quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

2018/005) Alteridade em boca crente...

1. Não consigo reconhecer qualquer gota de respeito real a terceiros por parte de alguém que se expressa a partir da crença em deuses, incluído aí o deus cristão. Tudo bem, pode ser uma questão de se tratar de um crente ignorante, bronco, grosso, analfabeto científico-humanista, uma matraca da fé, uma vitrola de doutrinas, essas coisas com que não se constroem cidadania. É verdade. Não se educaram, não sei se querem educação, e o remédio é aturar essas tranqueiras que se acham as coisas mais sublimes da galáxia... Mas quando esse mesmo fenômeno ocorre com gente diplomada, gente que se diz culta, gente que fez graduação, mestrado, doutorado, o diabo, ah, é de uma hipocrisia inominável. O sujeito pagou para ter diploma. Pode ter gasto camadas e camadas da bunda, sentado em cadeiras de salas de aula, mas do cérebro, não gastou dois neurônios!

2. Os paralelepípedos da Engenheiro Teixeira sabem que a crença não produz realidade, e quem acha que a realidade é como a sua crença diz que é, só porque a sua crença diz que é assim que é, então essa pessoa está entre os daquele primeiro tipo que mencionei. Os demais, os que pagaram para ter papel na moldura na parede da sala e têm algum estofo, esses sabem que a crença não é nada além disso: crença. Sabem mais: sabem que a fé nos deuses, a fé no deus cristão, é crença e apenas crença. Sabem que as pessoas que acreditam até viram os olhos, sentem frêmitos na pele, têm gozos espirituais. Sabem e é verdade que têm. Mas essas pessoas também sabem que tudo isso é produzido - atenção: pela crença. Todos os religiosos do planeta sentem a mesmíssima coisa, sejam monoteístas de D'us, monoteístas da Trindade ou monoteístas de Alá, sejam os politeístas, dos milhões de deuses. Não é nenhum desses deuses, deusas, orixás, kamis, trasgos, fantasmas, espectros, almas ou o diabo que produzem essas experiências e sensações, mas a própria fé. É antropológico. É psicológico. O que se diz de "espiritual" aí é mero jogo de palavra, nada mais do que jogo de palavras. Sim, as pessoas diplomadas sabem disso. Leram isso em livros, ouviram isso de professores, ensinam eles mesmos isso, em sala de aula, pois são, muitos deles, professores também. Logo, quando agem como se não soubessem disso e vomitam sobre nós essas retóricas insuportáveis de deuses pra cá, deuses pra lá, como se a sua crença fosse vinculante, como se o fato de eles crerem, transformasse a todos nós em elementos de sua crença, ah, com todo respeito, bando de dissimulados.

3. É preciso ter um pouco de vergonha. Duas doses diárias de semancol resolve essa patifaria da fé, que agora sobe a rampa do Planalto, para desespero de crentes progressistas, que, todavia!, fazem a mesma porcaria o dia inteiro!

4. Não, definitivamente, não tenho saco.







Osvaldo Luiz Ribeiro

2 comentários:

Junior Sousa disse...

Texto maravilhoso professor Osvaldo Luiz Ribeiro. Parabéns. Professor estou a procura de um dos seus livros, Esboços de Teologia crítico - Reflexões No Caminho da Superação da Teologia Clássica. Estou com dificuldade de encontrar esse livro. Professor ainda é possivel encontrar seus textos pelo faceboock ou somento pelo Blog?

Peroratio disse...

Junior, você o encontra na Estante Virtual.

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