1. De terça a quinta, tomo ônibus e metrô para a cidade do Rio de Janeiro (resido na Baixada Fluminense). É aí que você tem contato com a população das classes D e E e da classe C. Quando se anda apenas de automóvel, de lá pra cá, todos os dias, perde-se o contato com essa gente - o "povo". Perdendo contato com essa gente, ela se torna invisível. Você, impassível. Invisível ela, suas dores não chegam a constranger terceiros que dela, essa gente, não têm ciência, sensação, percepção. No máximo, manchetes e notas de mídia, a falar de coisas distantes. Porque, do outro lado dos vidros do carro, outro é o mundo, outro planeta é o planeta, pessoas, postes e árvores misturam-se com o calor ou a chuva. Você - no carro...
2. Um aluno me conta que, saindo da composição do metrô, na estação Estácio (Rio de Janeiro), percebeu um sujeito atormentado, com aparência visível de estar "perdido". O sujeito, percebendo-se percebido, aproximou-se: _ Nossa!, é sempre cheio assim? _ Sim, às vezes mais, até! _ Nossa! Eu não sabia, é a primeira vez que uso o metrô... Meu carro quebrou aqui perto, liguei para minha esposa, tenho que ir para a Uruguaiana...
3. O aluno orientou-o, e, ele, ainda assustado com tanta gente. Não tinha costume. Sua vida era o apartamento de classe média alta, um mundo hermético, o carro fechado, os vidros fumê, músicas de CD ou notícias de uma CBN ideologicamente compromotida, e, finalmente, férias em paraísos para poucos de muitos recursos. As pessoas concretas, os pobres, a classe média recém-inventada (por causa de R$ 50,00 você ascende à classe média, sabia?), os suados do dia-a-dia, esses, é como se inexistissem - na prática, para nosso amigo assustado, de fato, inexistem.
4. Não me surpreende que os programas de assistência social do Governo choquem a classe média alta - para quê? Eles sequer entendem a necessidade disso, porque não conseguem ver a massa de milhões e milhões de pessoas que, de um jeito ou de outro, por culpa também do sistema macro-econômico, político e sócio-cultural do país - de que essa classe média alta é uma das constituintes -, a eles precisam recorrer.
5. E olha que nos ônibus e metrô do Rio de Janeiro você não chegará a deparar-se necessariamente com aquela categoria mais vilipendiada da sociedade, a negritude e a branquitude miserável, descamisada e desdentada, paupérrima de todo valor pecuniário e ético, reduzido a menos do que bicho. Não. Esssa gente está ainda mais soterrada nos porões da arquiterura urbana.
6. Se o nosso amigo apavorado com "tanta gente" das classes C, D e E, espremidas na plataforma do metrô, deparasse-se com a massa desgraçada da sociedade, enfartaria. Essa breve experiência metroviária, contudo, custar-lhe-á algumas treze sessões de terapia...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Um aluno me conta que, saindo da composição do metrô, na estação Estácio (Rio de Janeiro), percebeu um sujeito atormentado, com aparência visível de estar "perdido". O sujeito, percebendo-se percebido, aproximou-se: _ Nossa!, é sempre cheio assim? _ Sim, às vezes mais, até! _ Nossa! Eu não sabia, é a primeira vez que uso o metrô... Meu carro quebrou aqui perto, liguei para minha esposa, tenho que ir para a Uruguaiana...
3. O aluno orientou-o, e, ele, ainda assustado com tanta gente. Não tinha costume. Sua vida era o apartamento de classe média alta, um mundo hermético, o carro fechado, os vidros fumê, músicas de CD ou notícias de uma CBN ideologicamente compromotida, e, finalmente, férias em paraísos para poucos de muitos recursos. As pessoas concretas, os pobres, a classe média recém-inventada (por causa de R$ 50,00 você ascende à classe média, sabia?), os suados do dia-a-dia, esses, é como se inexistissem - na prática, para nosso amigo assustado, de fato, inexistem.
4. Não me surpreende que os programas de assistência social do Governo choquem a classe média alta - para quê? Eles sequer entendem a necessidade disso, porque não conseguem ver a massa de milhões e milhões de pessoas que, de um jeito ou de outro, por culpa também do sistema macro-econômico, político e sócio-cultural do país - de que essa classe média alta é uma das constituintes -, a eles precisam recorrer.
5. E olha que nos ônibus e metrô do Rio de Janeiro você não chegará a deparar-se necessariamente com aquela categoria mais vilipendiada da sociedade, a negritude e a branquitude miserável, descamisada e desdentada, paupérrima de todo valor pecuniário e ético, reduzido a menos do que bicho. Não. Esssa gente está ainda mais soterrada nos porões da arquiterura urbana.
6. Se o nosso amigo apavorado com "tanta gente" das classes C, D e E, espremidas na plataforma do metrô, deparasse-se com a massa desgraçada da sociedade, enfartaria. Essa breve experiência metroviária, contudo, custar-lhe-á algumas treze sessões de terapia...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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