1. O complexo medieval de Khajuraho, pequena cidade no Estado de Madhya Pradesh, na Índia, é constituído por 22 de 85 templos originais. Localizada em uma região de relativamente difícil acesso, o complexo tornou-se do conhecimento do Ocidente apenas a partir do século XIX. Ao mesmo tempo, parece ter não ter sido atingido pela fúria de exércitos ou de iconoclastas islâmicos, uma vez que, tendo sido construído entre meados do século X e XI, em plena Idade Média ocidental, deve-se apenas ao efeito do tempo e ao crescimento da floresta ao redor a destruição de grande parte do acervo (1). Dos 22 templos restantes, 16 encontram-se na seção oeste do complexo, e foram reconhecidos como Patrimônio Cultural da Humanidade.
2. Os templos do complexo estão repletos de esculturas eróticas, algumas delas em poses explícitas de cópula, além de várias práticas relacionadas, de um modo ou de outro, às práticas sexuais. A rigor, não se trata propriamente de "erotismo", não em sentido moderno, porque, à época, e nos termos das tradições tântricas, a sexualidade, o sexo e o coito eram considerados também sob a perspectiva místico-religiosa. Ao contrário de um catolicismo que vê no sexo uma estrita e austera função procriativa, esse aspecto da religiosidade hindu assimilava ao sexo, além do prazer, as funções da fertilidade - tudo sempre conjuntamente relacionado ao mundo dos deuses. Não se trata, pois, de pornografia, o que poderia parecer a um desavisado. Trata-se de religião, por mais estranha que possa parecer aos olhos de um cristão ocidental - tanto que as esculturas explicitamente sexuais encontram-se, sem exceção, esculpidas nas paredes dos templos do complexo, dentro dos quais encontram-se as representações mais concretas das divindades a que cada templo se dedica.
3. Conforme informado por India Perspectives, há pelo menos três seitas hindus relacionadas aos templos - Shaiva/Shiava, Vaishnava e Jaina -, a que corresponderiam pelo menos um grande templo do complexo. No conjunto, afirma-se que o elemento mais efusivo, mais relevante, mais importante do complexo é... o feminino, o que é muito perceptível, principalmente, nos templos jainistas, onde se observam inúmeras e belas figuras de mulheres em cenas prosaicas. Diz-se que tal se deve à força de sua relação com a fertilidade e a vida.
4. Do grupo ocidental de templos, destaca-se Kandariya Mahādeva. Dedicado a Shiva. Ostenta 646 imagens esculpidas em seus flancos, dentre elas, inúmeras em ato sexual, que, nesse caso, parece impor uma interpretação ritual. Chama a atenção a acentuada presença de mulheres relacionadas ao assim então interpretado rito.
3. Conforme informado por India Perspectives, há pelo menos três seitas hindus relacionadas aos templos - Shaiva/Shiava, Vaishnava e Jaina -, a que corresponderiam pelo menos um grande templo do complexo. No conjunto, afirma-se que o elemento mais efusivo, mais relevante, mais importante do complexo é... o feminino, o que é muito perceptível, principalmente, nos templos jainistas, onde se observam inúmeras e belas figuras de mulheres em cenas prosaicas. Diz-se que tal se deve à força de sua relação com a fertilidade e a vida.
4. Do grupo ocidental de templos, destaca-se Kandariya Mahādeva. Dedicado a Shiva. Ostenta 646 imagens esculpidas em seus flancos, dentre elas, inúmeras em ato sexual, que, nesse caso, parece impor uma interpretação ritual. Chama a atenção a acentuada presença de mulheres relacionadas ao assim então interpretado rito.
5. Outro imponente templo é o de Lakshmana, dedicado a Vishnu: "a viga na entrada desse templo dedicado ao Senhor Vişņu demonstra a santa trindade de Brahman, Vişņu e Śiva com a deusa Lakşmī, companheira de Vişņu. O santuário foi enfeitado com o ídolo de três cabeças das incarnações de Vişņu incluindo Nārasimha e Varaha". Algumas das cenas sexuais mais explíticas de todo o complexo se encontram nesse templo - e dificilmente se poderia desconsiderar sem mais nem menos uma hipótese de religião de fertilidade a partir de relevos exibindo, ao mesmo tempo, várias cenas de relação sexual e, mesmo, entre mais de duas pessoas. Além disso, há cenas de relação sexual - ritual? - entre uma pessoa e um animal, suficientemente explícita para não passar despercebida. Se não se quiser simplesmente interpretar a cena por meio da configuração moderna de sexo bizarro, o contexto templário talvez aponte para racionalizações religiosas radicalmente diferentes daquele recorte propriamente moral do cristianismo.
6. O templo Chitragupta, dedicado ao Deus Sol, Surya.
7. O templo de Visvanatha, dedicado a Brahma.
10. "O Templo de Pārśavanātha do grupo do leste, é o maior dos três templos Jainas. A imagem de Ādinātha de mármore preto no santuário foi colocada em 1860. Ele tem esculturas maravilhosas de casais divinos e damas celestiais. As mais exóticas são a de Śiva-Pārvatī, de uma linda mulher tirando um espinho do seu pé e outra pintando os seus olhos". Não foi fácil encontrar as imagens!
11. Ao sul, cerca de 5 km do complexo oeste, fica o templo de Duladeo, também dedicado a Shiva.
12. Ainda ao sul, situa-se o templo de Chandela, cujo "santuário tem a mais exótica imagem de culto de Śiva com nove pés de altura, uma obra de arte de Khajuraho". Somam-se a esses, ainda, os templos de Ghantai e de Chausat Yogini, o mais antigo do complexo de Khajuraho.
13. Olhando para cada templo, cada escultura, percebe-se o quanto são diferentes as culturas do mundo, suas religiões, seus cultos, suas práticas, suas crenças. É preciso esforço não apenas para sair-se de seu próprio lugar, e, então, compreender-se o lugar do outro, mas igualmente, para compreender-se que o próprio lugar é tão estranho a olhos terceiros do que o deles, para nós, por mais que a nós nos pareceça bastante "natural" a nossa própria prática religiosa. Ora, eventualmente alguém haveria de considerar que o sexo e a sexualidade, naturalíssimos (por exemplo, na religião tântrica), sejam sumamente mais compreensíveis como expressão religiosa do que, por exemplo, a morte de cruz. Afinal, não foi justamente ela escândalo e tropeço para judeus e gregos? Pois então...
13. Olhando para cada templo, cada escultura, percebe-se o quanto são diferentes as culturas do mundo, suas religiões, seus cultos, suas práticas, suas crenças. É preciso esforço não apenas para sair-se de seu próprio lugar, e, então, compreender-se o lugar do outro, mas igualmente, para compreender-se que o próprio lugar é tão estranho a olhos terceiros do que o deles, para nós, por mais que a nós nos pareceça bastante "natural" a nossa própria prática religiosa. Ora, eventualmente alguém haveria de considerar que o sexo e a sexualidade, naturalíssimos (por exemplo, na religião tântrica), sejam sumamente mais compreensíveis como expressão religiosa do que, por exemplo, a morte de cruz. Afinal, não foi justamente ela escândalo e tropeço para judeus e gregos? Pois então...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
1. Para as informações histórico-arqueológicas, cf. Rohini Sharma, Khajuraho - Where Sensual Meets the Sublime, India Perspectives, número de novembro, 2005, disponível na página do Ministério das Relações Exteriores da Índia. Alternativamente, uma tradução do artigo encontra-se disponível na página da Fundação Maitreya, disponível aqui. De posse das informações do artigo, elaborei a presente postagem, utilizando-se de informações e imagens disponíveis na Internet, utilizando-me dos inestimáveis serviços do Google, onde os créditos podem ser recuperados.
2. Para uma aproximação à sexualidade em contexto tântrico/oriental, com referências ao complexo de Khajuraho, cf. Paulo A. E. Borges, Experiência sexual e iluminação na tradição tântrica.
1. Para as informações histórico-arqueológicas, cf. Rohini Sharma, Khajuraho - Where Sensual Meets the Sublime, India Perspectives, número de novembro, 2005, disponível na página do Ministério das Relações Exteriores da Índia. Alternativamente, uma tradução do artigo encontra-se disponível na página da Fundação Maitreya, disponível aqui. De posse das informações do artigo, elaborei a presente postagem, utilizando-se de informações e imagens disponíveis na Internet, utilizando-me dos inestimáveis serviços do Google, onde os créditos podem ser recuperados.
2. Para uma aproximação à sexualidade em contexto tântrico/oriental, com referências ao complexo de Khajuraho, cf. Paulo A. E. Borges, Experiência sexual e iluminação na tradição tântrica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário