sexta-feira, 4 de junho de 2010

(2010/406) Ser e Linguagem, Linguagem e Ser


1. "A Linguagem é a casa do Ser". Gianni Vattimo acaba de repetir a máxima de Heidegger. Sim, eu sempre volto à leitura de Vattimo, porque eu constantemente critico minhas contrariedades pessoais: não cnsigo concordar com Vattimo, e, como isso pode constituir ero de interpretação ou ideologia afetiva minhas, a solução é retornar à prancheta, ler senpre e de novo, ainda que com o risco constante de ler sepre e de novo... errado. Ah, sim, porque eu acredito em leitura errada, sim. Essa história de que qualquer leitura é certa, bem, deixa pra lá...

2. Não acho que o Ser e a Linguagem sejam recorrentes no sentido em que a Linguagem determina o Ser. Nem que sejam sinônimos. Se eu chamo de triciclo o que, de fato é uma bicicleta, passo ridículo. Bicicleta é um biciclo, porque tem duas rodas. Triciclo, necessariamente, tem três. A Linguagem, aí, deve satisfações ao Ser. Se, numa tórrida noite de amor, Jacó chama Rachel de Léia, com concubinato ou sem concubinato, danou-se. O Ser, de novo, pede satisfações à Linguagem.

3. Que a Linguagem é uma necessidade de expressão do Ser, vá lá. Mas não é a sua única e fundamental necessidade. E, de mais a mais, deve necessariamente adequar-se. E, acreditem, adapta-se. Certo que é mesmo da dimensão do mito a relação entre Ser e Linguagem, e não seria necessário que a Filosofia no-lo dissesse, para que fosse verdadeiro. O Enuma 'elish babilônico já o dizia: "Quando no alto não havia nome algum" - isto é, quando nada ainda havia... Igualmente, e, decerto, por cnta da mesma tradição próximo-oriental, é Adão quem dá nome aos animais recém-criados. Porque é o homem quem dá nome e "ser" às coisas, raptando-os de sua naturalidade não-semântica para seu, humano, mundo hermenêutico, de modo que cada ser recebe uma placazinha de "patrimônio", cada ser é noologizado, simbolizado - pela Linguaguem, ops, pelo Homem.

4. Não quero, aqui, retornar à discussão entre Linguagem enquanto essência e Linguagem enquanto instrumento. Essa espécie de disjunção só nos leva a reducionismos e simpificações não-realistas. Assim, para não dizer de todo deselegantemente que, seja Heidegger, seja Vattimo, a Filosofia peca quando diz que a Linguagem é a casa do Ser, no mínimo, completemos a "verdade": ao mesmo tempo em que o Ser é a casa da Linguagem.

5. Ah, e para não dizer que não falei de flores, eu diria que a Linguagem, aí, isto é, nessa Filosofia, constitui, para mim, o flagrante da saudade de Deus. Como Deus não pode, mais, aí, voltar, cria-se outro: a Linguagem. Talvez essa síndrome passe, um dia. Cem mil anos de deuses deixam profundas marcas e graves crises de abstinência. Façamos assim, então: tá, a Linguagem é assim, divina, mas, cá entre nós, ela encarnou...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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