sábado, 14 de fevereiro de 2015

(2015/197) O equívoco dos equívocos sobre a Fenomenologia da Religião

O maior e mais grave equívoco de quem lida com Fenomenologia da Religião - e que, por isso, legitima a crítica que Frank Usarski (equivocadamente, a meu ver) fez à abordagem - é tropeçar num princípio epistemológico-metodológico e esborrachar-se no chão...

Há quem pense - e diga isso! - que a Fenomenologia da Religião trabalha com o fenômeno religioso a partir da ótica do religioso. Dito assim, a declaração é, ao mesmo tempo, óbvia e incompleta.

Incompleta, porque, se você para aí, você cairá na armadilha que tem engolido teólogos há cem anos, fazendo com que o sujeito faça uma espécie de teologia confessional de encomenda, como se fizesse Fenomenologia da Religião. Mas é, ao mesmo tempo, completa, porque tudo está dito aí...

A Fenomenologia da Religião não é a transposição para o pesquisador do discurso e da perspectiva do religioso. Não. Absolutamente não. O fenomenólogo da religião quer compreender o universo cultural em que vive o religioso, mas ele não é religioso (não enquanto pratica a FdR), ele é pesquisador. Assim, é a partir da experiência do religioso que ele trabalha, como pesquisador, mas não dentro dela.

A análise, a reflexão, a observação, a compreensão que o fenomenólogo da religião quer do fenômeno religioso não se dará de forma "idealista", "contemplativa", dogmática, institucional. Ela passará pelo pedágio humano, a cabine do religioso que é o único que vê o que diz acontecer acontecer. Eliade fala disso em termos de documentos.

Nesse sentido, engana-se, quem acha que a FdR é uma ciência crente. Quando ela afirma que o sagrado se manifesta, ela não está - em nenhum momento - apontando para uma coisa qualquer chamada sagrado que aparece aqui e ali, no mundo, como fogo fátuo, ainda que seja isso que a esmagadora dos pesquisadores da área, confundindo-a com a Teologia, dizem. Não. Croatto chega a confundir sagrado e divino, mas isso é um equívoco, quer de seus alunos, que teriam transcrito suas aulas (como querHaroldo Reimer), quer dele mesmo, não investiguei, apenas li seu manual, nesse sentido, carregado de equívocos dessa ordem.

Se resta dúvida para alguém, conviria ler The Quest (Origens, em Português), onde se pode ler a inescapável definição que Eliade dá a "sagrado": "o sagrado é um elemento da estrutura da consciência". Ponto. O sagrado não é um ser, uma coisa, uma grandeza externa, um pirilampo de Jesus: o sagrado é um elemento da estrutura da consciência humana - e a "manifestação do sagrado" que o religioso experimenta (mas não o fenomenólogo, pelo amor de Deus!) não passa, para a FdR, da atualização histórico-social de uma potência estruturante da consciência humana, logo, uma potência bio-psicológica da espécie.

Eu não sei se rio ou se choro quando escuto alguém falar que a FdR adota a perspectiva do crente...

Para todos os fins, ela é filha do século XIX e não é mãe de quase nada da Teologia do XX - teologia de gente crente.










OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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