segunda-feira, 9 de março de 2009

(2009/076) Bíblica e Sistemática


1. No último post, Osvaldo toca em assunto sério e complexo. Destaco o parágrafo final como de fato culminante da exposição. "A História da Teologia deixa de ser uma disciplina apologética - como é a TS - e converte-se em instrumento da crítica histórica, necessária ao aperfeiçoamento da sociedade humana". Com essa sugestão ou proposta - a da TS virar História da Teologia - ela se tornaria disciplina interessante, embora, em si, já exista em várias matrizes curriculares. Mas aí ela deixaria de ser aquilo para o que foi destinada: canteiro de aprimoramento da espécie 'teologia-mito'.

2. Passei por uma experiência interessante - e estressante - nos últimos meses. Por conta de um dinheiro extra para uma viagem a Israel, aceitei trabalhar nas férias fazendo revisão de um obra de envergadura: a Teologia Sistemática, de Wolfhart Pannenberg. Devo, porém, dizer que, desde os tempos de faculdade, nos idos tempos do Morro do Espelho, em São Leopoldo, não havia mais lido 'teologia sistemática' com afinco. Por isso, aceitei também como uma espécie de 'revisão geral'.

3. É fascinante o esforço deste 'sistemático' em produzir um sistema teológico coerente, acessando praticamente todos os campos do conhecimento para dar plausibilidade à sua tese principal da atuação trinitária do Deus. É um exercício intelectual digno de nota e admiração.

4. Para salvaguardar os conteúdos que já gozam de estatuto doutrinário desde os primeiros séculos da era cristã, contudo, o autor precisa fazer alguns 'sacrifícios'. Um deles, logo no primeiro volume, é a desconsideração de qualquer perspectiva fenomenológica da construção dos conteúdos. Neste sentido, o século XIX é convidado gentilmente a não permanecer para além de alguns capítulos daquele volume. E há aí discussões muito interessantes. Por exemplo, o fato de que todas das religiões operam em plataforma mítica. Até para alguns blocos de conteúdo teológico-cristã, o autor chega a postular a mesma operacionalidade. Contudo, aí entra o bloqueio doutrinário... e a saída é a reconstituição do conteúdo dogmático. Outro 'sacrifício' é um diálogo eclético com a exegese bíblica. Basicamente ele se dá ali onde se pode acessar autores que se mantêm nos limites doutrinários. A perspectiva histórico-social deve ficar de fora, pois ela não faria par no compasso da dança em maestria de movimentos.

5. A Teologia Sistemática, de Pannenberg, sem deixar de ser, no fundo, mito-producente e mito-atualizante, faz as vezes de 'história da teologia'. Há aí trechos que certamente contribuirão em muito para a cultura teológica brasileira.

6. A desconexão entre 'teologia sistemática' e 'teologia bíblica', apesar de todos os aggiornamenti [!?] é evidente. E a desconexão se torna especialmente visível ali onde a história - seja lá por qual acesso teórico - é colocada entre parênteses.

7. Haverá outros caminhos?


HAROLDO REIMER

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