1. Minha tese de doutorado defendeu que a concepção que temos da "Criação" está contaminada pela "lente" da filosofia helênica tardia, e que, por conta disso, não conseguimos, salvo se submetermo-nos à crítica histórico-social da tradição, enxergar como os próprios habitantes do mundo próximo oriental enxegavam o mundo e, sendo assim, concebiam suas mitologias de criação.
2. Primeiro de tudo: os conceitos de criação próximo-orientais eram reduzidos às cidades sob as quais os respectivos deuses e reis governavam. Os deuses do Egito criram o Egito, os da Babilônia, a Babilônia, os da Assíria, a Assíria, os da Pérsia, a Pérsia, os de Mari, Mari (até aí, os teólogos vão bem), os de Israel, Israel, os de Judá, Judá (aí é que os teólogos param, mesmo um excelente, como Walter Brueggemann, mas não só ele).
3. Em 1986, Magnus Ottossom já o havia dito com relação a Gn 2-3, e eu o disse, agora, em relação a Gn 1,1-2,4a - a criação, ali, é, apenas e tão-somente, a criação de Judá. Em termos exegéticos, trata-se de uma constatação provavelmente inequívoca, arrisco dizer, a considerar o material exegético disponível na própria Bíblia Hebraica. O problema é conseguirmos "ver" esse conceito com os olhos astrofísicos-metafísicos que ganhamos da tradição helênico-ocidental. Como é que eles conseguiam imaginar a criação como sendo, apenas, seu próprio território, sua gente e seu rei, a sua terra, como sendo um prato?
4. Pois bem, acabei de descobrir um modo de a gente conseguir visualizar o conceito próximo-oriental através de nossa lente planetária - com a qual eles não trabalhavam, já que imaginavam o mundo como um "prato", flutuando, sustentado por colunas, sobre águas cosmogônicas abissais.
5. Deu na BBC - Brasil: Alexandre Duret-Lutz, engenheiro em informática e professor da Escola de Engenheiros em Informática em Paris, criou uma técnica de transformar em "planetas" imagens fotográficas de todo o ambiente à volta do fotógrafo: "para criar imagens de 360 por 180 graus, é preciso tirar fotos em todas as direções, incluindo o céu e o solo, para poder reconstruir a esfera". É fantástico o efeito visual - olhando para cada fotografia, pode-se fazer-de-conta que assim era a concepção cosmogônica próximo-oriental, sob a condição de ser imaginada sob a nossa ótica cosmo-planetária. Está bem, é uma brincadeira, mas não deixa de ser instrutiva...
6. Se você quer ver em tamanho grande as fotografias trabalhadas por Duret-Lutz, vá ao Oráculo, digite o nome "Duret-Lutz", peça para o oráculo revelá-lo apenas imagens grandes e, então, prepare-se para uma extraordinária experiência estético-heurística. Adianto alguns endereços em que há imagens disponíveis: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui (as imagens são maiores do que a tela de seu PC). Essas são as maiores que encontrei (e salvei-as, caso desapareçam da rede), mas há outras, centenas, de dimensões menores.
7. Quando estiver olhando as fotografias digitalmente trabalhadas e imaginando como é que os antigos, mesmo os escritores da Bíblia, conseguiam conceber a "criação" como uma cidade, seu povo e seu rei, sem nenhuma das categorias cosmológicas, astrofísicas, filosóficas e teológicas que caracterizam a nossa visão tanto moderna quanto religiosa, aproveite para um exercício de alteridade - pergunte-se como soaria não absolutamente estranho para eles imaginar que acreditamos que vivemos em uma bola de pedra, ferro, fogo e água que, por sua vez, flutua num mar de coisa nenhuma. Oh, sim, haveriam de nos ter por hereges...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Primeiro de tudo: os conceitos de criação próximo-orientais eram reduzidos às cidades sob as quais os respectivos deuses e reis governavam. Os deuses do Egito criram o Egito, os da Babilônia, a Babilônia, os da Assíria, a Assíria, os da Pérsia, a Pérsia, os de Mari, Mari (até aí, os teólogos vão bem), os de Israel, Israel, os de Judá, Judá (aí é que os teólogos param, mesmo um excelente, como Walter Brueggemann, mas não só ele).
3. Em 1986, Magnus Ottossom já o havia dito com relação a Gn 2-3, e eu o disse, agora, em relação a Gn 1,1-2,4a - a criação, ali, é, apenas e tão-somente, a criação de Judá. Em termos exegéticos, trata-se de uma constatação provavelmente inequívoca, arrisco dizer, a considerar o material exegético disponível na própria Bíblia Hebraica. O problema é conseguirmos "ver" esse conceito com os olhos astrofísicos-metafísicos que ganhamos da tradição helênico-ocidental. Como é que eles conseguiam imaginar a criação como sendo, apenas, seu próprio território, sua gente e seu rei, a sua terra, como sendo um prato?
4. Pois bem, acabei de descobrir um modo de a gente conseguir visualizar o conceito próximo-oriental através de nossa lente planetária - com a qual eles não trabalhavam, já que imaginavam o mundo como um "prato", flutuando, sustentado por colunas, sobre águas cosmogônicas abissais.
5. Deu na BBC - Brasil: Alexandre Duret-Lutz, engenheiro em informática e professor da Escola de Engenheiros em Informática em Paris, criou uma técnica de transformar em "planetas" imagens fotográficas de todo o ambiente à volta do fotógrafo: "para criar imagens de 360 por 180 graus, é preciso tirar fotos em todas as direções, incluindo o céu e o solo, para poder reconstruir a esfera". É fantástico o efeito visual - olhando para cada fotografia, pode-se fazer-de-conta que assim era a concepção cosmogônica próximo-oriental, sob a condição de ser imaginada sob a nossa ótica cosmo-planetária. Está bem, é uma brincadeira, mas não deixa de ser instrutiva...
6. Se você quer ver em tamanho grande as fotografias trabalhadas por Duret-Lutz, vá ao Oráculo, digite o nome "Duret-Lutz", peça para o oráculo revelá-lo apenas imagens grandes e, então, prepare-se para uma extraordinária experiência estético-heurística. Adianto alguns endereços em que há imagens disponíveis: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui (as imagens são maiores do que a tela de seu PC). Essas são as maiores que encontrei (e salvei-as, caso desapareçam da rede), mas há outras, centenas, de dimensões menores.
7. Quando estiver olhando as fotografias digitalmente trabalhadas e imaginando como é que os antigos, mesmo os escritores da Bíblia, conseguiam conceber a "criação" como uma cidade, seu povo e seu rei, sem nenhuma das categorias cosmológicas, astrofísicas, filosóficas e teológicas que caracterizam a nossa visão tanto moderna quanto religiosa, aproveite para um exercício de alteridade - pergunte-se como soaria não absolutamente estranho para eles imaginar que acreditamos que vivemos em uma bola de pedra, ferro, fogo e água que, por sua vez, flutua num mar de coisa nenhuma. Oh, sim, haveriam de nos ter por hereges...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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