Fato: ideologia cega. Assim, quando se está interpretando um texto, a ideologia pode fazer com que cada palavra desse texto e todo o conjunto de palavras que o constituem sejam moldados para expressar o conteúdo prévio da ideologia do intérprete.
Ler ideologicamente - e cegamente - ocorre na maioria das vezes, quando o leitor se entrega passivamente às páginas ou à tela. No modo automático, por assim dizer, o cérebro do leitor atualizará a polissemia textual nos moldes da ideologia que está latente na mente do intérprete.
Discute-se se sim ou não, e minha posição é sim, é possível sim, uma mente treinada e ativa pode contornar a própria ideologia, e entrar em sintonia com a ideologia do texto, isto é, do autor do texto, sem que uma e outra se choquem a ponto de uma impedir a manifestação da outra. Há quem diga que não, mas essas pessoas que dizem que nenhuma leitura está desprovida da ideologia do intérprete devem satisfação a elas mesmas e a nós por que cargas d'água então tentam fazer os outros entender que os outros só podem entender o que eles mesmos querem, e nunca e jamais o que um comunicador quer... ou não é isso que esse pessoal diz? E se não é, é o que então, cara pálida?
Voltando ao enredo: a ideologia pode cegar, mas é possível contorná-la, com trabalho, treino, dedicação. Mas há outra coisa a ser dita: a ideologia ilumina também. A ideologia pode ser a responsável por fazer com que o que vem sendo sistematicamente ocultado em um texto seja iluminado. Se o leitor não estivesse carregado dessa ideologia específica que permite iluminar determinado aspecto dos textos, é provável que aquele aspecto iluminado permanecesse nas sombras por ainda um longo tempo.
Um caso: a questão de gênero. Sim, concordemos: a ideologia de gênero pode cegar e produzir leituras "de gênero" que acabem forçando os textos. Era o que ocorria com alguma frequência com determinadas leituras da Teologia da Libertação, que procurava ver "pobre" em tudo, e é o que pode ocorrer com qualquer ideologia. No entanto, a ideologia relacionada à perspectiva de gênero pode funcionar de modo inverso: uma determinada questão presente em um texto pode estar sendo ocultada por décadas, séculos e milênios de leitura machista, e, nesse caso, é justamente porque está com os olhos bem arregalados para a questão de gênero que determinada pessoa pode, ao contrário das demais, identificar essa precisa questão ali onde todo mundo está cego. A ideologia pode, então, iluminar, tanto quanto cegar.
Para o que me interessa, o importante é que, depois da iluminação, a pesquisa se dê o mais tecnicamente possível, sem forças os dados, sem estuprar o texto. A ideologia deve aguardar o trabalho técnico, o menos ideológico possível, para, então, de posse dos resultados, dizer a que veio.
Voltando ao enredo: a ideologia pode cegar, mas é possível contorná-la, com trabalho, treino, dedicação. Mas há outra coisa a ser dita: a ideologia ilumina também. A ideologia pode ser a responsável por fazer com que o que vem sendo sistematicamente ocultado em um texto seja iluminado. Se o leitor não estivesse carregado dessa ideologia específica que permite iluminar determinado aspecto dos textos, é provável que aquele aspecto iluminado permanecesse nas sombras por ainda um longo tempo.
Um caso: a questão de gênero. Sim, concordemos: a ideologia de gênero pode cegar e produzir leituras "de gênero" que acabem forçando os textos. Era o que ocorria com alguma frequência com determinadas leituras da Teologia da Libertação, que procurava ver "pobre" em tudo, e é o que pode ocorrer com qualquer ideologia. No entanto, a ideologia relacionada à perspectiva de gênero pode funcionar de modo inverso: uma determinada questão presente em um texto pode estar sendo ocultada por décadas, séculos e milênios de leitura machista, e, nesse caso, é justamente porque está com os olhos bem arregalados para a questão de gênero que determinada pessoa pode, ao contrário das demais, identificar essa precisa questão ali onde todo mundo está cego. A ideologia pode, então, iluminar, tanto quanto cegar.
Para o que me interessa, o importante é que, depois da iluminação, a pesquisa se dê o mais tecnicamente possível, sem forças os dados, sem estuprar o texto. A ideologia deve aguardar o trabalho técnico, o menos ideológico possível, para, então, de posse dos resultados, dizer a que veio.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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