1. Só experimenta uma espiritualidade realmente sadia, verdadeiramente saudável, aquele ou aquela que consegue olhar para todos e qualquer um, sem a prescrição da sua própria espiritualidade. Não há saúde interior onde não há conhecimento de si, e a presunção de que alguém precisaria necessariamente de espiritualidade, quanto mais da espiritualidade que o presunçoso experimente, constitui evidência de um estado patológico, que, eis o perigo, disfarça-se em hígida condição... Ledo engano.
2. A espiritualidade é, para as experiências religiosas, o que a Teologia Negativa é para a teologia positiva: um estágio de degradação. As críticas profundas à teologia positiva levam, em alguns casos, à Teologia Negativa, até que a crítica se aprofunde ainda mais, e até ela esboroe em farelos. Assim também a espiritualidade: o cansaço para com as burocracias sacerdotais leva à administração do sublimado "espiritualidade", e o religioso cuida ter-se livrado da casca do fenômeno e permanecido com a seiva e a popa da fruta verdadeiramente maravilhosa. Será o caso, se todavia não se portar como evangelista e salvador ainda, tanto como dantes se comportava, e sair pelos caminhos, a querer em todos e em todas a mesma seiva, a mesma poupa. Missionários espirituais são algo um tanto curioso...
3. No fundo, a espiritualidade pode diluir-se tranquilamente em experiências estéticas de vários tons. Os céus esvaziam-se - e, aleluia!, também os infernos, de sorte que não é mais preciso encenar-se romances angelicais. Qualquer poema de Bilac produz o mesmo frêmito, o mesmo gozo, a mesma alucinação...
4. Agora vai, espiritualidade com pernas. Vai, e não peques mais.
OSVALDO LUZ RIBEIRO
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