domingo, 28 de fevereiro de 2010

(2010/169) Sobre os dias privatizados


1. Ano passado, porque meu velho Fiesta 2001 bateu motor, vi-me cortando a distância que separa a Baixada Fluminense, Mesquita, e a Tijuca, Rio de Janeiro - no hodômetro, 37 km - de ônibus (Mesquita-Pavuna) e Metrô (Pavuna-Tijuca). De porta a porta, duas horas para vencer 37 km! Já em si, um absurdo. Mas, somando-se a isso o fato de que o ônibus é do tipo "cata-corno", "bate-lata", as ruas, de Éden e São João de Meriti, um queijo suiço, e o Metrô, uma lata de sardinha, um forno, a situação torna-se um acinte.

2. À época, escrevi uma crônica ((2009/022) Crônica do capital de aço e escárnio), movido pela percepção de que o Metrô transformava as pessoas em animais, todos, amontoados à porta, esperando que ela abra, para, como bichos, correrem a ver quem toma do outro o assento. Humilhação a que eu não podia em submeter, nem que isso me custasse a viagem em pé, entre corpos suados e mal-humorados. Todos os dias. Sem exceção.

3. Essa semana, noticiou-se que o Ministério Público está processando o Metrô, por desrespeito às regras legais de transporte de passageiros. Mediu-se: quase nove pessoas por metro quadrado, dentro de vagões com ar refrigerado tão deficiente, que você sua, em gotas, e sai dali ensopado, mal-humorado, cansado, eventualmente, fedendo. Eu estava certo - a Companhia Metropolitana do Rio de Janeiro trata-nos como animais, assentados seus acionistas e dirigentes sobre nosso dinheiro e dignidade.

4. E é privada a rede... Como a Light. Na década de 70, cantávamos a música Cidade Maravilhosa desse jeito: "Cidade Maravilhosa, cheia de porcaria, de dia falta água, de noite falta energia". E faltava mesmo. Era certo. Se ventasse o suficiente para um dente-de-leão aproveitar e sair voejando, pronto, a luz caía. Se chovesse, pronto, a luz caía. Hoje, 2010, é a mesmíssima coisa aqui em Mesquita - se ventar, desliga o PC, porque vai faltar luz. E falta. Se chover, esquece TV, porque você vai ficar no escuro. Você reclama com a Light - nada. Com a ANEEL, nada. E a desculpa do "maldito" FHC era que a privatzação era para melhorar a vida da gente... A vida de alguém, certamente, melhorou, se me entendem...

5. E querem saber mais? Eu nunca mais vi nenhum carro de manutenção preventiva da Light. Na década de 70, pelo menos, mesmo com aquela certeza absoluta de que a luz ia acabar a qualquer momento de vento e chuva, os carros de manutenção preventiva percorriam as ruas com muita freqüência. Lembro-me dos homens com varas enormes, com fogo na ponta, queimando pipas agarradas nos fios. Pois eu nunca mais vi carros de manutenção. Acabaram. Só há carros de reparos, para enxugar gelo...

6. Agora, a novidade é a Sky. Nunca tivemos TV fechada aqui em casa. Mas Bel gostava de alguns seriados, e decidimos comprar. Há uns seis, sete meses, compramos. Colocam uma antena bacana no seu muro - coisa de altíssima tecnologia! Bel e eu descobrimos uma função muito interessante dessa antena - ela avisa você se vai chover dentro dos próximos dez minutos! Como? É simples - dez minutos antes de qualquer chuva, o sinal cai, a TV vai pro espaço. Quando ela cai, e o sinal some, você cronometra dez minutos, e a chuva cai... Não é fantástico? Dá tempo de você correr e tirar a roupa da corda... Viva a iniciativa privada - você compra um serviço, e ganha outro!

7. O país foi entregue a quem, Deus do céu? As privatizações enriqueceram a poucos, e desgraçaram a vida de muitos. Não vou falar da telefonia - o preço que pagamos por ter telefone e celular é aturar as campeãs de reclamções - debalde! - nos PROCONS da vida. Se falar da Internet, uma vergonha, um crime, um roubo!

8. Viva FHC! Viva as privatizações! Viva o retorno aos anos 70...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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