1. De modo geral, a "genialidade", seja ela qual for, na arte, na ciência, na religião, deixa-se produzir por um grau de desconformidade psicológica mais ou menos profunda. Talvez porque a arte seja - sempre - uma ultrapassagem do "real", nela a Loucura deixa-se flagrar mais nua do que na ciência. Na religião, dificilmente se deixará de demonstrar que, nas suas origens, acocoram-se patologias da mente - com o que não quero dizer que a religião seja o fruto nobre de uma doença, mas que apenas muito tardiamente identificou-se como tal a Loucura, de modo que, até então, recebia-se-lhe nos templos, na forma de oráculo... Ah, quem negará que religião, neurose, esquizofrenia e toda sorte de disfuncionalidades psicológicas caminham juntas, conquanto não sejam, necessariamente, sinônimas? Na ciência, a disfuncionalidade psicológica se traduz num regime de foco e concentração, com naturalmente perceptíveis benefícios para a ciência, mas, não exatamente, para a vida social e familiar. Graus menos graves de autismo, por exemplo, exercem interessantes pressões sobre a "genialidade" na ciência.
2. Talvez esse fenômeno seja paralelo à "evolução" - no sentido de que certas disfuncionalidades orgânicas, acidentais, findam, aleatoria e ecosistemicamente, revelando-se mais bem adaptáveis do que a "normalidade", passando a anormalidade circunstancial a ganhar vantagens competitivas sobre os organismos até então adaptados. Religiosos, artistas e cientistas (de ponta?) são, por assim dizer, filhos mais ou menos distantes da Loucura.
3. A título de ilustração, recolho uma série de obras do mais "louco" dentre os gênios da arte - Salvador Dali. É hiperbólica a analogia, eu sei. Mas, o que há em Dali, em borbotões, há em cada um, eventualmente, em gotas. No fundo, há de se escolher entre reter as águas na barragem - ou abrir as comportas... Dali dinamitou-as.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
PS. Para os créditos, cf. os links de origem, ciclando nas imagens.
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