1. Hanna Wolff, sim, parece-me uma presença "compreensível" na lista de Paulo. Não ficaria muito bem ao lado de Madeleine Arondel-Rohaut, mas ficaria muito bem ao lado de Erna Van de Winckel, cada qual com sua abordagem peculiar, mas, ambas, explicitamente teológico-religiosas, conquanto mediadas por uma "persona" de orientação psicológica, sempre junguiana. Bem, penso que a Hanna Wolff a que Paulo tenha se referido seja a autora de Jesus Psicoterapeuta: o comportamento de Jesus em relação ao homem como modelo da moderna psicoterapia, publicado pela Paulinas em 1988. Cheguei a suspeitar, dada a presença de Madeleine Arondel-Rohaut na lista de Paulo, tratar-se aquela Hanna Wolf, a autora de Serving the People's Cause: On the Occasion of the 20th Anniversary of the Socialist Unity Party of Germany. Desden: Verlag, 1966, mas, tão logo me deparei com Jesus Psicoterapeura, concluí que errara o alvo - e Paulo, o nome: é Hanna Wolff, e não Hanna Wolf.
2. Hanna Wolf está diretamente ligada à escola da psicologia profunda junguiana, tendo publicado, nesse campo, Jesus na Perspectiva da Psicologia Profunda, São Paulo: Paulinas, 1994. De modo internamente coerente, é autora, ainda, da reveladora obra Jesus Universal. A imagem de Jesus no contexto da cultura hindu, São Paulo: Paulinas, 1995.
3. O tipo de abordagem a que Hanna Wolff se dedica em Jesus Psicoterapeuta não possui qualquer tipo de sustentação histórico-crítica. O "Jesus" que se pensa, aí, servir de modelo para uma "terapêutica moderna", meu Deus!, é um construto literário de variadíssimas perspectivas. Naturalmente que a autora há de montar um perfil de "Jesus" que seja aquele de interesse de seu modelo "terapêutico", estratégia que os teólogos de direita e de esquerda, igualmente engajados, usam há séculos: há Jesus para todo gosto no Novo Testamento, do revolucionário, amigo de zelotes e sicários, até aquele próximo-gandhiano, praticamente um monge hindu, passando pelas figuras simbólicas de rei, profeta, rabino, messias, taumaturgo e mais que o valha. Tem-se que ignorar ou olvidar tudo quanto a pesquisa a respeito do Jesus histórico e os avanços da exegese histórico-crítica e histórico-social construiu para alimentar-se uma retórica desse tipo. Alguém aí está sob o regime da "deception" - seja de si, seja de terceiras consciências.
4. Mais uma vez, devo admitir que não disponho mais do perfil psicológico para me dedicar a esse tipo de literatura. Primeiro, porque ele se encontra para além da simples catequese - já se trata de racionalização doutrinária, travestida em ciências humanas: terapia! Não posso, sob nenhuma circunstância, endossar esse tipo de "trabalho". Se me causa fastio uma teologia escolástica alfarrábica, de gabinete, quanto mais não me causará urticária uma instrumentalização dessa mitologia mais rasteira da teologia em modelos de "terapia"... moderna! Já nos chegam as "pedagogias" de Jesus...
5. Não direi que as pessoas, mesmo Hanna Wolff, não têm o direito de pensarem, refletirem e escreverem sobre o que bem entendem. Têm, sim. Só deve ficar claro aos nossos leitores, contudo, que Peroratio está um pouco mais interessado em perspectivas mais refutáves, mais científico-humanistas. Ah, e é bom advertir, Ciências Humanas não se fazem a partir de axiomas religiosos e teológicos, antes, eventualmente hão de se debruçar sobre eles, revelando seus conteúdos não poucas, não raras vezes, mitológico.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Hanna Wolf está diretamente ligada à escola da psicologia profunda junguiana, tendo publicado, nesse campo, Jesus na Perspectiva da Psicologia Profunda, São Paulo: Paulinas, 1994. De modo internamente coerente, é autora, ainda, da reveladora obra Jesus Universal. A imagem de Jesus no contexto da cultura hindu, São Paulo: Paulinas, 1995.
3. O tipo de abordagem a que Hanna Wolff se dedica em Jesus Psicoterapeuta não possui qualquer tipo de sustentação histórico-crítica. O "Jesus" que se pensa, aí, servir de modelo para uma "terapêutica moderna", meu Deus!, é um construto literário de variadíssimas perspectivas. Naturalmente que a autora há de montar um perfil de "Jesus" que seja aquele de interesse de seu modelo "terapêutico", estratégia que os teólogos de direita e de esquerda, igualmente engajados, usam há séculos: há Jesus para todo gosto no Novo Testamento, do revolucionário, amigo de zelotes e sicários, até aquele próximo-gandhiano, praticamente um monge hindu, passando pelas figuras simbólicas de rei, profeta, rabino, messias, taumaturgo e mais que o valha. Tem-se que ignorar ou olvidar tudo quanto a pesquisa a respeito do Jesus histórico e os avanços da exegese histórico-crítica e histórico-social construiu para alimentar-se uma retórica desse tipo. Alguém aí está sob o regime da "deception" - seja de si, seja de terceiras consciências.
4. Mais uma vez, devo admitir que não disponho mais do perfil psicológico para me dedicar a esse tipo de literatura. Primeiro, porque ele se encontra para além da simples catequese - já se trata de racionalização doutrinária, travestida em ciências humanas: terapia! Não posso, sob nenhuma circunstância, endossar esse tipo de "trabalho". Se me causa fastio uma teologia escolástica alfarrábica, de gabinete, quanto mais não me causará urticária uma instrumentalização dessa mitologia mais rasteira da teologia em modelos de "terapia"... moderna! Já nos chegam as "pedagogias" de Jesus...
5. Não direi que as pessoas, mesmo Hanna Wolff, não têm o direito de pensarem, refletirem e escreverem sobre o que bem entendem. Têm, sim. Só deve ficar claro aos nossos leitores, contudo, que Peroratio está um pouco mais interessado em perspectivas mais refutáves, mais científico-humanistas. Ah, e é bom advertir, Ciências Humanas não se fazem a partir de axiomas religiosos e teológicos, antes, eventualmente hão de se debruçar sobre eles, revelando seus conteúdos não poucas, não raras vezes, mitológico.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Um comentário:
Acabei de ler Jesus Psicoterapeuta, por exigência de uma disciplina na pós em Aconselhamento.Vim para a internet para ver se alguém poderia fazer uma análise (boa) do livro e logo me deparei com seu arrazoado. Que bom. Não estou sozinha no que penso e tem gente como você que sabe, ponto por ponto, fazer uma excelente crítica. um abraço, Osvaldo. Cynthia Jacobson Berzins
Postar um comentário