segunda-feira, 2 de março de 2009

(2009/040) Bem-vindos os kardecistas!


1. Ora, viva!, depois de uma Faculdade de Teologia Umbandista - FTU, brinda-nos o MEC, agora, com uma Faculdade de Teologia Kardecista: Faculdade Doutor Leocádio José Correia - FALEC. E já há um tempinho: cochilei - desde 2006 ela escontra-se reconhecida. Se não deixei escapar nada, já somos três "tradições religiosas" a ensinar Teologia no MEC. A rigor, a ensinar doutrina...

2. Aguardo ansiosamente que outras expressões religiosas sejam igualmente credenciadas e reconhecidas - Budismo, Candomblé, Queto, Gege, Seicho-no-iê, Hare-Krishna, Mormonismo, a Sociedade Torre de Vigia, os Rosa-Cruzes, a Nova Era, cadê a Nova Era?, o Islamisno, até, eventualmente, Ateologia e Satanismo. Também a Xuxa podia abrir uma para o estudo teológico dos duendes. Tomara não demorem muito...

3. Aí é esperar o provão do MEC pra ver...

4. Essa situação ilustra bastante bem uma "lei" própria das forças represadas - quando vencem a represa, dá-lse a destruição de tudo à frente, até que as águas acentem, se nivelem. Depois de cem anos de universidade positivista no Brasil, pressões "religiosas" (naturalmente, "cristãs - Haroldo, me corrija) lograram êxito em conceder "cidadania" aos cursos (que se credenciarem) de Teologia. Ainda, "naturalmente", uma vez que a decisão foi, além de política, às portas fechadas, nenhum critério epistemológico foi discutido (nem sei se poderia ter sido, uma vez que a Teologia, para o que basta lerem-se os artigos que abundam a dimensão do Oráculo [Google], tal qual ela é, considera-se "ciência", e se recusa (até Jimmy, agora, refuga!) a admitir os critérios epistemológicos do jogo científico, preferindo a dimensão da mística estético-política), e a Teologia, então, entrou como era: macacos-aranha numa loja de cristais...

5. Com a enxurrada de confissões agregadas, das duas uma: ou as Teologias, de forma corporativa, hão de inventar uma (pseudo)Epistemologia para si (e, assim, criar uma retórica, como a de Habermas, já alhures "consultado"), o que seria uma verdadeira desgraça, do ponto de vista do conhecimento, ou, antes, tornar-se-á tão constrangedor trazer para a academia as "verdades" absolutas, antagônicas e concorrentes das diversas pretendentes à portadoras da Luz Divina, que o próprio ridículo tratará de expor a nudez do rei, se houver alguém com olhos na cara para ver, claro...

6. Seja como for, a regra é essa: qualquer confissão pode entrar. Então, torço, muito, mas muito, para que entrem, logo, todos, que encham o MEC de confissões. Mais cedo ou mais tarde, a massa fermenta. Aí a gente vê no que deu essa farra. O estapeamento que a República tolera entre as religiões fora da sala de aula, ela, a República, acha que não acontecerá dentro delas? Vamos esperar para ver...

[7. Para quem acha que pego pesado (I), um detalhe: todas elas, passam da casa da centena, têm, em seu currículo, as disciplinas básicas das Ciências Humanas: Antropologia, Sociologia, Psicologia etc. Algumas, até Matemática têm. Pergunto: para quê?, se o que se segue, no núcleo próprio da "Teologia" não presta nenhuma, absolutamente nenhuma satisfação ao que se aprende/ensina nesse núcleo comum? É ou não é "para inglês ver", um acinte à inteligência humana? Do modo como a Teologia é e funciona, mesmo no MEC, é ela quem dá as cartas, e é ela quem diz às Ciências Humanas o que elas podem e não podem estabelecer].
[8. Para quem acha que pego epsado (II), eu penso que a Teologia deveria discutir com seriedade, e em conjunto com os titulares das Ciências Humanas - não comprometidos com a Teologia! -, seu estatuto epistemológico. As discussõs que se desenvolvem hoje, nenhuma - absolutamente nenhuma -, que eu tenha lido, tem méritos e é séria do ponto de vista da Epistemologia científica - não passam de apologia política da presença da Teologia no MEC, e só. A questão fundamental é escamoteada: o caráter doutrinário e dogmático do conteúdo da "revelação". Como não jogamos pra valer esse jogo, apenas vamos empurrando com a barriga, escrevendo para auto-leritimação, dou o caso como perdido. Mantenho a esperança, contudo - mas só para não dizer que desisti].


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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