domingo, 11 de novembro de 2018

(2018/001) Da "educação" teológica

1. Dada a natureza da religião e dada a natureza da educação, penso que se pode propor a seguinte "lei": a educação teológica é sempre, invariavelmente, ou submissiva ou não submissiva. Ou ela trabalhará para que o educando submeta-se ao sistema, ou trabalhará para que o educando trabalhe contra ou para fora do sistema.

2. A situação real me parece assim, porque nenhuma religião trabalha para a emancipação do ser humano - nenhuma. Mesmo aquelas que se poderiam sacar nesse contexto para contestar a declaração trabalham com um cenário dado, uma mitologia estabelecida, e operam apenas um leque maior de grades comportamentais, filosóficas, por exemplo. Mas o real é tal e qual ela, a religião, diz que é, e o que os seres humanos devem fazer é isso que ela diz que eles devem fazer, o que ela pode dizer de forma mais ou menos coercitiva.

3. Assim, todo docente de teologia ligado a essa mitologia de fundo vai trabalhar para ela, seja à esquerda, seja à direita. Sim, porque o fato de o docente ser de direita ou de esquerda não altera sua vinculação existencial à plataforma religiosa e mitológica em que ele opera, conquanto ele possa inserir-se um tanto quanto julgadamente autônoma (segundo seus próprios critérios) no jogo de promover o sistema. Um reformador trabalha para o sistema, conquanto seu trabalho possa exigir do sistema algum nível de adaptação. A Reforma e a Contra-Reforma são bons exemplos do que estou dizendo aqui.

4. De outro lado, mesmo aquele docente que se esforça, até o ponto da quase castração, para não "fazer a cabeça" de qualquer aluno, pelo simples fato de dar aos alunos informações reais, de verdade, críticas, dados, fatos, nomes, datas, ocorrências, uma vez que a religião opera com a mitificação e a mistificação do real, da história, da verdade, o processo ensino-aprendizagem há de trincar de alguma forma o castelo de cristal, há de balançar o castelo de cartas, com consequências imprevisíveis. O docente não está ali para trincar o sistema, está para dar aulas, mas, se não mentir, se der aulas como a decência acadêmica manda, o sistema há de estar sob risco de trincar a cada dez minutos de aula. E isso decorre apenas do fato de que esse docente não mente, ele dá aulas como, em tese, é pago para dar... Nada é mais letal para a religião do que a verdade (aqui, operadores pós-modernos do sistema dirão: mas o que é a verdade?, antes da próxima pregação da verdade divina).

5. A educação teológica padrão é a catequese de luxo. Todo o demais, em alguns casos mais, em outros, menos, opera contra o sistema. queira o docente isso ou não. A única forma de o docente não trabalhar contra o sistema é mentir para os alunos, sonegar informação, desenraizar a razão, distrair a reflexão, inculcar dogmas, e, se os alunos ficarem se balançando pra frente pra trás, melhor ainda.



Osvaldo Luiz Ribeiro

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