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2. Voar ele não voou de fato. Ele sabia que não voava, que caía para o abismo, para a morte, para o abismo da morte. Mas não estava nem aí... Ele chora aquela lágrima tanto de satisfação pelo vôo, quanto pela ciência que tem de seu destino. Por outro lado, o que a vida não lhe deu, da vida mesma ele tomou - e, contudo, ele não se despreza: ainda que pequenas, ele as bate, suas asas, suas então gigantescas asas, ele as bate... Ele é quase um Übermensch, ainda que tenha se superado para ser ele mesmo. Ora, mas de todo modo, superar-se, e ser sempre si mesmo, não é, afinal, ser humano? A vida toda não, é, afinal, nada mais do que cair para o abismo da morte, conquanto podemos inventar mitologias de subir para a vida? Kiwi juntou os dois pólos - caiu para a vida, subiu para a morte...
3. Gosto do vôo de Kiwi. Ele o faz só. Não arrasta ningém em seu delírio. Seu mito o satisfaz, e ele o cria para si, por si, sozinho. Talvez essa seja a minha proximidade com o pequeno Kiwi - eu faço meu próprio mito, e o vivo. Não é fácil construí-lo - ainda mais sozinho. É muita árvore para fazer subir abismo acima, é muito prego a martelar, é muita corda a subir e descer, e, sobretudo, é muito pouca asa... Mas o que podemos fazer, se a única coisa que podemos fazer é justamente isso?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Um comentário:
Chorei. Kiwi fez-me chorar. Seu voo-sonho me fez chorar. Não sei direito o que dizer de Kiwi. Vou arriscar.
Kiwi não quer sobreviver, quer VIVER. Ainda seja por alguns segundos. Quer viver o sonho de sua vida mesmo que isso custe a própria existência. Kiwi salta para a realização de sua vida, a vida que ele sonhou e quis realizar.
Será que fui feliz? Não sei. Kiwi me impactou mais que as milhares de mensagens que ouvi até hoje.
Robson Guerra.
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