domingo, 1 de fevereiro de 2015

(2015/148) Nietzsche era calvinista


Nietzsche é um "calvinista". Dos radicais.

Pressinto já as fisionomias contorcidas.

Dos dois lados.

Do dos teólogos calvinistas conservadores, que odeiam o diabo, e também do dos filósofos nietzschianos fofos, que o têm por um crítico justamente dos cristianismos.

Talvez eu devesse explicar o que tento dizer... Assim, evito enfartes em quem tem um problema de audição e só consegue ouvir o que os outros dizem à luz de sua própria compreensão, sem conseguirem perceber que até o sentido que damos às palavras, às sintaxes, às frases, é muito particular de nossa redoma político-ideológica...

Para sermos bons ouvintes, é preciso saber que vivemos cada qual em sua própria redoma político-ideológica, de forma que é imperativo sair metodologicamente dela, abrir-se, desfechar-se, e esforçar-se por ouvir o outro a partir de sua própria redoma.

Julgar o que ele diz, aí sim, é coisa que só é possível a partir da nossa.

Mas ouvi-lo, convenhamos, é questão de educação e bem conviver respeitar o código que ele usa...
Quando, então, eu digo que N. é calvinista, é porque tudo o que ele diz, e que julgamos bom - isto é, os discursos de autonomia, de ir para além de bem e mau, de nudez em face do real e das coisas mal montadas, o convite à autonomia radical, à liberdade, bem, isso é como a salvação para um calvinista típico: é apenas para um grupelho.

N. é aristocrático. Político aristocrata higienista, para quem o pobre - ele o dizia, pelo amor de Deus! - é pior do que o chandala da Índia e não tem nenhuma outra serventia a não ser pavimentar com seu corpo morto de trabalho e exaustão, sacrifício ao gênio, as estradas da fortuna aristocrata...

Claro, você pode fazer com os calvinistas o que os arminianos fizeram: tomar deles a salvação e dizer que é para todos. Assim, como eu fiz a vida toda, e errado estava, lia N. como se ele pretendesse aquela liberdade... para mim. Nada disso - para N., eu não passava de mais um corpo de trabalho, um paralelepípedo humano, tanto quanto para um calvinista, eu não passo de esterco para o inferno. Tomando, todavia, o que N. disse apenas para os eleitos e aplicando a você mesmo e a qualquer um, não diga que ele dizia isso... Porque os arminianos sabem o que os calvinistas pensam.










OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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