quinta-feira, 22 de abril de 2010

(2010/331) Do trágico e do fatalista


1. Estou lendo Domenico Losurdo, a magistral biografia intelectual de Nietzsche. Que obra! Estou quase criando um blog apenas para comentar a obra... Vamos ver... Nesse momento, sou tomado por uma questão, despertada pelo conteúdo da p. 58 da edição brasileira da Revan: o "otimismo" como o "veneno" da modernidade, a crença na felicidade humana, terreste, contra o qual os trágicos - Nietzsche e Schelling, dentre outros - contrapõem a irreversibilidade da condição "desgraçada" da espécie humana... Losurdo classificará essa "tendência" como política reacionária, o medo "fundado" da democracia e da revolução - que vivemos ainda hoje, por exemplo, no Brasil, que é um bom exemplo do escárnio democrático de uma elite social parasitária e metida à culta.

2. A questão que me constrangeu foi: é necessário ser fatalista para ser trágico? Um sujeito trágico tem de ser necessariamente "calvinista"? A condição deplorável e amargurada da esécie humana é inexorável? O "pecado original", bíblico, e o estupro de Perséfone, grego, são as marcas espirituais e psicológicas da espécie?

3. Não sei... A espéciwe humana sequer é um "destino". Trata-se de um "acidente" histórico-biológico (naturalmente que me recuso aqui ao mito calvinista, tanto quanto me recuso a um deus calvinista). Ora, dentro dos limites de minha argumentação, se a humanidade, contra todas as expectativas, emergiu da condição animal, isto é, se o surgimento da espécie é, e si, uma evidência da possibilidade de fuga do destino animal, conquanto tornar-se homem não seja exatamente deixar de ser animal, eu sei, mas acrescenta à espécie o que não parece haver em nenhum outro canto da biologia - a auto e livre-determinação - quanto mais não teria ela, agora, condições de, ainda mais, fugir à sua condição sub-humana...

4. Ora, se do que era absolutamente movido por DNA e destino, subitamente torna-se revolucionário - se é que raciocino elegantemente -, por que sou obrigado a conceber uma situação trágica inexorável? Por que não posso conceber, antes, uma ainda mais potencial possibilidade de revolução, quanto mais ela pode ser, agora, intencionalmente buscasda e construída?

5. Não, não: suspeito que o calvinismo, o fatalismo, no fundo, no fundo, sejam políticas aristrocráticas, sacerdotais, ladainhas destinadas ao convencimento das massas de que não adiantaria lutar pela liberdade, e que ser escravo, ser um quase-morto, ser um animal de carga é a maior felicidade a que pode aspirar um ser humano. É cinica a filosofia. É criminosa a política. Homem, teu nome é Prometeu! Basta-te um ferreiro a serrar teus grilhões...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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