sábado, 6 de março de 2010

(2010/190) Do meu deus


1. Vivo de tal modo que não me é possível mais deixar que meu deus caiba na boca de outrem. Se ouço alguém falar em nome do que ela diz ser "Deus", imediatamente, sentencio, silencionsamente: só se for o teu... Seja pastor, seja ovelha, seja padre, seja coroinha, seja diácono, seja seminarista - seja quem for: meu deus não cabe nessas bocas. Só numa - só na minha...

2. Isso fez de mim uma pessoa imune aos discursos homiléticos, às prédicas pastorais, às homilias semanais, movidas que são pelo motor das citações de "Deus". Não reconheço o deus desses sermões. Se me querem dizer algo, é esse algo que deve ter valor, porque o fato de ser enrolado em papel-deus não me encanta mais...

3. Sim, eu sei as conseqüêcias disso: também meu deus é um deus pessoal, que mora na minha cabeça. Eu sei disso. Foge-se de reconhecer tal fato desde há cento e cinqüenta anos. Mas, no dia em que me contaram, eu vi que era assim, e dei de ombros. Eu não preciso ter o "verdadeiro" Deus na boca, para estar seguro. Basta-me o meu deus, poético, criado e alimentado por mim mesmo, como são os de todos e de cada um. Basta-me, sim, o meu. Porque, de mais a mais, se houver uma única chance de haver o verdadeiro Deus, não há, certamente, de ser a minha mente a sustentá-lo...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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