1. Parece ser assim que a irrupção dos empobrecidos no campo da ética e do hoje chamaríamos de 'cidadania' se deu,de forma mais marcante, no contexto do antigo Israel. Lá, na tradição hebraica, está alojada em meio às falas de personagens proféticos. Antes e apesar de sua sobrecarga doutrinária, algumas destas figuras podem, com boa probabilidade, ter estado vinculadas com o que hoje chamaríamos de 'movimentos sociais'. Isso eu defendi na minha de doutorado e não creio que esteja superado. Conjuntos de leis acolheram os ecos de denúncias, críticas e converteram os empobrecidos, os personae miserae, em objetos de ações 'ético-sociais' de parte dos mais favorecidos. O livro de Deuteronômio mostra isso muito bem. Tanto aí quanto também em uma série de provérbios, invoca-se Deus como garantidor da defesa de tais pessoas. Em jogo está a dignidade de pessoas face aos avanços de um sistema - claro com pessoas em postos-chave - que cada vez mais humilha, subjuga, explora.
2. No período persa e mais ainda com o avanço dos gregos sobre o Levante, as relações de opressão e subjugação se tornam ainda mais acirradas. Há fragmentação e fragilização das relações familiares tradicionais. Os habitantes tradicionais são, em grande medida, desapropriados e afirmados como servos sobre a terra do governante. A miserabilização se torna mais evidente. Bem o mostra o livro de Jó. Aí nem Deus não servia mais como poder coercitivo para frear os desejos e os interesses dos poderosos.
3. Essa tendência à miserabilização ganha contornos mais crueis nos tempos da 'virada dos tempos'. Creio que o evangelista Mateus, em seu capítulo 25, conseguiu elaborar a tentativa mais ousada de formular uma defesa 'divina' dos empobrecidos, humilhados, presos, cativos, enfermos, enfim os pobres do mundo de então. Propôs ver o protagonista principal do novo movimento religioso - Jesus - diretamente identificado com os pobres!
4. A função desta construção mítico-histórica é a defesa da dignidade de pessoas empobrecidas em um mundo - de então - cada vez mais cruel e violento. Mas é mito!
5. Talvez muito deste - provável - sentido original tenha se perdido no cipal retórico e político.
6. Operando de modo mítico, a força subversiva ainda produz seus frutos hoje. Mas há de se ter consciência dessa operacionalidade. Também os pescadores e os habitantes dos povoados entravam na cidade da República para cantar seus mythoi, embora tenham prevalecido os mitos dominantes - dos dominantes.
7. Teologia opera neste nível, outorgando sentidos.
ps 1: Concordo com Osvaldo que o Estado com suas leis humanitárias perfeitamente assumiu o lugar de Deus como referência do valor da dignidade dos empobrecidos. Mas aí se está na esteira de um cristianismo ético, sem o escudo e e o poder do estado totalitário.
ps2: Amar em nome de alguém é perversão da beleza do encontro direto. É heterenomia; é consciência cativa à vontade de outrem.
HAROLDO REIMER
2. No período persa e mais ainda com o avanço dos gregos sobre o Levante, as relações de opressão e subjugação se tornam ainda mais acirradas. Há fragmentação e fragilização das relações familiares tradicionais. Os habitantes tradicionais são, em grande medida, desapropriados e afirmados como servos sobre a terra do governante. A miserabilização se torna mais evidente. Bem o mostra o livro de Jó. Aí nem Deus não servia mais como poder coercitivo para frear os desejos e os interesses dos poderosos.
3. Essa tendência à miserabilização ganha contornos mais crueis nos tempos da 'virada dos tempos'. Creio que o evangelista Mateus, em seu capítulo 25, conseguiu elaborar a tentativa mais ousada de formular uma defesa 'divina' dos empobrecidos, humilhados, presos, cativos, enfermos, enfim os pobres do mundo de então. Propôs ver o protagonista principal do novo movimento religioso - Jesus - diretamente identificado com os pobres!
4. A função desta construção mítico-histórica é a defesa da dignidade de pessoas empobrecidas em um mundo - de então - cada vez mais cruel e violento. Mas é mito!
5. Talvez muito deste - provável - sentido original tenha se perdido no cipal retórico e político.
6. Operando de modo mítico, a força subversiva ainda produz seus frutos hoje. Mas há de se ter consciência dessa operacionalidade. Também os pescadores e os habitantes dos povoados entravam na cidade da República para cantar seus mythoi, embora tenham prevalecido os mitos dominantes - dos dominantes.
7. Teologia opera neste nível, outorgando sentidos.
ps 1: Concordo com Osvaldo que o Estado com suas leis humanitárias perfeitamente assumiu o lugar de Deus como referência do valor da dignidade dos empobrecidos. Mas aí se está na esteira de um cristianismo ético, sem o escudo e e o poder do estado totalitário.
ps2: Amar em nome de alguém é perversão da beleza do encontro direto. É heterenomia; é consciência cativa à vontade de outrem.
HAROLDO REIMER
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