domingo, 1 de março de 2009

(2009/039) Jimmy ressuscitou (VI)


1. Bel tem coisas suas com que lidar, ainda, antes que nos recolhamos para momenos de cumplicidade de alma e corpo, de modo que me restam, ainda, minutos e fôlego para reagir, como aquele Kong que desde aqui eu via na TV das crianças, destroçando três rex - e eu tenho só um a enfrentar -, se bem que não disputamos, aqui, o corpo da mocinha, mas alguma coisa difícil de definir, posto que nem sei se falamos da mesma coisa, se pisamos, já, o mesmo chão, se vivemos, já, no mesmo mundo. Jimmy, e nem nos despedimos, não foi? Nem dei por mim com tua partida...

2. Vou ao sétimo dos parágrafos de seu post (2009/030) Racionalismo blasé e experiência religiosa: a razão cega diante do intratável. Eis a parte "nova", a segunda: "no entanto, queridos amigos e companheiros blogueiros, a Aufklärung, romântica, heurística, com sua – unilateral? – abordagem psico-social – mito e alienação? – do fenômeno religioso e da existência, corre o risco de cair num círculo vicioso, numa circularidade hermenêutica de uma razão crítica que não consegue nem de longe alcançar o topos da experiência religiosa. Neste horizonte, “An passan”, posso lembrar Rudolph Otto e sua crítica a esse processo de redução historicista na abordagem do fenômeno religioso – somente vícios da mística alemã?".

3. Há, naturalmente, um vício enorme no arrazoado da primeira parte do citado, aquele em que se insunua uma impossibilidade de o fenômeno do XIX - "romântico, heurístico" - ser incapaz, eventualmente incapaz, de tratar do que é propriamente religioso, uma vez que o XIX, esse XIX, não o é. Ah, Paulo, fez escola... É, de resto, um arrazoado frágil demais - impede quem o usa até de falar da ciência, posto não ter idéia do que seja a ciência! De todo modo, quem dentre os homens do século XIX não foi, antes de tudo, religioso, ao menos na sua entrada? Todos eles, e os principais dentre eles. Kant, um homem de Igreja, e tanto que até lhe deu de presente uma obra - a Crítica da Razão Prática, que, para ela, é como Lévinas para Jimmy... Nietzsche foi criado em lar protestante. Marx escreveu, em sua juventude, sobre Jesus - e "do lado de cá". E, para pôr a pá de cal nesse argumento rasteiro de meu amigo, ah, Jimmy, esqueces quem sou, quer dizer, esqueces, não, que não me conheces nem um pouco, pelo visto...

4. A religiosidade me acompanha desde a infância. Você, aos quinze anos, dormia com dois travesseiros e dois lencóis, um para você e um para Deus? Penso que não. E, contudo, deve ter, também, a sua experiência religiosa. Contudo, cá entre nós, Jimmy, o que isso quer dizer? Que a experiência religiosa é uma suspensão do que se aprende, do que se sabe? Que em nome de um calor nas tripas, solapam-se as regras do bom senso? Ah, Jimmy, você sacou com muita imperícia esse argumento, porque dialoga - se dialoga - com um "teólogo". É absolutamente sem base e infundada a assertiva. E, além do mais, peca pela rigorosa falta de base pragmática, porque a religião não é, nunca foi, nem jamais será base epistemológica para o saber e a pesquisa, mas, apenas, alguma coisa entre política e estética, de modo que o que ela mesma diz de si não passa disso. Não, Jimmy, a religião não tem competência para falar de si como saber, porque ela absolutamnte nada sabe de si, tão somente o que disseram a ela para repetir - diga-me quem é o Papa e eu digo o cordel... Esse argumento de que "se você não é religioso não sabe nada de religião" é uma boa conversa mole, porque faz parecer aos incautos que o "saber" da religião é seu "furor uterino", como já aponta a introdução, mais tarde, do tema do "profeta", que você servirá na bandeja... Mas sabemos que o que se experimenta na religião, tudo o que aí se diz, sente, pensa, é fruto de cultura, de tradição, de catequese... de tradição. Mesmo a mística, coisas de fogo na face e em que lugares mais (veja o caso do Tantrismo!)?, que é ela senão pura cultura sublimada?

5. O quê? Você acha que um religioso qualquer sabe mais de religião, em sentido herísticos, do que Marx, Nietzsche e Freud?, do que Weber? do que Durkheim? Do que Lévi-Strauss, de quem você vive citando os "tristes trópicos"? O religioso comum, Jimmy, apenas quer saber de segurança e prazer, o que eventualmente ele poderia conseguir por outros meios, até pelas drogas - e não é por outra razão que Marx comparou a religião ao ópio. Quando é que a gente vai, definitivamente, levar a sério a distinção pragmática das consciências? Saber, é saber, querer é querer, e sentir, é sentir. Mas lá vem Jimmy, querendo me fazer crer que a "experiência" religiosa, modelo por excelência da alienação humana, é "saber"... Que posso fazer, não?

6. Para ir-me despedindo, que Bel acena da porta, e o cheiro das loções que ela usa não se comparam ao prazer de destrinchar esse porco assado, já frio das horas, reintero que não, não pode usar Rudolf Otto, não, que Otto entende tanto de Epistemologia quanto o Inri Cristo. Otto é um Barth mais azeitado. Barth foi meio burro, quero dizer, em termos de estratégia, porque fez saber a todos que seguissem a Teologia que iam ter que deixar o XIX pra trás (mas não é que fez sucesso, e mais um pouquinho ganha mais uma alma!?), nada muito inteligente, ao passo que Otto cuidou fazer meio mundo crer que tudo ainda fazia sentido, mesmo depois dele, do XIX. No fundo, duas estratégias - que, do ponto de vista da catequese proselitista, tanto melhor, porque, o que escapa de Barth, cai nas garras de Otto...

7. E tu, Jimmy, ou caiu nas garras de Otto, ou brinca com coisa séria. Talvez um bom café amargo resolva a ressaca...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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