No contexto da pragmática heurística, cujo objetivo é ler um texto a partir de seu sentido original, dado a ele por seu autor, exegese não é sinônimo de "entender" a narrativa. Para mim, esse é o principal erro, ou, pelo menos, a principal insuficiência das metodologias (um tanto pragmaticamente confusas, porque você nunca sabe o que o intérprete está de fato querendo, se entender o texto, se usar o texto em comunidades de "vida"!) correntes: um esforço colossal para... entender a narrativa!
A narrativa não é o ser. Para empregar essa terminologia do campo filosófico, o ser é o projeto autoral. Aquilo que o autor pretendeu fazer com sua composição, sua razão de ser, esse é o objeto do exegeta heurístico-pragmático. Logo, a função do exegeta é, a partir da narrativa, saltar para a função textual genética.
Nesse caso, personagens são epifenômenos. O enredo narrativo é epifenômeno. Os discursos das personagens são epifenômenos. Há, no texto, um e apenas um fenômeno: a ação programática da consciência autoral, articulando sua obra em razão de um projeto de intervenção social, para o que emprega personagens, que ele controla, as falas desses personagens, que ele elabora, a trama narrativa, que ele roteiriza, o desfecho narratológico, que ele decide.
Se o exegeta gasta sua vida a enamorar-se das personagens, sem dar-se conta de que não têm existência real fora do projeto autoral, ele não é um exegeta.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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