quinta-feira, 17 de abril de 2014

(2014/217) Teologia da Libertação e eu - uma crítica e uma defesa

A Teologia da Libertação, de cuja orientação política me enamoro, mas cuja estratégia epistemológico-religiosa não posso acompanhar, fez dos reis os diabos de Israel. Nos livros da TdL, os reis são a desgraça, o Mal...

Vejo enormes problemas aí.

1. Jesus queria ser rei. Não sei o que a TdL faria com o messias, se ele tivesse sido bem-sucedido... Muita gente da TdL era lulista. Lula assumiu o poder, fez as concessões que qualquer político tem de fazer, se quer ficar mais de dois dias no poder ou evitar sangue nas ruas, e um contingente significativo de teólogos da libertação se "frustraram" (acham que a vida real está nos livros). Imaginem vocês se Jesus tivesse chegado a ser rei, o malabarismo que não teriam que fazer - o mesmo que fazem para fazer de Deus, esse ser genocida, o Pai de Cristo...

2. Enquanto houve reis em Israel, esses maléficos antepassados do diabo e de Geisel e Figueiredo, houve profetas - e profetas que lhes punham os dedos na cara. Depois, os reis acabaram e os sacerdotes (que estão até hoje por aí) tomaram o poder. Trucidaram os profetas. Calaram a voz da profecia e assumiram para si a prerrogativa de falar. Mas não vejo a TdL desmoralizar os sacerdotes - talvez porque muitos teólogos da libertação o sejam, quem sabe?

3. Quando se olha as primeiras camadas da tradição cristã, vê-se participação significativa de mulheres. Tudo ali, todavia, se fazia em nome de Deus - como quer a Tdl alcançar seus objetivos, legitimando o pobre em Deus e não em valores humanos. Pois bem: uma vez que era Deus o dono do circo cristão primitivo, em pouco tempo os controladores de Deus demitiram as mulheres e a igreja virou um Clube do Bolinha - em nome do boníssimo Deus...

Por isso não posso apresentar-me como teólogo da libertação, porque, a despeito de comungar com seus valores políticos e sua utopia, considero que sua estratégia é a mesma, sem tirar nem pôr, de todos os outros cristianismos: legitimar em Deus nossos ideias, para vendê-los a bom preço.

Não posso assinar nenhum documento em que Deus seja citado como agente.

(...)


Antes que algum teólogo anti-libertação, conservador, fundamentalista e de nível ainda mais baixo se aproveite de minha crítica à estratégia epistemológico-religiosa da Teologia da Libertação para "usar-me" no ataque a ela, deixe-me dizer a você que eu prefiro mil vezes a teologia deles do que a sua - a sua teologia, meu caro, é a soma do pior que a TdL tem com o pior da retórica de manutenção do status quo. Se, no fim, só houver esse tipo de retórica, é do lado deles que lutarei - e contra você. A teologia clássica me causa repugnância - justamente porque está a serviço da manutenção da "ordem"... 

Todavia, enquanto não preciso escolher, reservo-me o direito que eu mesmo me dou, e a sociedade (enquanto o dá), para fazer minha crítica epistemológico-política das rotinas da quermesse retórica do tempo...









OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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