1. Sei que sou hiperbólico e radical - é retórica: quem convive comigo sabe. Assumidas pois a hipérbole e a radicalidade retóricas, esposo, aqui, uma tese: a mulher só pode emancipar-se às custas da "morte de Deus".
2. Já escrevi sobre isso. Mas hoje é dia oito de março. Todo mundo falando do dia da mulher, lembrando o início de sua emancipação.
3. Mas não vi ninguém assinalar esse ponto, e quero ser o sujeito que vai lembrar a coisa desagradável: não fosse a morte de Deus, as mulheres continuariam onde estavam, quando Deus vivia...
4. "Morte de Deus" é o modo como designamos o jogo republicano moderno ocidental: uma sociedade laica, em que Deus não pode ser usado para fundamento de coisa alguma.
5. Enquanto Deus foi fundamento, o clero - masculino - usou-o para apoderar-se do corpo das mulheres. A Reforma não foi suficiente para libertá-las.
6. Mas inventamos o Iluminismo, a Revolução Francesa e a República. Deus foi morar nas igrejas, e a sociedade tornou-se operativamente laica.
7. É aí que começa o dia em que as mulheres puderam dizer não.
8. Antes disso, era noite eterna.
9. Bom dia, garotas...
10. (09/03) Indiretamente, penso que posso trazer Domenico Losurdo para fundamentar minha intuição. Losurdo, citando Nietzsche, A Gaia Ciência: "É só agora, depois da perda do centro e da morte de Deus, que pode realmente surgir o indivíduo: Durante o mais longo período da humanidade, não havia nada mais assustador do que sentir-se indivíduo. Estar sozinho e ter uma sensibilidade individual, não obedecer nem mandar, ter significado como indivíduo – isto não era então um prazer, mas um castigo: “ser indivíduo” constituía uma condenação" (LOSURDO, Nietzsche, o rebelde aristocrata. Rio de Janeiro: REVAN, 2009, p. 507). Mulher - indivíduo, sujeito de sua própria história!
11. Metodologicamente, posso dizer "bingo!", não posso?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2 comentários:
Passado já o dia da mulher - que já é madrugada da sexta-feria 09 de março - poderíamos estender o status desse dia àquele em que os homens das camadas menos abastadas da sociedade também puderam dizer não, e assim o homem, enquanto homem, de humano, de humanidade, pôde dizer não, e depois, mais efetivamente exercitada essa laicidade, os negros, e hoje, de novo e mais amplamente as mulheres, e com elas os homessexuais... caramba, esse negócio de república é uma coisa perigosa mesmo! Deve ser por isso que aqui e ali se tenta a todo custo, ainda que dentro dela, ainda que formalmente republicanos, viver-se pré-republicanamente. É o desejo de voltar com essa turma toda para a cangalha. Ah, mas agora que o estouro se deu...
É só desrepublicanizar... Se bobear, se faz. A tomada evangélica da sociedade e do poder é um risco, nesse sentido. Sem as "Luzes", o evangélico brasileiro é subjetivamente teocrático, e adoraria uma conversa de Deus em Brasília... Barbas de molho, pessoal.
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