quinta-feira, 23 de abril de 2009

(2009/209) MST, by Veríssimo


1. Endosso o comentário de Veríssimo. Seria a coisa mais fácil do mundo resolver o problema fundiário brasileiro, caso houvesse real vontade política. Não, não seria sem "enfrentamento", não, que a hora que o grande capital fundiário vir a coisa ficar feia para o lado dele, certamente que, à semelhança do que vemos diariamente na TV, organizará todas as forças reacionárias em torno da defesa de privilégios, posses e benefícios de injustiça, porque esse grande capital fundiário tem, do seu lado, a política, a mídia e o capital-moeda. Por isso, talvez seja apenas "politicamente correto" fazer como Veríssimo, registrar que talvez os métodos do MST... É, Veríssmo, talvez... Mas uma coisa é certa, Veríssimo: se eles não fazem como fazem, a Reforma Agrária não passa de uma mera rubrica em embolorados projetos de gaveta. Se com as invasões a coisa já anda a passos de tartatuga... Se, para ser atendido em urgências médicas, pobre tem que fazer escândalo e esmurrar porta de vidro, se não, morre na calçada mesmo, quanto mais não deve fazer para reinvidicar terra!

2. Por Luis Fernando Veríssimo. "É fácil ter opiniões firmes sobre, por exemplo, o câncer (contra) e o leite materno (a favor). Já outros assuntos nos negam o conforto de pertencer a uma unanimidade, ou mesmo a uma maioria. São assuntos em que os argumentos contra e a favor se equilibram e sobre os quais a gente pode ter opiniões, mas elas estão longe de ser firmes. Até opiniões que você julgaria indiscutíveis - exemplo: nada justifica a tortura - são controvertidas, e basta ler as seções de cartas dos jornais para ver como a pena de morte, oficial ou extra-oficial, tem entusiastas entre nós. Em assuntos como aborto, cotas raciais nas universidades, etc. coisas como a religião, a formação, a ideologia e até o saldo bancário de cada um determinam as opiniões divergentes. E não vamos nem falar nos extremos opostos de opinião provocados por qualquer avaliação do governo Lula.

3. Mas há um assunto sobre o qual você talvez ingenuamente imaginasse que nenhuma discordância seria possível. A brutal evidência - geográfica, cartográfica, literalmente na cara, portanto independente de interpretação e opinião - da iniqüidade fundiária no Brasil, um continente de terra com poucos donos, era tamanha que durante muito tempo uma genérica "reforma agrária" constou do programa de todos os partidos, mesmo os dos poucos donos da terra. Era uma espécie de reconhecimento da injustiça inegável que desobrigava-os de fazer qualquer coisa a respeito, retórica em vez de reforma. O aparecimento do Movimento dos Sem Terra acrescentou um novo elemento a essa paisagem de descaso histórico: os próprios despossuidos em pessoas, organizados, reivindicando, enfatizando e até teatralizando a iniqüidade, para contestar a hipocrisia. A evidência insofismável transformada em drama humano.

4. Pode-se discutir os métodos do MST, e até que ponto as invasões e a violência não dão razão à reação e não desvirtuam o ideal, além de agravar a truculência do outro lado. Mas sem perder de vista o que eles enfrentam: não só a injustiça que perdura, apesar de programas governamentais bem intencionados e de alguns avanços, como um Congresso recheado de grandes proprietários rurais, o poder político e financeiro dos agro-business e uma grande imprensa que destaca a violência mas sempre ignorou a existência de acampamentos do MST que funcionam e produzem - inclusive exemplos de cidadania e solidariedade. É a minha opinião".

5. A minha também, com a ressalva quanto aos métodos da invasões, porque não estou certo quanto a não serem realmente necessários.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

PS. Leia, também, Sigam o exemplo do Brasil, de Immanuel Wallerstein.

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