
1. Edgar Morin, Stephen Jay Gould, Carlo Ginzburg, Karl-Otto Apel. São autores prediletos meus. Morin - gênio incontestável. Gould, leitura maravilhosa, como seu Vida Maravilhosa... Ginzburg, uma alma gêmea no modo de pensar história. Apel, alguém interessado na mesma questão que eu. Não os devo a ninguém.
2. Gould foi o primeiro. Eram dias de 1989. Éramos muito pobres, Bel e eu. Morávamos em Belford Roxo, na periferia de Belford Roxo, que é periferia do Rio. No centro de Belford Roxo, havia uma banqueta de livros velhos, vendidos bem baratos, porque bem surrados. Um dia, li uma capa: Seta do Tempo, Cilco do Tempo, do Gould. Folheei. Devoreio-o. Dali em diante, minha concepção alterou-se, o mundo, diante de mim, transfigurou-se. A pedra da Geologia esmagara a empáfia teológica. Literalmente! Tudo que me bate à mão desse sujeito, devoro. Ninguém me apresentou a ele. Fui guiado...
3. Depois foi Ginzburg. Já era 91, provavelmente. Havia uma livraria católica em Nova Iguaçu. Celinha, a quem devo muito, a livreira. Vendeu-me a perder de vista muitos livros, quando eu já saía, ainda que lentamente, da condição de severa pobreza. Quase todas as coleções de livros de Bíblia da Paulinas, ela me financiou. Ainda os tenho, da época de quando Paulus e Paulinas eram uma só. Um dia, na estande sempre cuidadosamente cuidada, lá estava um livro de capa curiosa. Era O Queijo e os Vermes. Celinha me falou dele, porque perguntei. Folheei. Devorei-o. Ninguém me apresentou a ele. Fui guiado.
4. Bem mais tarde, 2004, foi Morin. Na PUC. Outra banqueta. Uma feira de livros. Aproximo-me. Uma História das Agriculturas do Mundo, e, ao lado, As Idéias, volume 4 de O Método. Folheei. Perdi o fôlego. Se Paulo foi ao terceiro céu, fui ao sétimo (ou ao primeiro, dependendo de por qual andar você comece a contar!). Morin, Morin. Amo você, homem. Ninguém me levou até você. Fui guiado.
5. Um pouco depois, Apel. Na livraria da PUC. Lá estava um nome curioso: Transformação da Filosofia. Folhear e amar. E quem, Apel, há de me cobrar você? Ninguém. Fui guiado.
6. Bel já me disse que é assim comigo. Os livros que me marcam a carne, a carne inteira - porque o que você verdadeiramente aprende se torna você, e, se não se torna, você não aprendeu foi é nada! - são livros com que me deparo, esbarro neles, eles em mim, como se me chamassem desde seus lugares, e eu os ouço.
7. Apenas um, outro monstro, Mircea Eliade. Esse, a ele fui encaminhado por Gilton Medeiros. Falou, em sala de aula, de Ferreiros e Alquimistas. Na época, não liguei. Mas ficou na mente. Mais tarde, li Os Mistérios das Catedrais, de Fulcanelli (a quem fui encaminhado por professora de Arte, da UERJ), e cuidei que Eliade tivesse algo a ver. Li Ferreiros e Alquimistas. Delirei. Daí, Tratado de História das Religiões, leitura de 18 horas no chão da sala, sem beber água, sem urninar, uma iniciação xamânica. Um Osvaldo sentou no chão para ler. Outro, levantou-se. Hierofania, no duro. Não me crês? Perco até o sono, porque não me crês... Eliade me foi sugerido. Os demais, são meus.
8. Agradecerei, aqui, ao Mistério. Dizer que fui guiado, é ser grato. Sou grato ao Mistério. Fui guiado. Na longa estrada misteriosa da vida, livros me chamam. Alguém me leva a eles. Obrigado!
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Gould foi o primeiro. Eram dias de 1989. Éramos muito pobres, Bel e eu. Morávamos em Belford Roxo, na periferia de Belford Roxo, que é periferia do Rio. No centro de Belford Roxo, havia uma banqueta de livros velhos, vendidos bem baratos, porque bem surrados. Um dia, li uma capa: Seta do Tempo, Cilco do Tempo, do Gould. Folheei. Devoreio-o. Dali em diante, minha concepção alterou-se, o mundo, diante de mim, transfigurou-se. A pedra da Geologia esmagara a empáfia teológica. Literalmente! Tudo que me bate à mão desse sujeito, devoro. Ninguém me apresentou a ele. Fui guiado...
3. Depois foi Ginzburg. Já era 91, provavelmente. Havia uma livraria católica em Nova Iguaçu. Celinha, a quem devo muito, a livreira. Vendeu-me a perder de vista muitos livros, quando eu já saía, ainda que lentamente, da condição de severa pobreza. Quase todas as coleções de livros de Bíblia da Paulinas, ela me financiou. Ainda os tenho, da época de quando Paulus e Paulinas eram uma só. Um dia, na estande sempre cuidadosamente cuidada, lá estava um livro de capa curiosa. Era O Queijo e os Vermes. Celinha me falou dele, porque perguntei. Folheei. Devorei-o. Ninguém me apresentou a ele. Fui guiado.
4. Bem mais tarde, 2004, foi Morin. Na PUC. Outra banqueta. Uma feira de livros. Aproximo-me. Uma História das Agriculturas do Mundo, e, ao lado, As Idéias, volume 4 de O Método. Folheei. Perdi o fôlego. Se Paulo foi ao terceiro céu, fui ao sétimo (ou ao primeiro, dependendo de por qual andar você comece a contar!). Morin, Morin. Amo você, homem. Ninguém me levou até você. Fui guiado.
5. Um pouco depois, Apel. Na livraria da PUC. Lá estava um nome curioso: Transformação da Filosofia. Folhear e amar. E quem, Apel, há de me cobrar você? Ninguém. Fui guiado.
6. Bel já me disse que é assim comigo. Os livros que me marcam a carne, a carne inteira - porque o que você verdadeiramente aprende se torna você, e, se não se torna, você não aprendeu foi é nada! - são livros com que me deparo, esbarro neles, eles em mim, como se me chamassem desde seus lugares, e eu os ouço.
7. Apenas um, outro monstro, Mircea Eliade. Esse, a ele fui encaminhado por Gilton Medeiros. Falou, em sala de aula, de Ferreiros e Alquimistas. Na época, não liguei. Mas ficou na mente. Mais tarde, li Os Mistérios das Catedrais, de Fulcanelli (a quem fui encaminhado por professora de Arte, da UERJ), e cuidei que Eliade tivesse algo a ver. Li Ferreiros e Alquimistas. Delirei. Daí, Tratado de História das Religiões, leitura de 18 horas no chão da sala, sem beber água, sem urninar, uma iniciação xamânica. Um Osvaldo sentou no chão para ler. Outro, levantou-se. Hierofania, no duro. Não me crês? Perco até o sono, porque não me crês... Eliade me foi sugerido. Os demais, são meus.
8. Agradecerei, aqui, ao Mistério. Dizer que fui guiado, é ser grato. Sou grato ao Mistério. Fui guiado. Na longa estrada misteriosa da vida, livros me chamam. Alguém me leva a eles. Obrigado!
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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