sexta-feira, 17 de julho de 2009

(2009/396) O peso está no umbigo


1. É mais do que sabido que cada um de nós olha o mundo por sua própria lente. Disso não podemos escapar existencialmente, conquanto, metodologicamente, uma vez que estamos cientes do fato, podemos deslocar-nos de nosso próprio eixo de gravidade hermenêutica para observar o mundo sob o olhar do "outro" - assim, eu, brasileiro, carioca, morador da Baixada Fluminense, posso considerar, metodologicamente, como é diferente e peculiar o mundo para ele, europeu, escandinavo, residente, por exemplo, da Noruega... Trata-se do perspectivismo (melhor do que relativismo).

2. Todavia, há uma prática muito comum entre cristãos, que é olhar para as Escrituras, ora com uma lente, ora com outra. Volta e meia me deparo com cristãos ensaiando argumentos para a eterna labuta contra-homossexual, aquela história de respeito para com o ser humano, mas imprecação e pregação contra o pecado...

3. Vai-se às Escrituras. Deus é homofóbico e pronto. Está escrito. Homossexual vai pro inferno - e pronto. Mas eu não os levo a sério, quer dizer, os cristãos que citam versículos bíblicos. Não os levo a sério. A nenhum deles, seja pastor, doutor em teologia, missionário, apóstolo, patriarca, levita, presbítero, diácono, Jesus encarnado, neo-deus e o que mais a sanha de poder invente para escrever na testa. O dia em que um deles vender tudo o que tem e der aos pobres, aí eu paro para ouvir sua ladainha interminável. O dia em que um deles não pagar juros, não tiver cheque especial, nem cartão de crédito, aí, talvez, os leve a sério. O dia em que um pastor evangélico não deixar mulher falar em sua comunidade, talvez o leve a sério. O dia em que não comer carne de porco, talvez o leve a sério. O dia em que se tonar judeu, talvez o leve a sério.

4. Que nada! O que se faz, dia e noite, é escolher o que é e o que não é, o que era e o que não era cultura. Isso era cultura - agora pode! Isso não pode - isso é celeste e eterno! Ah, vai lamber sabão, pessoal! Comer carne de porco, pode. Conquanto seja o mesmo Levítico que o proiba, junto ao homossexualismo... Falta é seriedade. Falta é critério. Aliás sobra: o critério está no umbigo. Cabe muita sujeira no umbigo...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

5 comentários:

Alan B. Buchard disse...

Se comprendi bem as aulas do senhor sobre AT, lhe vejo como um profeta crítico nessa hora professor...
Admiro profundamente suas colocações, que a propósito, chegam a próstata(rs)! Não o admiro mais, porque a pouco lhe conheci, mas se tornartes um mentor, que a principio me causava um pouco de revolta, mas que no presente momento faz pulsar a adrenalina corrente nas veias.
Espero que assim que retornar ao curso de teologia, eu possa ter aula com o senhor...

Alan Buchard

Peroratio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Peroratio disse...

Se eu puder lhe dar um conselho, lhe darei o que recebi de Nietzsche - se quer me imitar, imite-me naquilo que tenho de tentar ser eu mesmo. Portanto, não me tenha por "mentor", nem "discipulador", nem "guru", essas coisas "cristãs" demais, e, por isso, suspeitas de síndrome de conquista, de síndrome de fabricação de autômatos...

Isso não.

Descubra um jeito de ser você mesmo, de descobrir-se, de virar-se do avesso, de chegar a ser quem você pode ser, nas condições em que veio ao mundo.

Seja pacífico, mas incisivo. Negocie, mas o negociável. Não tergiverse, a não ser com a vida... Sobretudo, fuja das multidões, recuse o efeito manada. Está na moda. In é ser manada. Mesmo no Evangelho - se não é que daí saiu a moda...

No mais, ter aulas comigo é com Valtair...

Alan B. Buchard disse...

Vejo que, muito provavelmente, não consegui captar a sua essência e, talvez não perceberia se nao tivesse lido o comentário acima!

É vento na cara... É frio... É solidão!

"Cave... Embaixo fica as fontes."

Alan Buchard

Peroratio disse...

Sim, em certo sentido, sim. Mesmo rodeado de pessoas, solidão. Não significa não ouvir ninguém - ouço Morin e, até, hoje, só fiz uma única e muito mínima observação crítica a um comentário que ele fez, mas a um tema "veterotestamentário", de modo que, no restante, em tudo que lhe li, acatei. Logo, o que eu quero dizer com o que tentei dizer é que você não segue pessoas, você segue idéias, depois de criticá-las severamente. As idéias que você acata, você as devora, engle, e as torna açúcar para suas mitocôndrias. O resto é papagaiada de massa.

Quando você contrata um guru, por mais idiota que seja o que ele diga, você baba... As "comunidades" estão cheias de guru. Você perde a capacidade de criticar quem você idolatra. Por isso, nada de gurus, nem discipuladores, que, na prática, são formatadores - você é um HD, eles têm a ferramenta de formatação, e você morre.

Se há coisas que eu digo que você aprova, pega pra você, e torne seu.

Entende?

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