terça-feira, 26 de maio de 2009

(2009/296) Mão na consciência, Teologia!


1. Que sejamos místicos. Não há nenhum problema nisso. Edgar Morin, gênio vivo e ateu - quer dizer, neo-ateu - confesso, diz-se místico. Eu, um crítico-cético-autônomo, sou místico, e não vejo nisso nenhum problema. O problema é, apenas, nesse campo, o que chamamos de mística - uma mística ou é cética, ou não é mística, é dogmática... E, aí, é transtorno.

2. Mas na academia, não há lugar para dar vasão à mística como regime heurístico, porque a mística não tem sequer conteúdo. A mística é tão-somente uma pulsão vital, uma abertura hermenêutica que rompe a redoma da cosmovisão físico-civilizatória em direção ao Místério (os Mistérios) assim intuído(s) - e apenas assim permanecendo Mistério(s). Nisso não há qualquer possibilidade de fazer-se de ferramenta, qualquer uso possível para a "pesquisa". A mística é, aí, no máximo, respiração.

3. Bem, se a "alma" do pesquisador se deixa encantar pela mística - qual o problema? Se ele não permite que a mística corrompa os "dados" (há uma mística que mente!), se ele não permite que a mística deturpe a realidade (há uma mística que frauda!), qual o problema? Minha insistência neurótica e quase-patológica quanto à interdição dos regimes místico-dogmáticos na academia é meramente instrumental - a mística converte-se em "saber" (o que não é) e pré-determina resultados de pesquisa, pior!, pré-determina questões de pesquisa, que, naturalmente, apenas ela, a mística supostamente bem-informada há de responder - mas mente, porque simplesmente inventa respostas.

4. A insistência de a Teologia em não largar seu vício dogmático, disfarçado que seja em tradição e metáfora, nenhuma diferença, vício conteúdístico, vício terminológico, de teimar em tratar como saber o que é mera crença e mito - essa Teologia será a responsável pelo retorno do obscurantismo religioso do passado em pleno século XXI. Para manter seu discurso em praça pública, a Teologia - os teólogos! - há de amargar o preço de ressuscitar demônios. E lamento profundamente, mas a quem hei de reclamar?, de ser eu também a pagar o preço por esse crime de terceiros.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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