domingo, 14 de junho de 2009

(2009/355) Sobre método e visada nietzscheanas


1. Ah, quem pega uma reta para, com ela, ler Nietzsche!... Ah, pobre de nós! É poesia, gente, o que ele faz. Poesia - entendes? Mas alto lá: poesia é a maedia, mas o moço sabe exatametne do que está falando: sabe rigorosamente o que está falando a respeito do que está falando. Não se vá confundir meio e mensagem...

2. Quanto ao método geral, aquele de investigar, de pôr-se em perspectiva. Vamos lá:

3. "Aforismo 16. SUBIR. 'Como é que se deve atacar a encosta?'... / 'Sobe e não penses nisso'" (Nietzsche, A Gaia Ciência). Diríamos nós, então, que não há método? Não, queridos, mas que o modo como se deve atacar a encosta há de ser revelado... à medida que se ataca a encosta. Qualquer a priori é falso a priori, porque os métodos a priori foram, antes, apalpadelas inaugurais de alpinistas antigos, que, depois de terem eles mesmos atacado a sua encosta, agora dedicam-se a dizer como se deve atacá-las. Ele atacou - por isso ele sabe... Se você se agarra ao método, toma-o pelo próprio fim. Diante dos olhos, deve ter é a encosta - e seu desafio...

4. "Aforismo 6. SABEDORIA DO MUNDO. Não fiques em terreno plano. / Não subas muito alto. / O mais belo olhar sobre o mundo / Está a meia encosta" (Nietzsche, A Gaia Ciência). "Não fique em terreno plano" - não seja deveras materialista. "Não subas muito alto" - não seja deveras idealista. Posicione-se, para a visada, à meia encosta - nem materialismo, nem idealismo... separados! Os dois têm de operar concomitantemente. E, já que saltei de Nietzche para Morin, vamos citá-lo: "todas as verdades adquiridas a patir de fontes objetivas e da fonte subjetiva devem sofrer o exame epistemológico, o único que olha os pressupsotos dos diversos modos de conhecimento, inclusive o seu, e o único que considera possibilidades e limites do conhecimento humano" (Morin, O Métoo 5 - a humanidade da humanidade: a identidade hmana, p. 18).

5. Voltando ao filósofo. Quanto à dureza da empreitada, mormente se você se vê cercado de gente perplexa diante de sua resignação: "Aforismo 26. A MINHA DUREZA. É preciso que eu vença cem degraus / É preciso que eu suba, e ouço-vos gritar: / 'És duro! Será então que nós somos de pedra!' / É preciso que eu vença cem degraus, / E ninguém aparece para me ajudar" (Nietzche, A Gaia Ciência). Como esteve solitário, o homem das marteladas. Pudera! Era sobre a cabeça de todo mundo que ele batia!...

6. Ah, e para que não paire nenhuma dúvida sobre a centralidade do método em Nietzsche: "os métodos, cumpre dizê-lo dez vezes, são o essencial, e também o mais difícil, e também o que há mais tempo têm contra si os costumes e a preguiça" (Nietzsche, O Anticristo, LIX).


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

V. Frari disse...

Muito bom, Osvaldo.

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