1. Li, agora há pouco, que a realidade seria aquilo sob nossa interpretação e o real, aquilo que chamamos Deus.
2. Não é, nem passando perto, o modo como entendo as coisas.
3. Real, para mim, é o mundo físico, dito "hilético" pelos filósofos antigos, material. Não tem necessariamente nada, absolutamente nada a ver com a ideia de Deus. Que alguém pode tomar uma coisa pela outra - seja para assim considerar, seja para desconsiderar essa identidade, vá lá. Mas isso nada tem a ver com a ciência, e, se alguma filosofia a assume, é, então, teologia, e não filosofia.
4. Não importa se você chame de carbono ou invente outro nome. Há, fora da consciência humana, formando até o corpo do próprio homem, uma grandeza que se deixa apreender sensorial e conceitualmente como matéria e carbono. Não - isso não é nem tem a ver com Deus.
5. Naturalmente que o aparelho sensorial humano desenvolveu-me não no nível micro e submicro - ele não está preparado para captar átomos e partículas. Ele se desenvolveu ecossistemicamente, tornando-se apto para computar os macroelementos: a madeira, o couro, o tronco da bananeira, a pele de outra pessoa, tudo isso, formado por carbono.
6. O carbono, a madeira, o couro, a pele, estão lá. As sensações que experimentamos, quando os tocamos, são interpretações humanas, claro!, mas se dão porque, fora da própria consciência humana, há contato real.
7. Veja o caso do ímã. Ele não sabe, mas seu contato com o ferro é tão íntimo que ele se apega à superfície do metal em que encosta.
8. Que há coisas fora de nós, que "traduzimos", é óbvio. Os venenos encerram a discussão tola, absolutamente tola, de que as traduções são só o que existe. Você não morre porque traduziu, você ou seu corpo, um veneno. Morre, porque não traduziu - não viu que era veneno o que bebia... Ou, alternativamente, sabendo que era, e traído de amor, bebe para morrer...
9. Assim, é necessário pensar a inserção do homem no real de modo triádico - o real, que existe independentemente dele, ele, interpretante consciente, e o resultado dessa interpretação.
10. O real não é Deus e a realidade não é uma invenção subjetiva voluntarista de um sujeito não-ecossistemicamente situado. Aliás, nada mais grotesco do que um pós-moderno ecológico!
11. O real é tão somente aquilo que se constitui de, pelo menos, a Tabela Periódica.
12. O erro grotesco, tão pueril que me parece intencional, programático, é desligar uma das pontas do tripé: o real. Dá-se o "todo" como constituindo de um sujeito e de uma interpretação desse sujeito - Alice e seu sonho, e apenas os dois...
13. É a dissolvição do real. É o que Losurdo acertadamente chama de "empirismo absoluto": "Estamos na presença daquilo que Hegel analisa e critica como 'empirismo vulgar' ou seja 'empirismo absoluto' e Marx como 'positivismo acrítico'" (entrevista a ser publicada).
14. Há, nesse caso, um paralelo entre a atitude dessa filosofia de recorte pós-moderno e a teologia de Tillich. Tillich reduziu a sua fórmula ao "real" (Deus) e à realidade (o símbolo doutrinário da fé). Sumiu o interpretante. Essa filosofia pós-moderna considera o interpretante (o sujeito da interpretação) e a realidade (a interpretação do sujeito) - sumiu o real.
15. Um, tem problemas com o sujeito. A outra, com o real.
16. Para ambos, Freud.
17. Por que Freud? Porque não é cognitivo o problema - é de outra ordem.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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