1. Bravo! Bravíssimo! Seu post, Haroldo ((2009/073) Defesa dos empobrecidos), tem a "forma" de uma tarrafa, cuja parte central, a parte superior do "cone" tramado e armado, ainda está na mão do pescador, antes de ela a lançar sobre as águas piscosas, mas em pleno movimento lateral e de impulso. Você tem a mão no "nó" da rede, e a lança. O belo, o belíssimo, é que sabe onde está o nó - aqui: "mas é mito!". Do meu jeito passional de o dizer - isso é lucidez!
2. Até esse nó, Haroldo, eu não faria qualquer sugestão de "correção". Apenas lembraria que aquele era o espírito do tempo, quero dizer, a tudo atribuir causalidade e fundamento divino, conquanto se possam vislumbrar insinuações críticas aqui (Eclesiastes) e ali (Jó, conforme o lê Jack Milles - o Jó da tradição é uma farsa, um "crime").
3. Eu também acho que a profecia crítica (Amós, Miquéias, algum "Isaías") constituía alguma coisa mais para mais essencialmente ação política do que religiosa. Se você tirar o desnecessário da ação, sobra a ação política (exatamente como Clodovis Boff "acaba" de declarar em relação ao "risco" da Teologia da Libertação - o "valor" da TdL é político, logo, é mais verdadeiro, nela, a ação política do que a ação religiosa [conquanto ela ainda aja, politicamente, com base no mito, mito esse que Clodovis Boff, contudo, toma por "ontologia revelada", sendo essa, afinal, a razão de sua crítica]). Muito pouco mesmo eu recusaria da "leitura" da profecia crítica que aprendemos a fazer na academia latino-americana, também em Gottwald. Mas concordemos - a retórica religiosa, ali, é adorno cultural.
4. Até ontem, ainda, o argumento teológico era a base de toda operação social e humana (a sociedade "laica" e "emancipada" é um experimento muito recente). Na época de Jesus, e de Mateus, o mito operava de forma universal, seja na direita, seja na esquerda. O mito sempre foi o mar no qual a política navegou, desde que a política olhou e viu, no mito, uma plataforma excelente. Ninguém o demonstra melhor do que Marcel Detienne em A Invenção da Mitologia, uma denúncia do embuste que foi - e é - a epistemologia de Platão - cínica e a serviço do poder. Nesse sentido, que a esquerda, que os pobres, tenham se servido de contra-mitos é muito natural, conquanto eu não duvide que muito pobre, à época, tenha escrito o nome "Yahweh" na terra, cuspido e pisado, porque o que ele podia ver, de concreto, n/desse "Yahweh", era a face cruel do sacerdócio, ainda pior que a do rei. Mas era preciso um deus para vencer um deus...
5. O problema, meu amigo, é a nossa situação axial. Eu não posso, mais, usar o mito nem contra nem a favor de ninguém, porque eu sei que isso é manipulação de cosnciência, uma vez que a pessoa com quem lido não tem consciência da condiçlão de mito do conteúdo de minha fala (vale o mesmo para a "teologia como metáfora", de cuja condição epistemológica o "fiel" está alienado). Além disso, no que diz repeito à comunidade teológica, essa "informação" - teologia é mito - encontra-se disponível, e, tendo-o dito, reporto-me, e a você, ao conteúdo de meus últimos posts sobre esse tema.
6. Sim, sim, sim - havemos de defender os empobrecidos. Mais do que isso: fazer deles ex-empobrecidos, ajudá-los, em todos os sentidos, heurístico, político, estético, a saírem da condição de empobrecidos. A fome de pão que têm é apenas um aspecto de sua pobreza. Sua pobreza heurística ainda é mais grave, conquanto não necessariamente mais urgente, que a fome há de matá-los antes que aprendam a ler. Todavia, é urgente, também, a sua emancipação noológica, a sua introdução na sociedade contemporânea - e, cá entre nós, meu amigo, não se alcançará tal resultado, pelo contrário!, fazendo-os se mexer à força do mito.
7. Não, não precisamos recuar em relação ao engajamento político de um Amós, para citar seu "herói". Amós é infinitamente mais útil e relevante para nós do que Malaquias, por exemplo. absolutamente dispensável. Amós, ainda não! O trabalho que ele começou ainda não foi terminado e, tomara, Jesus tenha sido péssimo profeta, posto ter profetizado que a pobreza é mal sem cura. No entanto, devemos nos perguntar se a nossa fidelidade a Amós está na repetição de seu discurso - "rugiu o leão, quem não temerá, falou Yahweh, quem não profetizará" -, ou na repetição de sua prática: a fome dos pobres pode ser curada sem que, para isso, sejam ainda mais atolados na alienação da consciência.
8. Viva Amós! Nele, o mito é perdoável...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Até esse nó, Haroldo, eu não faria qualquer sugestão de "correção". Apenas lembraria que aquele era o espírito do tempo, quero dizer, a tudo atribuir causalidade e fundamento divino, conquanto se possam vislumbrar insinuações críticas aqui (Eclesiastes) e ali (Jó, conforme o lê Jack Milles - o Jó da tradição é uma farsa, um "crime").
3. Eu também acho que a profecia crítica (Amós, Miquéias, algum "Isaías") constituía alguma coisa mais para mais essencialmente ação política do que religiosa. Se você tirar o desnecessário da ação, sobra a ação política (exatamente como Clodovis Boff "acaba" de declarar em relação ao "risco" da Teologia da Libertação - o "valor" da TdL é político, logo, é mais verdadeiro, nela, a ação política do que a ação religiosa [conquanto ela ainda aja, politicamente, com base no mito, mito esse que Clodovis Boff, contudo, toma por "ontologia revelada", sendo essa, afinal, a razão de sua crítica]). Muito pouco mesmo eu recusaria da "leitura" da profecia crítica que aprendemos a fazer na academia latino-americana, também em Gottwald. Mas concordemos - a retórica religiosa, ali, é adorno cultural.
4. Até ontem, ainda, o argumento teológico era a base de toda operação social e humana (a sociedade "laica" e "emancipada" é um experimento muito recente). Na época de Jesus, e de Mateus, o mito operava de forma universal, seja na direita, seja na esquerda. O mito sempre foi o mar no qual a política navegou, desde que a política olhou e viu, no mito, uma plataforma excelente. Ninguém o demonstra melhor do que Marcel Detienne em A Invenção da Mitologia, uma denúncia do embuste que foi - e é - a epistemologia de Platão - cínica e a serviço do poder. Nesse sentido, que a esquerda, que os pobres, tenham se servido de contra-mitos é muito natural, conquanto eu não duvide que muito pobre, à época, tenha escrito o nome "Yahweh" na terra, cuspido e pisado, porque o que ele podia ver, de concreto, n/desse "Yahweh", era a face cruel do sacerdócio, ainda pior que a do rei. Mas era preciso um deus para vencer um deus...
5. O problema, meu amigo, é a nossa situação axial. Eu não posso, mais, usar o mito nem contra nem a favor de ninguém, porque eu sei que isso é manipulação de cosnciência, uma vez que a pessoa com quem lido não tem consciência da condiçlão de mito do conteúdo de minha fala (vale o mesmo para a "teologia como metáfora", de cuja condição epistemológica o "fiel" está alienado). Além disso, no que diz repeito à comunidade teológica, essa "informação" - teologia é mito - encontra-se disponível, e, tendo-o dito, reporto-me, e a você, ao conteúdo de meus últimos posts sobre esse tema.
6. Sim, sim, sim - havemos de defender os empobrecidos. Mais do que isso: fazer deles ex-empobrecidos, ajudá-los, em todos os sentidos, heurístico, político, estético, a saírem da condição de empobrecidos. A fome de pão que têm é apenas um aspecto de sua pobreza. Sua pobreza heurística ainda é mais grave, conquanto não necessariamente mais urgente, que a fome há de matá-los antes que aprendam a ler. Todavia, é urgente, também, a sua emancipação noológica, a sua introdução na sociedade contemporânea - e, cá entre nós, meu amigo, não se alcançará tal resultado, pelo contrário!, fazendo-os se mexer à força do mito.
7. Não, não precisamos recuar em relação ao engajamento político de um Amós, para citar seu "herói". Amós é infinitamente mais útil e relevante para nós do que Malaquias, por exemplo. absolutamente dispensável. Amós, ainda não! O trabalho que ele começou ainda não foi terminado e, tomara, Jesus tenha sido péssimo profeta, posto ter profetizado que a pobreza é mal sem cura. No entanto, devemos nos perguntar se a nossa fidelidade a Amós está na repetição de seu discurso - "rugiu o leão, quem não temerá, falou Yahweh, quem não profetizará" -, ou na repetição de sua prática: a fome dos pobres pode ser curada sem que, para isso, sejam ainda mais atolados na alienação da consciência.
8. Viva Amós! Nele, o mito é perdoável...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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