quinta-feira, 26 de setembro de 2013

(2013/115) "Textos transcendem-se a si mesmos" - onde se está mirando, quando se saca essa arma?


"Um texto transcende a si mesmo"...

O que quer significar essa frase?

Por que eu devo discutir a questão a partir do texto?

Por que eu não ponho as coisas em termos de meu interesse com o texto...

Se eu, em lugar de pôr o texto à minha frente, como escudo, ponho-me eu mesmo à frente e divulgo minha intenção com o texto, penso que as coisas ganham outra dimensão: qualquer um poderá avaliar o que eu estou fazendo com o texto, qual a minha intenção...

Se ponho o texto na frente e já saco uma declaração categórica - textos transcendem a si mesmos -, corro o risco de esconder a minha intenção política, meu programa de uso desse texto - e mesmo que eu o esteja usando em postulado programa de "pluralização" dos acessos ao texto! Posso dizer um coisa, mas fazer outra...

Mas, se eu confesso, desde a saída, o que eu estou tentando fazer, impeço-me desde logo a manipular texto e discurso atrás de um biombo - o texto.

O que eu quero fazer? Entender o texto tal qual em seu contexto de produção, na relação histórico-social autor/destinatários/contexto? Ou, não, o que eu quero é pregar justamente essa característica de ser polissêmico que os textos têm para, com ela, essa característica, e, então, uma leitura desde essa polissemia, interagir em meu próprio mundo e meio?

Ora, são interesses, programas, práticas completamente diferentes. Se eu faço a primeira pergunta, já antecipo ao meu leitor que não estou interessado em nosso mundo, mas no mundo em que o texto foi produzido. Se faço a segunda, confesso que me interesso é pelo mundo em que nos encontramos, agora, o texto e eu. São situações e projetos distintos...

Com essa confissão, portanto, até a declaração tão categórica - textos transcendem-se a si mesmos - ganham outra dimensão. Se digo isso em face da segunda pergunta, legitimo minha ação: porque textos são polissêmicos, posso usar dessa polissemia e empregá-lo em meu projeto de construção de mundo. Mas, se apresento essa categorização de textos no contexto da primeira pergunta, resulta necessário dizer que, a despeito dessa faculdade de transcender-se a si mesmo, há uma dimensão nesse texto que guarda a sua relação original com seu autor, seu leitor, seu contexto... Minha tarefa, então, é, em lugar de servir-me da polissemia, lutar contra ela...

Tudo muda, senhores, se eu me dispo em público... E, despir-se em público é, em termos de lidar com textos, dizer o que queremos fazer com eles...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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