agora, da crise - mais natural - das "celebridades". Essa versão me comove bastante - se é que não me "deprime". Gosto. Agora, de ambas... Talvez Júnior, em sua fase solo, pudesse regravar esse hit. Ficou muito bem "nele"...
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
(2011/041) Condenar a "Igreja", salvar o "povo", salvar a Bíblia: será que entendi direito?
1. Deixem-me ver se entendi... Usamos a "teologia do pecado original" para condenar o povo a um eterno estado de desgraça e culpa. Nisso que fazemos, pecamos, porque utilizamo-nos de uma dimensão teológica para justificar a exclusão que o "mundo" - naturalmente - faz das pessoas pobres e periféricas - da mesma forma como se fazia, então, há dois mil anos, contra cuja situação Jesus se teria insurgido evangelicamente... É isso? Entendi bem a primeira parte?
2. A segunda parte é: precisamos reverter a situação desse povo oprimido e desgraçado, ainda mais desgraçado por nosso gesto de impertinência teológica, que aplica a ele, já sofrido, a canga dessa teologia. O verdadeiro evangelho é o acolhimento dos excluídos, não sua condenação... É isso?
3. Na seqüência, vejam se eu entendi mesmo: malgrado a "Igreja" empregar contra os excluídos a "teologia do pecado original", em tese, "bíblica", na própria Bíblia, entretanto, essa "teologia" não tem, não, essa carga "perversa" - lá, ela serve tão somente para demarcar a distância ontológica entre o Criador e a criação... É isso mesmo? Foi isso que entendi: foi isso que se disse?
4. Bem, julgando que eu tenha entendido direito: não se pode "defender" a fonte da contaminação, se o que se quer é a defesa dos contaminados. Ainda que o desdobramento teológico do "pecado original" seja uma façanha cristã, uma amálgama de Gn 2-3 com Platão, não há qualquer possibilidade de converter a base escriturística sobre a qual essa catedral se ergue em uma espécie de tratado filosófico... Não. Gn 3 constitui instrumento de marca teológica sobre o campesinato, de resto, a população judaica, não para estabelecer uma "distinção ontológica entre Criador e criatura", mas para, político-religiosamente, fazê-lo crer tratar-se de ele mesmo um povo mau, digno de morte, cuja alternativa é o sacrifício sacerdotal no Templo - em poucas palavras, manipulação mítica de gente submetida ao poder do Templo. A narrativa é tão má, na origem, quanto seu uso "cristão" posterior, que nele se sustenta.
5. Posso estar totalmente equivocado, mas não acredito em correção da tragetória cristã, se, para a tentativa, evitamos tratar as coisas como são. Não é possível desincriminar os textos bíblicos originais - há maldades ali, perpetradas programaticamente contra gente como nós, leigos, mormente por sacerdotes. Enquanto não tivermos a coragem de dizer, nós mesmos, cristãos, o grau de maldade desses textos, e, assim prover meios de defesa da gente oprimida pelo uso que desses textos se faz, não sairemos de uma retórica para alívio de consciência, mas inútil, inescapavelmente imprestável, porque, a cada domingo, esses mesmos textos serão lidos com a mesma e bovina ingenuidade milenar - e, já disse o sumamente entendido Edgar Morin, enquanto nossos espíritos não entenderem, estaremos desarmados...
6. Leio a Bíblia sem rodeios. Para mim, ela é uma biblioteca de textos "bons" e "maus". Há textos ali do tipo "faça isso" e textos do tipo "não faça isso", mas não há manual. Há vezes em que ele mesmo diz de si, "faça isso", mas, se você não quer ferir ninguém, ser um bom homem - mulher -, cidadão, pai, não faça - desobedeça. E há textos que dizem de si "não faça", mas, pelas mesmas razões, desobedeça - se desejar, faça. Não são as próprias determinações desses textos a minha chave - mas um outro texto, uma outra determinação, dessa mesma biblioteca - tudo quanto queres que seja feito a ti, faça ao teu próximo. Meus amigos, se aplicarmos essa "lei" em nosso dia a dia, 90% do que fazemos, na condição de "cristãos", torna-se imprestável e - imediatamente - mau, porque detestaríamos que fizessem conosco a esmagadora parte do que fazemos aos outros.
7. Não negocio: ler a Bíblia com olhar ético, e, sem piedades dissimuladas e nocivas, reduzi-la a seu discurso intencional, muitas vezes mau. Só assim poderemos lidar com ela com sanidade. De outro modo, serviremos de cabo de transferência das mesmas maldades sacerdotais de então... E sempre em nome Dele, para maior glória de Deus...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. A segunda parte é: precisamos reverter a situação desse povo oprimido e desgraçado, ainda mais desgraçado por nosso gesto de impertinência teológica, que aplica a ele, já sofrido, a canga dessa teologia. O verdadeiro evangelho é o acolhimento dos excluídos, não sua condenação... É isso?
3. Na seqüência, vejam se eu entendi mesmo: malgrado a "Igreja" empregar contra os excluídos a "teologia do pecado original", em tese, "bíblica", na própria Bíblia, entretanto, essa "teologia" não tem, não, essa carga "perversa" - lá, ela serve tão somente para demarcar a distância ontológica entre o Criador e a criação... É isso mesmo? Foi isso que entendi: foi isso que se disse?
4. Bem, julgando que eu tenha entendido direito: não se pode "defender" a fonte da contaminação, se o que se quer é a defesa dos contaminados. Ainda que o desdobramento teológico do "pecado original" seja uma façanha cristã, uma amálgama de Gn 2-3 com Platão, não há qualquer possibilidade de converter a base escriturística sobre a qual essa catedral se ergue em uma espécie de tratado filosófico... Não. Gn 3 constitui instrumento de marca teológica sobre o campesinato, de resto, a população judaica, não para estabelecer uma "distinção ontológica entre Criador e criatura", mas para, político-religiosamente, fazê-lo crer tratar-se de ele mesmo um povo mau, digno de morte, cuja alternativa é o sacrifício sacerdotal no Templo - em poucas palavras, manipulação mítica de gente submetida ao poder do Templo. A narrativa é tão má, na origem, quanto seu uso "cristão" posterior, que nele se sustenta.
5. Posso estar totalmente equivocado, mas não acredito em correção da tragetória cristã, se, para a tentativa, evitamos tratar as coisas como são. Não é possível desincriminar os textos bíblicos originais - há maldades ali, perpetradas programaticamente contra gente como nós, leigos, mormente por sacerdotes. Enquanto não tivermos a coragem de dizer, nós mesmos, cristãos, o grau de maldade desses textos, e, assim prover meios de defesa da gente oprimida pelo uso que desses textos se faz, não sairemos de uma retórica para alívio de consciência, mas inútil, inescapavelmente imprestável, porque, a cada domingo, esses mesmos textos serão lidos com a mesma e bovina ingenuidade milenar - e, já disse o sumamente entendido Edgar Morin, enquanto nossos espíritos não entenderem, estaremos desarmados...
6. Leio a Bíblia sem rodeios. Para mim, ela é uma biblioteca de textos "bons" e "maus". Há textos ali do tipo "faça isso" e textos do tipo "não faça isso", mas não há manual. Há vezes em que ele mesmo diz de si, "faça isso", mas, se você não quer ferir ninguém, ser um bom homem - mulher -, cidadão, pai, não faça - desobedeça. E há textos que dizem de si "não faça", mas, pelas mesmas razões, desobedeça - se desejar, faça. Não são as próprias determinações desses textos a minha chave - mas um outro texto, uma outra determinação, dessa mesma biblioteca - tudo quanto queres que seja feito a ti, faça ao teu próximo. Meus amigos, se aplicarmos essa "lei" em nosso dia a dia, 90% do que fazemos, na condição de "cristãos", torna-se imprestável e - imediatamente - mau, porque detestaríamos que fizessem conosco a esmagadora parte do que fazemos aos outros.
7. Não negocio: ler a Bíblia com olhar ético, e, sem piedades dissimuladas e nocivas, reduzi-la a seu discurso intencional, muitas vezes mau. Só assim poderemos lidar com ela com sanidade. De outro modo, serviremos de cabo de transferência das mesmas maldades sacerdotais de então... E sempre em nome Dele, para maior glória de Deus...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
(2011/040) Sobre meu livrinho "O que é Fé?"
1. Tenho recebido contatos por e-mail solicitando adquirir meu livrinho "O que é Fé?". Eu não tenho mais volumes para vender. Mas não é difícil achar, seja em livrarias preferencialmente evangélicas, e na Internet. Por exemplo - Submarino ou no próprio site da MK Editora. Compras pela Internet são seguras - desde que você use um computador absolutamente confiável (jamais em PC públicos!), e tenha um bom antivírus atualizado. O contrato com a MK já expirou, e eu pretendo reescrevê-lo e publicá-lo - assim que o fizer, aviso.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(2011/039) Finalmente, dormimos em (uma) "casa"
1. Bem, desde que chegamos em Vitória, nessa fase última, "definitiva", essa foi a primeira noite em que de fato dormimos no que se pode dizer (uma) "casa". Até ontem, excetuando-se os eletrodomésticos, que já se entregam montados, todos os demais móveis estavam desmontados e empilhados na sala. Bel, Jordão, Senhor Jimble (nosso labrador de 40 kg) e eu dormíamos no chão do quarto. Quando entregaram a cama-box, já montada, Bel passou a dormir nela. A loja em que compramos praticamente todos os móveis não cumpriu o prometido, e atrasou a montagem. Ontem, segunda, um montador apenas apresentou-se para fazê-lo. Chegou às nove da manhã e saiu às oito da noite, Bel já em desespero de causa, tendo que prender o Senhor Jimble o dia todo, de cômodo em cômodo... Não terminou o dia de muito bom humor, eu diria...
2. Finalmente, a casa começa a tomar cara de casa. Falta, agora, uma antena para a TV. Mas, acreditem, foi um parto descobrir como se instala uma antena nesse prédio... Provavelmente, quem sabe?, Bel assistirá a seus programas, hoje...
3. Também hoje, às duas da tarde, começam minhas aulas no Mestrado Profissional em Ciências das Religiões, na Unida. A Faculdade está em "festa", porque houve quase três inscritos para cada vaga, não obstante a autorização do curso ter saído apenas em 20/12 passado. Agora, é fazer como o boi - abaixar a cabeça e puxar o arado... Trabalho, que, cá entre nós, cansa muito, mas só é maldito na cabeça doente de algum sacerdote infeliz... Bem, não tanto doente quanto manipuladora...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Finalmente, a casa começa a tomar cara de casa. Falta, agora, uma antena para a TV. Mas, acreditem, foi um parto descobrir como se instala uma antena nesse prédio... Provavelmente, quem sabe?, Bel assistirá a seus programas, hoje...
3. Também hoje, às duas da tarde, começam minhas aulas no Mestrado Profissional em Ciências das Religiões, na Unida. A Faculdade está em "festa", porque houve quase três inscritos para cada vaga, não obstante a autorização do curso ter saído apenas em 20/12 passado. Agora, é fazer como o boi - abaixar a cabeça e puxar o arado... Trabalho, que, cá entre nós, cansa muito, mas só é maldito na cabeça doente de algum sacerdote infeliz... Bem, não tanto doente quanto manipuladora...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
(2011/038) Vou cancelar tudo que tenho da Oi
1. No Rio, tenho Oi Conta Total. Não posso dizer que, em termos de serviço, seja a pior coisa do mundo - mas o preço... Posso dizer que é um "roubo" me cobrar o que cobram por 1 mega de banda pseudo-larga-engana-bobo. Em todo caso, apesar de ser um roubo, concordei com isso, de modo que não posso me queixar... A banda é engana-bobo, eles sabem disso, você sabe disso, quando compra, e compra - de modo que, quando você assina o contrato, está implícito que é bobo, e tudo bem...
2. Aí, vim para Vitória. É verdade aquela história de que você tende a permanecer na empresa de quem adquire serviços, como quem só compra Ford, por exemplo. Como tenho Oi no Rio, meu consciente, estúpido como é mandou-me, comprar Oi. Meu filho, menos estúpido, disse-me pra comprar GVT. Mas o que eu fiz? Oi. Falei que era estúpido...
3. Liguei. Qual a velocidade? Primeiro o senhor tem que instalar o Oi Fixo. Ué? E se a velocidade for ruim? Pra testar, senhor, só instalando... ? ... ? ... Tá, instala. Vim do Rio a Vitória só para a instalação (falei que era estúpido...). Instalou. Volto para o Rio e vou para o telefone. Compro Velox. 1 mega, senhor. Ah, e tem que comprar o modem. 200,00, senhor. E provedor. A lista chega ao pé. Vai, faz.
4. Uma semana e meia depois, nada de modem. Vou ao site da Goorila, o par da venda casada banda-pseudo-larga + modem, e o modem está na estrada, em algum lugar entre o pólo sul e o pólo norte. Esperar...
5. Hoje, três da tarde, liga a Velox. Senhor, é para informar que seu endereço não pode ter Velox... ... ... Como assim? Testaram, quando comprei. Pode não, senhor... E o modem? Comprei o modem! Senhor, tem que ligar para o 103. Ligo. Primeira tentativa, 15 minutos na linha, nada. Segunda, idem. Terceira, de novo. Vou para a Internet - não me perguntem como, por favor. O chat cai a primeira vez, a segunda, a terceira. Vou na ouvidoria: tem que ter o protocolo. Mas, na mudança, cadê o papel onde foi anotado? Não tem? Chuta a parede, Osvaldo. Não dá, tá pintada, e Bel me mata. Mete a cabeça na parede, Osvaldo! Não dá, tá pintada, vai descarcar, e Bel me mata de novo...
6. Pois bem. Vou cancelar tudo no Rio: Conta Total, banda larga, celular, tudo. Aqui, vou esperar a GVT instalar o que adquiri hoje e cancelo essa porcaria de Oi.
7. É uma bomba! De efeito retardado. No colo. Imagina o efeito...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
domingo, 23 de janeiro de 2011
(2011/037) Quando a vida é a própria religião
1. Considerando que: a) a vida é a verdadeira demandante de sentido - de significado e de direção; b) que a religião constitui uma esfera de sentido aplicado à vida; c) que a religião, enquanto esfera de sentido aplicado à vida, consiste em plataforma cultural, histórica, humana - resulta compreensível que, por força de um ato voluntarioso humano, a própria vida seja alçada à condição de seu próprio sentido: em lugar de buscar sentido - significado e direção - lá fora, lá, muito lá fora, pode-se, num ato ao mesmo tempo de coragem e maturidade, encontrar - pôr! - significado e sentido dentro da própria vida.
2. Penso que essa não seja outra a ação empreendida em consideráveis porções do Eclesiastes, um livro para poucos: comer o pão, beber o vinho, amar a mulher da sua juventude - o homem da sua juventude... Viver constitui, aí, o significado e a direção da vida. Trata-se, afinal, de uma forma de tornar religiosa a própria vida. Comer é o que é - comer, mas, sob o efeito do ato significativo da consciência humana, converte-se em rito, cujo sentido é ele mesmo, cujo fim é ele mesmo - viver é o culto sublime, comer é a liturgia das horas, beber, é o êxtase da existência...
3. Não é nova a percepção, logo se vê. Eclesiastes bem pode ser do século V ou IV, de modo que já se vão lá seus quase 2,5 mil anos - é tempo à beça!, e, desde então, já havia mecanismos de opção para além das estruturas sacerdotais, especialistas em pôr lá fora - mas sob seu controle! - o significado e a direção da vida [quem negará que os sacerdotes se apossaram do corpo e da alma de Jesus Cristo?]...
4. De certo modo, aquele profetismo de justiça e caridade enseja um exercício de contra-metafísica, no sentido em que encontra no cuidado caridoso dos mais necessitados o sentido da vida. Não deixa de ser uma alternativa - e penso que as tentativas contemporâneas de "missão integral" constituam uma queda de braço entre a velha religiosidade além-vida, doutrinária, sacerdotal, de submissão à autoridade pseudo-divina, e essa percepção "profética". Seriam melhor sucedidas se tivessem a coragem de pôr as coisas no seu devido lugar - de dizer as coisas com todas as letras [mas o Evangelho não pode dizer tudo que sabe! - ele é sumamente hipócrita], e se decidirem, de vez, entre o pobre e Deus - mas, enquanto ficam de pé ora sob um pé, ora sob outro, no fundo, trabalham para a doutrina, no fundo encarnam a alma sacerdotal, "nós, os portadores da luz!", eles dizem, com o "bônus" - sob sua ótica, claro! - de poderem se apresentar, na ágora, como diferentes - mas, cá entre nós, os diferentes-bem-iguais... Ave, Doutrina!
5. Não há como negociar. Ou o significado da vida está aqui, entre nós, ou retornaremos - sempre! - àquela encenação sacerdotal, disfarçada, que seja, de Evangelho...
6. Pelo menos há esperança - e, vejam só!, "bíblica" - de que a religião possa ser canalizada para a própria vida, em benefício da própria vida... Mas é preciso ser "sábio" para alcançar a corda que, em outros lugares, é controlada pelo sacerdote e, aqui e ali, também pelos profetas... Porque há profetas como Eliseu, é verdade - mas eu tenho medo é quando o Elias do "me-dá-primeiro-que-depois-te-dou" vem na frente... e sempre vem...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(2011/036) Do sentido que a vida impõe - de significados e direções
1. É provavelmente verdadeira a afirmação de que os seres humanos somos os únicos seres vivos que precisam trabalhar a noção de sentido. Os demais nasceriam com comandos pulsionais naturalmente funcionais - nascem e morrem do mesmo modo, repetindo, "inconscientemente", a história de seus ancestrais. Nós, não - temos de inventar nossa vida.
2. Inventar a vida é dar sentido a ela. A vida deixou de ser comer, beber e dormir. Essas atividades biológicas constituem muito mais o sustentáculo da vida, mas a vida é o que acontece sobre elas. Sem o risco de reduzi-las a epifenômenos, porque a vida é o corpo, também, e o corpo é o conjunto dessas funções, podemos considerar que a vida se nos apresenta mais forte aqui, nas regiões do espírito, sem que, não nos esqueçamos, o corpo esteja, aí, presente em carne e sangue - integralmente.
3. Mas a vida é, então, o sentido que damos à existência. Há que haver, para nós, é nossa exigência, um enredo, e um bom enredo, para que a vida "faça sentido". Quando faltam os enredos, quando nossas substâncias químicas, nossas operações elétricas, nossos neurotransmissores, perdem a capacidade de tecer a teia dos sentidos para nós, é como se morrêssemos, deprimidos, e a depressão é, a meu ver, justamente a perda catastrófica dos sentidos possíveis, a desumanização radical.
4. Com sentido, no entanto, falamos de duas coisas - falamos de significado, e falamos de direção. A direção depende do significado, mas o significado depende, também da direção. Para aonde vamos é uma questão de que sentido damos à vida, que significado aplicamos a ela. Todavia, é também comum que a direção que decidimos tomar plasme a seu modo próprio o significado que, então, emprestamos ao nosso dia a dia.
5. A religião é uma força que plasma sentido para nós. Um shopping de sentido. Vamos lá e compramos um. O pacote inclui significado e direção - seja uma seta do tempo, seja um ciclo do tempo. A religião que compramos a preço certo dirá, para nós, e abraçaremos isso com toda a nossa força e entrega, o significado da vida, bem como a direção - a que lugares desconhecidos/conhecidos a morte nos levará... Já não somos "nós" - a vida já não nos pertence...
6. Mas, então, você "estuda" a religião, e acaba por descobrir que ela, afinal, é a institucionalização de um significado e uma direção que alguém, um semelhante seu, inventou para si, e que, tomado da pulsão dos deuses, considerou ser esse o significado e essa a direção para todos os homens e mulheres do planeta - a megalomania do amor, vá lá, ao lado da pretensão egocêntrica da verdade metafísica total... Quando isso ocorre, quero dizer, quando você descobre que as religiões são, afinal, jogos de cultura, elas perdem o poder de hipnotizarem ("ungirem") nossa consciência com o óleo da verdade.
7. É natural que assim seja, mas, nem por isso, é agradável - ao menos num primeiro momento, a crítica do sentido das religiões empobrece a vida, extraindo-lhes as certezas metafísicas. Eram falsas, é verdade, estávamos enganados, mas nossa alma sofre. Talvez a única forma de superar esse sofrimento seja o enfrentamento, igualmente doloroso, da situação: não sofríamos, antes, porque estávamos presos numa rede de sentidos inventados, mas, porque a ela nos entregamos acriticamente, forte o suficiente para nos fazer crer que a segurança equivalia à certeza, era seu resultado e produto. Mas não era assim: a certeza e nada é a mesma coisa: é psicológico o fenômeno - porque me julgava seguro, sentia-me seguro... Mas, a rigor, nunca houve segurança... ou insegurança. Houve, sim, a vida, essa hiper-estrutura demandante de um enredo...
8. Que eu posso criar... ser meu (próprio) Buda ou meu (próprio) Paulo...
9. O problema que enfrentamos decorre da virada subjetiva da religião. Enquanto ela existiu como fenômeno gregário - "crentes" são "ovelhas" - era fácil vivê-la, porque você sequer precisava pensar sobre ela. Mas inventou-se a subjetividade, a "experiência", o que exigiu uma sintonia fina entre o sentido que a religião propõe e sua percepção interior. Mas isso é impossível. A crítica destruirá a sintonia em dois segundos, e o grande jarro de prata revelar-se-á de barro, e se quebrará ao primeiro toque...
10. Não é culpa nossa. Não é culpa minha. A subjetividade impõe a reformulação radical da religião - e a reformulação começa pela aceitação do fato bruto de que a religião é cultura, invenção humana, que, psicologicamente, funciona como uma capa de sentido - de significado e de direção - para a vida, esta, a real demandante do processo. Não é a religião a questão fundamental - é a vida. A religião, aí, aparece como um instrumento histórico a serviço de pulsões vitais muito mais primitivas e "reais" do que a religião em si.
11. Numa palavra: não é a religião que deve merecer nossa preocupação fundamental - é a sua função de fornecedora de sentido. É, pois, de "sentido" que se trata. E, meus caros amigos, qualquer coisa que nos dê sentido tem a mesma funcionalidade que tem - e tem! - a religião. Porque aquilo a que devemos nos ater é, para todos os fins, a vida, essa sim, os limites de nossa experiência humana.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
sábado, 22 de janeiro de 2011
(2011/035) Domenico Losurdo - das democracias da guerra ou a exposição das vísceras ideológicas do Nobel da Paz
1. Gosto muito de Domenico Losurdo. Dele, li o magistral Nietzsche, o rebelde aristocrata, peça de extraordinária investigação indiciária a respeito do pensamento político de Nietzsche. Li, também, um artigo sobre as "origens estadunidcenses do nazismo". Agora, acabo de ler seu manifesto contra a delcaração do Presidente do Comitê do Nobel da Paz, a respeito do fato de que as democracias não entram em guerra entre si, de modo que se deveria propagar a democracia a todos os cantos do planeta - e isso no momento em que o beneficiário do prêmio é o dissidente chinês Liu Xiabo... Mas deixo que vocês mesmos leiam as palavras sempre muito esclarecidas e esclarecedoras de Losurdo. No original, do site Voltairenet.org, e na tradução do cada vez melhor Altamiro Borges.
El manifiesto de guerra del Comité Nóbel de la Paz
por Domenico Losurdo*
En la ceremonia de entrega del premio Nóbel de la Paz al disidente chino Liu Xiabo, el presidente del Comité,Thoebjoern Jangland, pronunció un discurso en el que elogió las guerras desencadenadas en nombre de la democracia y lanzó un llamado implícito al derrocamiento del gobierno chino.
Transmitido en vivo a través de las cadenas de televisión más importantes del mundo, el discurso que pronunció el presidente del Comité Nóbel durante la entrega del premio Nóbel de la Paz a Liu Xiabo constituye un verdadero manifiesto de guerra [1].
Su concepto fundamental es tan claro como burdo y maniqueo: las democracias no guerrean entre sí y nunca lo han hecho, por lo tanto para que la causa de la paz triunfe de una vez y por todas lo que hay que hacer es propagar la democracia a escala planetaria. Quien así habla está ignorando la historia. Ignora, por ejemplo, la guerra que enfrentó de 1812 a 1815 a Gran Bretaña y Estados Unidos, dos países «democráticos» que además forman parte de la «pragmática» y «pacífica» estirpe anglosajona.
Aquella guerra alcanzó sin embargo tal grado de furor que Thomas Jefferson llegó a comparar al gobierno de Londres con «Satanás» y declaró incluso que Gran Bretaña y Estados Unidos estaban librando entre sí una «guerra eterna» (eternal war) destinada a concluir sólo con el «exterminio» (extermination) de una de las partes.
Al identificar la causa de la paz con la causa de la democracia, el presidente del Comité Nóbel embellece la historia del colonialismo, a lo largo de la cual hemos visto a muchos países «democráticos» promover el expansionismo recurriendo para ello a la guerra, a las más brutales formas de violencia e incluso a prácticas de carácter genocida. Pero no se trata solamente del pasado. A través de su discurso, el presidente del Comité Nóbel legitimó a posteriori la primera guerra del Golfo, la guerra contra Yugoslavia y la segunda guerra del Golfo, desencadenadas todas por grandes «democracias» y en nombre de la «democracia».
El mayor obstáculo para la propagación universal de la democracia está representado ahora por China, que por lo tanto constituye al mismo tiempo el foco de guerra más peligroso. Luchar por todos los medios por un «cambio de régimen» en Pekín constituye entonces una noble empresa al servicio de la paz.
Ese es el mensaje que se transmitió al mundo entero desde Oslo, precisamente en momentos en que toda una flota de guerra estadounidense viene «entrenándose» a poca distancia de las costas chinas.
Un ilustre filósofo occidental y «demócrata», John Stuart Mill, defendió en su época las guerras del opio desatadas contra China como una contribución a la causa de la libertad, poniendo incluso la libertad del «comprador» por delante de la «del productor o del vendedor».
Esa es la funesta tradición colonialista que están siguiendo los señores de la guerra de Oslo. El manifiesto del presidente del Comité Nóbel debe sonar como un toque de alarma a los oídos de los verdaderos defensores de la causa de la paz.
[1] Ver el discurso completo del presidente Thoebjoern Jangland en el sitio web del Comité Nobel (en inglés).
2. Para a tradução, cf. aqui, no site do Altamiro Borges, onde obtive a informação. Eu sou integralmente a favor da democracia e, até onde vai meu direito, sou contra os regimes totalitários. Mas sou igualmente contra e avesso - psicossomaticamente avesso - ao cinismo e ao oportunismo político. Eis, aí, um caso... dentre não poucos desse Ocidente useiro e vezeiro do cinismo e da hipocrisia.
3. (12/02/13) Deve pelo fato de ser cristão...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(2011/034) Da espécie humana
1. A espécie humana é a quintessência do Universo... A cereja do bolo. Quando foi criada, alguém disse, o Universo tomou-se de espanto e perplexidade - máxima perfeição! Dois dias depois, a espécie humana matava seu criador. Quem podia imaginar que uma espécie-criatura pudesse alcançar o poder de dar vida e morte aos deuses todos? Não o supuseram, decerto, os criadores - ou teriam dizimado completamente a espécie daninha que vingava no cadinho místico das alquimias... Cochilaram, conquanto os mitos digam que não... Deu nisso! E aonde mais?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(2011/033) História da África - UNESCO - download em Português e gratuito
1. Não, ainda não acabou a história de opressão e de usurpação do povo africano - povo oprimido e usurpado pelos outros, de fora, e pelos seus próprios, pela Europa, pelas Américas coloniais e pós-coloniais, pela Ásia, ontem, hoje, amanhã, tanto quanto por si mesma, por suas elites violentas, ditatoriais, sanguinárias, perversas. Povo preto e pisado, povo pobre, sobre ele repousa a riqueza do Ocidente, sobre esse povo escravo e os ameríndios dizimados - não tem fim a ganância dos brancos e cristãos - do tamanho de seu Deus, esse é o tamanho de sua maldade. E pecado!
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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