1. Eis um bom modo de eu acentuar a minha crítica quanto à proposição e defesa de uma pseudo-teologia critica. Digo que ela é pseudo-crítica, a despeito de auto-intitular-se "teologia crítica", porque ela parte de uma compreensão ontológico-metafísica da "verdade", da ética, do valor, imprimindo ao processo reflexivo teológico as rotinas dedutivas estabelecidas desde o teólogo dos teólogos dessa escola - Platão. Se o título que essa espécie de racionalização mitológico-política se outorga já é epistemologicamente inaceitável, o que dizer da proposta de chamar a essa teologia, dita crítica, de "teologia materialista histórica"?
2. Encontro três párágrafos muito interessantes - e reveladores - na blogosfera. Trancrevo-os e, a seguir, digo a que vim.
2.1 "Em contraposição a estas (no contexto, chamadas de teologias humanistas e existenciais) surgem as teologias políticas. Nasceram em um período da história em que a humanidade debatia e experimentava profundas e decisivas transformações na esfera da política, dos direitos civis, do comportamento social, da cultura, etc. Essas teologias – ou esse modo de fazer teologia – não possuem uma única matriz, no entanto têm como alicerce 4 principais fontes: a) O livro Teologia da Esperança, de Jügen Moltmann (1964), que apresenta uma teologia contextualizada aos problemas e desafios particulares e sociais situados na práxis histórica da sociedade do pós-guerra; b) O livro A Cidade Secular, de Harvey Cox (1965), que trata a secularidade moderna sob uma perspectiva política e incorpora as realidades política e civil à teologia, conhecida como a “teologia da mudança social”; c) O discurso do Pr. Richard Schaull na Conferência Mundial do Conselho Ecumênico de Igrejas, em 1966, que aborda a questão da “teologia da revolução”; e d) A obra de Johann B. Metz, Teologia Política (1967), em que investe contra a abordagem privatista e apolítica da teologia existencial, propondo uma eclesiologia de libertação e de crítica social.
2.2 Rapidamente a América Latina respondeu – a partir desses dados e de sua própria condição de desigualdade, opressão e exploração – às percepções da teologia política, por meio da Conferência de Medellín (1968) e da Teologia da Libertação. Seus principais e pioneiros expoentes foram Rubem Alves, Gustavo Gutiérrez, e Hugo Assmann, através das obras Da esperança (1969), Teología de la liberación (1971), e Teología desde la praxis de la liberación (1973), respectivamente. Posteriormente, autores como Juan Luis Segundo, Leonardo Boff e Clodovis Boff, Pablo Richard, Jorge Pixley, Jon Sobrino, entre outros, deram continuidade à Teologia da Libertação na América Latina.
2.3 Um outro nome – e talvez mais adequado – ao que se propõe, e que se aproxima de sua base conceitual filosófica, seria teologia materialista histórica. Mas existem complicações no uso deste termo: risco de equívocos conceituais, falta de compreensão do método, pouca clareza acerca do conceitual teórico marxista em geral, além de (e em função disso tudo) preconceito e escândalo a tudo (ou quase tudo) a que se refere o pensamento de Marx e ao socialismo. Assim, encontramos com maior freqüência as expressões teologia crítica, ou teologia política para designar uma reflexão teológica que capta, processa e retransmite suas percepções a partir das determinações e condições históricas do ser humano, bem como das estruturas sociais. Mas é importante ressaltar que surgem com base no marxismo heterodoxo da escola de sociologia crítica de Frankfurt" (Alexandre Gonçalves, Para uma leitura política do Evangelho, Teologizar, 30 de março de 2008).
3. É de todo mérito o modo como o autor do ensaio relaciona a Teologia (latino-americana) da Libertação àqueles movimentos já politicamente teológicos citados no primeiro parágrafo transcrito (2.1). No que diz respeito à "teologia crítica", vale o que acabo de dizer em resposta a Ricardo Gondim (2009/241) Crítica mesmo, Gondim?). Alexandre Gonçalvez, agora, sugere que seria conveniente - talvez, ele diz - substituir o nome: em lugar de "teologia crítica", chamar-lha "teologia materialista histórica". Marx foi consultado?
4. Quero com essa ironia dizer perguntar como é possível aplicar o termo "materialista histórica", de origem obviamente, e o autor mesmo o reconhece, marxiana, a uma plataforma de operação que, malgrado ter por objetivo a transformação da sociedade, e mesmo que isso nos termos de uma transformação "revolucionária", constitui, no entanto, regime epistemológico metafísico (e mitológico!)? Pode uma estrutura marxiana de reflexão sustentar uma rotina mitológica de legitimação? Por outro lado, uma estratégia supostamente meio-marxista, porque "teísta" - aceitemos o oxímoro - cuidaria ser mais eficiente em seus objetivos tranformadores e libertários do que aquela leninista-stalinista, atéia? Por exemplo - a TdL é de Deus, e Lênin, do diabo?
5. Foi a mesma pergunta que fiz a Norman Gottwald no II Congresso da ABIB, em Goiânia, pergunta que aguarda resposta até hoje: não há uma utopia não-mitológica, não-teológica? A humanidade só pode pensar em justiça e transformação se essa for a vontade de/dos deus(es), sejam eles metafísico-mitológicos (teísmo) ou estruturais-sistêmicos (leninismo-stalinismo)? Sozinhos, os homens e as mulheres, não podem construir um mundo politicamente justo, humano e fraterno, sem o recurso a nada mais além de suas próprias concretudes? O limite da crítica teológica é a adesão do mito dos deuses ao mito da humanidade?
6. Se chamando-se crítica, essa teologia já constitui disfunção cognitiva, o que dizer se ela decide chamar-se, de repente, "materiststa histórica"? Primeiro que não o é: se fosse "materislista histórica", começaria admitindo que não havia ido até agora além da proposição de um "Deus" na forma de mito animador, porque, sendo "materialista histórica", ultrapassaria, como Marx, Feuerbach, mas, como Marx, sem negá-lo. O fato, nunca o descarto, de o teólogo orgânico assim a considerar, em nada modifica a questão, porque a grande massa é animada, ainda, onde quer que se estabeleça a TdL ou qualquer outra "teologia crítica", como que por "Deus" - daí as estratégias hermenêuticas alegórico-instrumentais da "libertação" - o povo tem que crer que Deus o quer libertar, para que se mexa ele mesmo...
7. O "mérito" da teologia dogmática, tradicional, aquela de ter-se não apenas de acreditar-se numa ressurreição corpórea de Jesus e dos crentes, mas até na manutenção físico-química do corpo pós-ressuscitado, é que os teólogos que a professam e pregam acreditam nisso mesmo, e se, estão errados, vão eles e seus crentes para o mesmo buraco do erro, porque, ao menos, eles acreditam mesmo nisso. O problema de uma teologia crítica - que é o mesmo de uma teologia metafórica - é que, se o teólogo orgânico que a formula e prega reconhece para si mesmo o regime meramente retórico de suas formulações (ele é um neo-ortodoxo, um "existencialista", um amante da metáfora traditiva, qualquer dessas modernidades terminológicas para legitimar o uso político-eclesiástico dos termos da tradição, sem, em tese, obrigatoriamente, compactuar com o sentido dogmático deles e dela), ele, contudo, não chega a esclarecer, quanto a isso, a massa que ele anima, que, or isso, o ouve como se ele cresse ontologicamente, metafisicamente, nos termos e na tradição que defende e prega. Ah, sei, ele não "mente" - ele "apenas" omite...
8. Eu arriscaria dizer que, sem considerar a mera estratégia política consciente de levar o povo para aqui e para ali por meio de palavras, toda uma ala aparentemente "avançada" da alta teologia constitui-se por um descolamento epistemológico entre, de um lado, o "clero orgânico", a política carismático-profética, o bloco dos animadores, e de outro, a massa crente animada. É como se a organicidade, em sentido gramsciano, o "clero teológico", reconhecesse os limites da eficiência retórica - sem o vínculo entre o discurso arrebanhador e a metafísica instrumental for rompida, as massas seguirão outro pastor... Essa maior eficiência de um discurso despudoradamente metafísico, místico, não responderia pelo avanço inexorável do movimento carismático sobre o território até então sob o domínio das políticas das CEBS? Por outro lado, em território evangélico, já que a teologia aí é flagrantemente fundamentalista e metafísica - mesmo entre os que gostam de se intitular "evangelicais" - não é essa também a razão para a sua dificílima animação política?
9. Esse problema uma teologia crítica, como historicamnete construída até agora, não resolveu até hoje, nem resolverá, porque resolver, é dissipar-se. É preciso que todos os homens e todas as mulheres deixem-se levar pela retórica do "Deus que quer a libertação" ou do "Deus que liberta" para que os profetas e sacerdotes da libertação sejam eficientemente ouvidos. No entanto, se a crítica desse próprio fundamento metafísico da possibilidade da libertação é feita, quebra-se o condão, o rebanho se dispersa, ou, alternativamente, transforma-se no que é, de fato - um movimento político-revolucionário, que crê que a libertação quem a faz é o oprimido mesmo. Por exemplo, veja-se o caso do PT: "Sobre o PT, a sensação mais geral foi que é um partido que as CEBs construíram e não vão entregar assim, mesmo porque é muito difícil construir outro" (Verena Glass, Igreja progressista no limite entre desistir ou lutar pelo PT, Carta Maior, 26 de julho de 2005). O objetivo último das CEBS materializa-se naquilo que pode ser alcançado por uma organização político-partidária que, em última análise, postula o governo de uma República laica! Quando se filtra o "valor" dessa política, e o que lhe é secundário é posto de lado, resta o "partido", instrumento indispensável para a concretização da estratégia. A retórica mitológico-metafísica é dispensável, se se concentra nos objetivos, mas indispensável, se ela é, afinal, o foco...
10. Se me perguntam se eu prefiro os objetivos políticos à retórica metafísica da teologia crítica/teologia materialista histórica - respondo: sim. A retórica, a meu ver, é plenamente, e desejavelmente, descartável. O que essa teologia política, crítica, eventualmente deseja, a transformação da sociedade, a igualdade de condições de vida, a dignidade humana, isso, não, isso não é secundário. De modo que eu endossaria integralmente os objetivos políticos de uma "teologia crítica" nos moldes em que Alexandre Gonçalves a apresenta, mas denunciaria/condenaria intransigentemente o seu regime retórico-estratégico de fazer-se, fraudulentamente, porta-voz de um "Deus da libertação" - do ponto de vista epistemológico, é imoral.
11. A qualquer coisa em que se venha transformar a teologia epistemologicamente crítica, e não apenas retoricamente crítica, deixar-se-á marcar pela advertência de que a atividade humana não se pode constituir por meio de valores que sejam superires à própria condição crítica humana. A idéia-deus, a idéia de Deus, não pode assumir papel motivador na ação transformadora da sociedade, porque ela, a idéia, manterá o poder de destranformar essa mesma sociedade - não sejamos ingênuos, os agentes da idéia permanecerão com o poder da idéia nas mãos! A libertação política do homem deve começar, sobretudo, pela libertação humana dessas idéias supra-humanas. E a primeira delas é a de Deus. Imediatamente, concomitantemente, a de seus agentes...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Encontro três párágrafos muito interessantes - e reveladores - na blogosfera. Trancrevo-os e, a seguir, digo a que vim.
2.1 "Em contraposição a estas (no contexto, chamadas de teologias humanistas e existenciais) surgem as teologias políticas. Nasceram em um período da história em que a humanidade debatia e experimentava profundas e decisivas transformações na esfera da política, dos direitos civis, do comportamento social, da cultura, etc. Essas teologias – ou esse modo de fazer teologia – não possuem uma única matriz, no entanto têm como alicerce 4 principais fontes: a) O livro Teologia da Esperança, de Jügen Moltmann (1964), que apresenta uma teologia contextualizada aos problemas e desafios particulares e sociais situados na práxis histórica da sociedade do pós-guerra; b) O livro A Cidade Secular, de Harvey Cox (1965), que trata a secularidade moderna sob uma perspectiva política e incorpora as realidades política e civil à teologia, conhecida como a “teologia da mudança social”; c) O discurso do Pr. Richard Schaull na Conferência Mundial do Conselho Ecumênico de Igrejas, em 1966, que aborda a questão da “teologia da revolução”; e d) A obra de Johann B. Metz, Teologia Política (1967), em que investe contra a abordagem privatista e apolítica da teologia existencial, propondo uma eclesiologia de libertação e de crítica social.
2.2 Rapidamente a América Latina respondeu – a partir desses dados e de sua própria condição de desigualdade, opressão e exploração – às percepções da teologia política, por meio da Conferência de Medellín (1968) e da Teologia da Libertação. Seus principais e pioneiros expoentes foram Rubem Alves, Gustavo Gutiérrez, e Hugo Assmann, através das obras Da esperança (1969), Teología de la liberación (1971), e Teología desde la praxis de la liberación (1973), respectivamente. Posteriormente, autores como Juan Luis Segundo, Leonardo Boff e Clodovis Boff, Pablo Richard, Jorge Pixley, Jon Sobrino, entre outros, deram continuidade à Teologia da Libertação na América Latina.
2.3 Um outro nome – e talvez mais adequado – ao que se propõe, e que se aproxima de sua base conceitual filosófica, seria teologia materialista histórica. Mas existem complicações no uso deste termo: risco de equívocos conceituais, falta de compreensão do método, pouca clareza acerca do conceitual teórico marxista em geral, além de (e em função disso tudo) preconceito e escândalo a tudo (ou quase tudo) a que se refere o pensamento de Marx e ao socialismo. Assim, encontramos com maior freqüência as expressões teologia crítica, ou teologia política para designar uma reflexão teológica que capta, processa e retransmite suas percepções a partir das determinações e condições históricas do ser humano, bem como das estruturas sociais. Mas é importante ressaltar que surgem com base no marxismo heterodoxo da escola de sociologia crítica de Frankfurt" (Alexandre Gonçalves, Para uma leitura política do Evangelho, Teologizar, 30 de março de 2008).
3. É de todo mérito o modo como o autor do ensaio relaciona a Teologia (latino-americana) da Libertação àqueles movimentos já politicamente teológicos citados no primeiro parágrafo transcrito (2.1). No que diz respeito à "teologia crítica", vale o que acabo de dizer em resposta a Ricardo Gondim (2009/241) Crítica mesmo, Gondim?). Alexandre Gonçalvez, agora, sugere que seria conveniente - talvez, ele diz - substituir o nome: em lugar de "teologia crítica", chamar-lha "teologia materialista histórica". Marx foi consultado?
4. Quero com essa ironia dizer perguntar como é possível aplicar o termo "materialista histórica", de origem obviamente, e o autor mesmo o reconhece, marxiana, a uma plataforma de operação que, malgrado ter por objetivo a transformação da sociedade, e mesmo que isso nos termos de uma transformação "revolucionária", constitui, no entanto, regime epistemológico metafísico (e mitológico!)? Pode uma estrutura marxiana de reflexão sustentar uma rotina mitológica de legitimação? Por outro lado, uma estratégia supostamente meio-marxista, porque "teísta" - aceitemos o oxímoro - cuidaria ser mais eficiente em seus objetivos tranformadores e libertários do que aquela leninista-stalinista, atéia? Por exemplo - a TdL é de Deus, e Lênin, do diabo?
5. Foi a mesma pergunta que fiz a Norman Gottwald no II Congresso da ABIB, em Goiânia, pergunta que aguarda resposta até hoje: não há uma utopia não-mitológica, não-teológica? A humanidade só pode pensar em justiça e transformação se essa for a vontade de/dos deus(es), sejam eles metafísico-mitológicos (teísmo) ou estruturais-sistêmicos (leninismo-stalinismo)? Sozinhos, os homens e as mulheres, não podem construir um mundo politicamente justo, humano e fraterno, sem o recurso a nada mais além de suas próprias concretudes? O limite da crítica teológica é a adesão do mito dos deuses ao mito da humanidade?
6. Se chamando-se crítica, essa teologia já constitui disfunção cognitiva, o que dizer se ela decide chamar-se, de repente, "materiststa histórica"? Primeiro que não o é: se fosse "materislista histórica", começaria admitindo que não havia ido até agora além da proposição de um "Deus" na forma de mito animador, porque, sendo "materialista histórica", ultrapassaria, como Marx, Feuerbach, mas, como Marx, sem negá-lo. O fato, nunca o descarto, de o teólogo orgânico assim a considerar, em nada modifica a questão, porque a grande massa é animada, ainda, onde quer que se estabeleça a TdL ou qualquer outra "teologia crítica", como que por "Deus" - daí as estratégias hermenêuticas alegórico-instrumentais da "libertação" - o povo tem que crer que Deus o quer libertar, para que se mexa ele mesmo...
7. O "mérito" da teologia dogmática, tradicional, aquela de ter-se não apenas de acreditar-se numa ressurreição corpórea de Jesus e dos crentes, mas até na manutenção físico-química do corpo pós-ressuscitado, é que os teólogos que a professam e pregam acreditam nisso mesmo, e se, estão errados, vão eles e seus crentes para o mesmo buraco do erro, porque, ao menos, eles acreditam mesmo nisso. O problema de uma teologia crítica - que é o mesmo de uma teologia metafórica - é que, se o teólogo orgânico que a formula e prega reconhece para si mesmo o regime meramente retórico de suas formulações (ele é um neo-ortodoxo, um "existencialista", um amante da metáfora traditiva, qualquer dessas modernidades terminológicas para legitimar o uso político-eclesiástico dos termos da tradição, sem, em tese, obrigatoriamente, compactuar com o sentido dogmático deles e dela), ele, contudo, não chega a esclarecer, quanto a isso, a massa que ele anima, que, or isso, o ouve como se ele cresse ontologicamente, metafisicamente, nos termos e na tradição que defende e prega. Ah, sei, ele não "mente" - ele "apenas" omite...
8. Eu arriscaria dizer que, sem considerar a mera estratégia política consciente de levar o povo para aqui e para ali por meio de palavras, toda uma ala aparentemente "avançada" da alta teologia constitui-se por um descolamento epistemológico entre, de um lado, o "clero orgânico", a política carismático-profética, o bloco dos animadores, e de outro, a massa crente animada. É como se a organicidade, em sentido gramsciano, o "clero teológico", reconhecesse os limites da eficiência retórica - sem o vínculo entre o discurso arrebanhador e a metafísica instrumental for rompida, as massas seguirão outro pastor... Essa maior eficiência de um discurso despudoradamente metafísico, místico, não responderia pelo avanço inexorável do movimento carismático sobre o território até então sob o domínio das políticas das CEBS? Por outro lado, em território evangélico, já que a teologia aí é flagrantemente fundamentalista e metafísica - mesmo entre os que gostam de se intitular "evangelicais" - não é essa também a razão para a sua dificílima animação política?
9. Esse problema uma teologia crítica, como historicamnete construída até agora, não resolveu até hoje, nem resolverá, porque resolver, é dissipar-se. É preciso que todos os homens e todas as mulheres deixem-se levar pela retórica do "Deus que quer a libertação" ou do "Deus que liberta" para que os profetas e sacerdotes da libertação sejam eficientemente ouvidos. No entanto, se a crítica desse próprio fundamento metafísico da possibilidade da libertação é feita, quebra-se o condão, o rebanho se dispersa, ou, alternativamente, transforma-se no que é, de fato - um movimento político-revolucionário, que crê que a libertação quem a faz é o oprimido mesmo. Por exemplo, veja-se o caso do PT: "Sobre o PT, a sensação mais geral foi que é um partido que as CEBs construíram e não vão entregar assim, mesmo porque é muito difícil construir outro" (Verena Glass, Igreja progressista no limite entre desistir ou lutar pelo PT, Carta Maior, 26 de julho de 2005). O objetivo último das CEBS materializa-se naquilo que pode ser alcançado por uma organização político-partidária que, em última análise, postula o governo de uma República laica! Quando se filtra o "valor" dessa política, e o que lhe é secundário é posto de lado, resta o "partido", instrumento indispensável para a concretização da estratégia. A retórica mitológico-metafísica é dispensável, se se concentra nos objetivos, mas indispensável, se ela é, afinal, o foco...
10. Se me perguntam se eu prefiro os objetivos políticos à retórica metafísica da teologia crítica/teologia materialista histórica - respondo: sim. A retórica, a meu ver, é plenamente, e desejavelmente, descartável. O que essa teologia política, crítica, eventualmente deseja, a transformação da sociedade, a igualdade de condições de vida, a dignidade humana, isso, não, isso não é secundário. De modo que eu endossaria integralmente os objetivos políticos de uma "teologia crítica" nos moldes em que Alexandre Gonçalves a apresenta, mas denunciaria/condenaria intransigentemente o seu regime retórico-estratégico de fazer-se, fraudulentamente, porta-voz de um "Deus da libertação" - do ponto de vista epistemológico, é imoral.
11. A qualquer coisa em que se venha transformar a teologia epistemologicamente crítica, e não apenas retoricamente crítica, deixar-se-á marcar pela advertência de que a atividade humana não se pode constituir por meio de valores que sejam superires à própria condição crítica humana. A idéia-deus, a idéia de Deus, não pode assumir papel motivador na ação transformadora da sociedade, porque ela, a idéia, manterá o poder de destranformar essa mesma sociedade - não sejamos ingênuos, os agentes da idéia permanecerão com o poder da idéia nas mãos! A libertação política do homem deve começar, sobretudo, pela libertação humana dessas idéias supra-humanas. E a primeira delas é a de Deus. Imediatamente, concomitantemente, a de seus agentes...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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