1. Outro dia, Jimmy me provocava com insinuações de que eu me considerava um "iluminista" e um "jacobino", provocação que ele justificara, pessoalmente, mais tarde, com o argumento de que estava a "ver até onde ia" a "saída" pondeiana, de que ele mui recentemente se acercara. Soavam assim um tanto recriminatórias aquelas provocações, como se à proximidade de um pecado contemporâneo se constituíssem as "luzes". Como nunca sabemos exatamente o que uma pessoa quer dizer com os termos e rótulos que utiliza, imediataqmente manifestei-me, fazendo registrar em ata que não me considerava emancipado, pelo contrário, porque um homem pobre da Baixada Fluminense não tem nenhuma razão para assim se considerar, salvo sob o controle ideológico de uma self deception. Nenhum "pobre" está emancipado - conquanto sua mente profundamente o deseje. Emancipação (apenas) idealista, contudo, não é verdadeira emancipação, ainda que a verdadeira não se materialize sem ela.
2. Eis que, agora, chegam-me pelas mãos de Joege Grespan descrições de um Iluminismo que eu abaixo-assinaria sem reservas de qualquer espécie, ainda que isso constituísse pecado de morte contra Deus. Ei-las:
3. "Sempre está presente (...) uma marca de nascença: o Iluminismo, em suas várias vertentes, guarda da revolução o princípio da crítica. Tudo pode ser examinado, dissecado, exposto; não há assuntos ou questões que possuam o direito de ser furtado ao esclarecimento, de ser ocultado na sombra sob o pretexto da autoridade ou do dogma" (Jorge GRESPAN, Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 38).
4. Com esse Iluminismo aí eu me dou muito bem. Não há dogma que eu não disseque, seja ele religioso, científico ou político. Outro dia, por exemplo, Jô Soares dizia das chamadas "cláusulas pétreas" da Constituição que elas são, por isso, absolutas, não-sujeitas a alterações. Ri-me a desmanchar-me de gases. Nada, absolutamente nada há, em face do que os homens estabeleceçam como regimes político-sociais, que inalterável seja, conquanto há interesses da elite e do capital de alterarem, rápido, legislações trabalhistas, enquanto se esforçarão para manterem inalteradas legislações que lhes garantam o status quo. Jô Soares, ali, enganava-se, ou tentava me enganar?
5. Dogmas religiosos nem mais os analiso um a um - caíram todos. No campo do saber, nada há que a religião e a teologia teologia me digam que eu leve a sério. As únicas pragmáticas possíveis no campo religioso são a estética e a política - o saber, a heurística, passa a quilômetros de distância dos fóruns de religião e teologia.
6. Quanto aos dogmas científicos, não os há. Se os há, científicos é o que não são. A ciências produzem proposições a respeito da relação entre nossos quadros conceituais e a matéria - sim, são fundacionais, sim, conquanto se alardeie, para benefício Deus sabe de quem, que a epistemologia não-fundacional dá as cartas, hoje (onde?, não certamente em Apel ou Morin, por exemplo). É com tais proposições, críticas, refutáveis, que lido/lidamos.
7. Nesse sentido, há uma exigência tremenda da parte do programa iluminista - a crítica incessante de todas as posições fechadas e autoritárias, dogmáticas - de poder. Essa foi a única parcela da revolução que me restou. E não é pouca, reconheço...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Eis que, agora, chegam-me pelas mãos de Joege Grespan descrições de um Iluminismo que eu abaixo-assinaria sem reservas de qualquer espécie, ainda que isso constituísse pecado de morte contra Deus. Ei-las:
3. "Sempre está presente (...) uma marca de nascença: o Iluminismo, em suas várias vertentes, guarda da revolução o princípio da crítica. Tudo pode ser examinado, dissecado, exposto; não há assuntos ou questões que possuam o direito de ser furtado ao esclarecimento, de ser ocultado na sombra sob o pretexto da autoridade ou do dogma" (Jorge GRESPAN, Revolução Francesa e Iluminismo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 38).
4. Com esse Iluminismo aí eu me dou muito bem. Não há dogma que eu não disseque, seja ele religioso, científico ou político. Outro dia, por exemplo, Jô Soares dizia das chamadas "cláusulas pétreas" da Constituição que elas são, por isso, absolutas, não-sujeitas a alterações. Ri-me a desmanchar-me de gases. Nada, absolutamente nada há, em face do que os homens estabeleceçam como regimes político-sociais, que inalterável seja, conquanto há interesses da elite e do capital de alterarem, rápido, legislações trabalhistas, enquanto se esforçarão para manterem inalteradas legislações que lhes garantam o status quo. Jô Soares, ali, enganava-se, ou tentava me enganar?
5. Dogmas religiosos nem mais os analiso um a um - caíram todos. No campo do saber, nada há que a religião e a teologia teologia me digam que eu leve a sério. As únicas pragmáticas possíveis no campo religioso são a estética e a política - o saber, a heurística, passa a quilômetros de distância dos fóruns de religião e teologia.
6. Quanto aos dogmas científicos, não os há. Se os há, científicos é o que não são. A ciências produzem proposições a respeito da relação entre nossos quadros conceituais e a matéria - sim, são fundacionais, sim, conquanto se alardeie, para benefício Deus sabe de quem, que a epistemologia não-fundacional dá as cartas, hoje (onde?, não certamente em Apel ou Morin, por exemplo). É com tais proposições, críticas, refutáveis, que lido/lidamos.
7. Nesse sentido, há uma exigência tremenda da parte do programa iluminista - a crítica incessante de todas as posições fechadas e autoritárias, dogmáticas - de poder. Essa foi a única parcela da revolução que me restou. E não é pouca, reconheço...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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