segunda-feira, 7 de junho de 2010

(2010/409) Sobre um novo tipo de homem


1. Naturalmente que só posso falar desde meu pequeno mundo, que é muito, muito pequeno mesmo. Não foram os livros, ele seria menor do que ainda é. Logo, advirto que falo de minha amostragem. Nela, conheço dois tipos de homens: os que vivem no mito, e os que vivem na política. Há, claro, os que vivem na política, tendo saído do mito. O inverso, também. Obviamente que, aqui, os cínicos estão na "política".

2. Os que vivem no mito, são aqueles que vivem nas metanarrativas religiosas, que vivem no mundo que elas criam - melhor, que caminham sobre a mundo, pisando instrumentalmente o tecido do mito. Não é o mundo real o mundo em que eles vivem (distinção, claro, que apenas eu posso fazer, porque eles, não, já que eles vivem no "mundo verdadeiro"), mas o mundo mítico, tecido pela revelação religiosa. O mundo está cheio deles. Cheio demais, eu diria...

3. Os demais são os que acreditam viver na realidade, e que se ajeitam por meio de acomodações negociadas, de jeitinhos, de políticas de troca, de compensações e anotações de dívidas, de toma-lá-dá-cá. Não há metanarrativas, aí, somente a trivialidade dos objetivos, a instrumentalização de tudo e de todos para que se chegue lá. É, literalmente, o mundo político, do que, o mundo da política, a concreta e profissional, é apenas uma das faces.

4. Pode-se viver nos dois, ser dos dois tipos. Mas há uma diferença: o primeiro, vive mesmo no mito, enquanto o segundo, até o mito ele manipula em benefício próprio.

5. Desejo um terceiro tipo. Nu, transparente, sem neuras de mito ou de política, desagarrado de interesses e, consequentemente, manipulações, para os quais demande-se dele a ultrapassagem da transparência e da nudez. Ele sabe dos mitos e da política, lida com eles, mas não os quer mais como regimento. São, mito e política, assim como disposições da alma e do corpo, com as quais ele lida, como lida com afeto e ira. Ele desenvolve uma indisposição somática ao mito e à política.

6. Romper com mito e política enquanto jogo não é fácil. O apelo, para onde você olha, é enorme. Promete-se muito. Nos dois. Num, você acredita nas coisas que o mito promete, e cai de cabeça - às vezes, até a loucura... literalmente. Noutro, você acredita que os jogos, que a sua adesão silenciosa às estratégias medidas e sopesadas vai te levar a algum lugar - e, às vezes leva mesmo. É preciso coragem para dizer não! a um e a outro.

7. Coragem eu tenho. Suficiente. Sou cabeça-dura demais, e isso eu traduzo como coragem de lançar-me diariamente, contra os rochedos. Devo ser louco. Nudez e transparência devem ser um sintoma de alguma loucura muito, muito aguda. Uma pequena megalomania tolerada a um provinciano e suburbano da Baixada Fluminense...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio