quarta-feira, 21 de maio de 2014

(2014/484) O divino é sagrado, mas o sagrado não é necessariamente o divino - sobre equívocos de especialistas em Eliade


Lendo um dos principais livros de "defesa" de Mircea Eliade (que, depois de sua morte, tem sofrido "revisionismos" e "desconstruções" mais ou menos violentas e virulentas", deparo-me com um problema: em nenhuma hipótese, um comentador de Eliade deveria, ele mesmo, na sua própria escrita e frase, usar como sinônimos os termos "sagrado" (sacred) e "divino" (divine).

Em "Mircea Eliade and the Perception of the Sacred in the Profane: Intention, Reduction, and Cognitive Theory, B. S. Rennie escreve "some sacred or 
divine presence is apprehensible in the objects of veneration of the variety 
of religious traditions". Não - do ponto de vista da Fenomenologia da Religião, aos olhos do pesquisador e para ele, pesquisador, NUNCA, o sagrado por ser sinônimo do divino.

Croatto já caiu no mesmo erro, em seu manual de Fenomenologia da Religião. Agora, Bennie. Temo que por conta desses deslizes (isso se não for ato falho) avolumem-se as críticas aos fato de que FdR seja Teologia disfarçada...

"Sagrado" não é "divino". Divino é uma atualização mitológica do sagrado, própria dos fenômenos religiosos. Mas o sagrado, que, para Eliade, é "um elemento da estrutura da consciência", pode atualizar-se em ambiente não religiosos, como a arte, a política, a erótica, a técnica, a ciência, o esporte...

Estou escrevendo um artigo sobre essa declaração de Eliade, e vou encaminhá-lo ao dossiê da Horizonte (PUC-Minas), cujo tema em aberto é Espiritualidades não-religiosas. Par mim, o sagrado está naquelas espiritualidades não-religiosas, não não o divino. Se o divino estiver, é espiritualidade religiosa, mesmo quando fora da "religião". Mas o sagrado, o sagrado não é necessariamente divino, conquanto o divino será sempre necessariamente sagrado.


(...)



Pesquisador, deixe ao homem religioso pensar o "divino" enquanto categoria. E deixe que ele, homem religioso, pense o divino como sagrado. Mas o pesquisador não pode entrar nessa arena discursiva da mesma forma que o homem religioso, porque ele apenas fará a "racionalização" do mito.

Se não é isso que o pesquisador quer, racionalizar o mito, tangencialmente atualizá-lo em sua linguagem "acadêmica", afaste-se da identificação subjetiva que o homem religioso opera e lide única e tão somente com as categorias de "sagrado", manejadas pelo pesquisador" e "divino", manejadas pelo homem religioso", que, a seu tempo e modo, poderá usar o termo sagrado também nesse sentido.

O pesquisador, por favor, nunca.






OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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