quarta-feira, 4 de abril de 2012

(2012/360) Uma diferença fundamental entre "belo" e "verdadeiro"


1. Inventou-se a expressão: "verdade para mim". Outra, pior: "minha verdade". Trata-se de um sintoma: a pessoa não está nada bem...

2. Quanto ao belo, sim, você pode dizer: isso é belo para mim. Há quem goste de Dali e há quem não goste. Perfeito. Não há nenhum problema com quem goste nem com quem não goste. É natural que seja assim, porque a estética é uma função subjetiva, que se atualiza por meio do gatilho da experiência entre o sujeito estético e o mundo.

3. Não há critérios para o belo.

4. Quanto ao "verdadeiro", não se trata de uma função da consciência humana que se pudesse reduzir a um voluntarismo subjetivista. Quando isso ocorre, quando é o sujeito que se expressa de modo subjetivamente voluntarista, e diz "minha verdade", não se trata mais do "verdadeiro", mas do estético ou do político.

5. O que é "verdadeiro" é universalmente verdadeiro - ou não é verdadeiro. O belo e o político, não. Seu jogo é outro.

6. E eis, então, a regra fundamental da verdade. No mundo disciplinar, uma verdade sociológica não pode ser verdadeira se for falsa para a antropologia, para a história, para a psicologia, para a biologia.

7. Se um sociólogo diz "verdade sociológica" como referência a um bem privado de sua disciplina, incide em grave erro epistemológico. Com Barkow, estou disposto a admitir que a verdade tem de ser compatível - a sociologia, com a antropologia, com a filosofia, com a biologia, com a química, com a história, com a psicologia.

8. Uma verdade científica só é verdade se for verdade para todas as ciências.

9. Não há verdade psicológica que seja inverdade fisiológica.

10. Não há uma verdade weberiana que seja uma inverdade marxista: ou as duas são inverdades, ou uma delas o é.

11. Porque, apesar de ser tudo operação de sujeito consciente, a expressão estética prescinde de regras do mundo, mas, a pesquisa, não.

12. O pesquisador é livre para escravizar-se ao real e debruçar-se sobre a verdade ou não. É livre para escolher qual a "lupa" que empregará, qual a mais adequada para seu objeto. Depois de debruçar-se e ter escolhido a lupa, acabou a liberdade - é o império do real e da verdade, ou do erro e do engano.

13. E por assim pensar, me chamam fundamentalista.

14. Mas eu posso estar errado...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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