domingo, 22 de março de 2009

(2009/101) Caça à vista!


1. Acabo de encontrar o alvo de meus próximos "ataques" (a Teologia respira aliviada...). A prudência recomendaria que, primeiro, eu me certificase do que deveria (ou não) dizer, para tanto, lendo detalhadamente o texto, duas vezes, e não uma, três, quatro, se necessário. Mas quero fazer um exercício aqui. Quero antecipar um juízo, correndo todo o risco - calculado, contudo.

2. Vamos lá! O texto que criticarei constitui a primeira crítica direta que li à "teoria da complexidade" de Edgar Morin: Érico Andrade, Uma Crítica à Teoria da Complexidade Proposta por Edgar Morin, Dissertatio, 26, 2007, p. 167-187. Que ousadia!, pensei de pronto - mas, incontinenti, lembrei de mim mesmo e de minhas "ousadias" dirigidas a intocáveis: Gadamer, Tillich, Lévinas, Buber... Recomposto, então, por meio de minha própria crítica auto-imposta, imponho-me a alternativa séria: ler, criticamente, a crítica de Érico Andrade, e emitir meu parecer. O qual, desde já antecipo: a crítica de Érico Andrade encontra-se prejudicada, porque não compreende que, ao contrário do que postula, Edgar Morin não pretende, nem de longe, superar a "ciência clássica", que, no nível de pertinência a que se aplica, é ela ou nada, mas, antes, estabelecer uma relação verdadeiramente dialogal entre as diversas ciências (no paradigma não-complexo praticamnte não há diálogo), bem como entre as ciências e o real, e isso - ironia! - a partir de informações fornecidas pelas próprias ciências "disciplinares".

3. Assim que comecei a ler o artigo, a primeira coisa que fiz foi recorrer à bibligrafia, porque pensei: é impossível alguém ter lido a coleção - toda - O Método, e dizer o que estou lendo. Bem, as únicas obras de Morin que constam da bibliografia são: MORIN, Edgar, Science avec conscience. Paris: Seuil, 1990; O Método, Porto Alegre: Editora Sulina, 1998; e Introdução ao Pensamento Complexo, Lisboa: Piaget, 2003. Ora, O Método constitui uma série de seis volumes. A saber: I: O Método 1 - a natureza da natureza (Editions du Seuil, 1977, Sulina, 2003 [2 ed.]). II: O Método 2 - a vida da vida (Editions du Seuil, 1980, Sulina, 2001). III: O Método 3 - o conhecimento do conhecimento (Editions du Seuil, 1986, Sulina, 1999 [2 ed.]). IV: O Método 4 - as idéias: habitat, vida, costumes, organização (Editions du Seuil, 1991, Sulina, 2002 [3 ed.]). V: O Método 5 - a humanidade da humanidade: a identidade humana (Editions du Seuil, 2001, Sulina, 2003 [2 ed.]). VI: O Método 6 - ética (Editions du Seuil, 2004, Sulina, 2005). Ou Érico Andrade só leu um dos seis volumes, ou esqueceu-se de incluir os outros cinco. Melhor ter sido o segundo caso...

4. Se confrontarmos a referência a um único volume de O Método na bibliografia do artigo com a lista acima, pode-se apostar, com segurança, tratar-se, então, do volume três, a rigor, um volume de Epistemologia (com efeito, é o que uso na disciplina Epistemologia, no Curso de Graduação em Teologia (MEC) da Faculdade Batista do Rio de Janeiro). Todavia, O Método não é, absolutamente, um volume - a coleção constitui um trabalho em progresso, de modo que os volumes anteriores são imprescindíveis para a compreensão do seguinte. Sem os volumes um e dois, o três perde considerável força de argumentação, conquanto, a cada parte, esse volume faça referência ao conteúdo exposto nos volumes anteriores. É verdade que Morin sugere a possibilidade de o leitor entrar na série tanto pelo volume quatro quanto pelo volume um. Eu, contudo, depois de os ler a todos, considero que o caminho do um ao seis (eu comecei pelo quatro) é mais recomendável.

5. Não me parece adequado uma crítica à "teoria da complexidade" de Morin por meio de um volume de O Método. Já por essa constatação, agarrei-me à impressão inicial, desfavorável à retórica do artigo, de que a crítica daria com os burros n'água. A primeira leitura, convenceu-me de minha impressão primeira. Mas darei uma segunda chance ao texto, e voltarei a ele, mais detidamente, para ajuizar por definitivo minha conclusão.

6. Por ora, deixo o leitor com o seguinte:

6.1 "Daí, construir uma epistemologia para corroborar uma certa visão de mundo, quando não aliada à prática científica, geralmente produz teorias pouco férteis (as desastrosas assertivas científicas de Hegel é um dos maiores exemplos da improficuidade de uma razão sem crítica) que se distanciam da realidade justamente por acreditarem – dogmaticamente – estar tão perto dela.

6.2 Nessa perspectiva a teoria da complexidade farta em neologismos e adjetivos padece de argumentos, uma vez que esses quando não são um requintamento de pressupostos antigos – a ontologia determina a epistemologia – revela a forma mais ardil do dogmatismo contemporâneo, a saber aquela que acredita que a atividade científica deveria ser normatizada em nome de uma verdade metacientífca, impassível de demonstração".


7. Em negrito, destaquei as críticas mais agudas de Érico Andrade à "teoria da complexidade" de Edgar Morin. Bem, será a minha palavra contra a do articulista, mas assumo que nenhuma das três críticas assinaladas corresponde, em qualquer sentido, à proposta de Edgar Morin, conforme eu a encontro em O Método - e não apenas no volume três, mas em todos os outros cinco. Por ora, o leitor decida - o que pode fazer por meio, apenas (terá coragem para tanto?), da leitura de O Método.

8. Seja como for, Érico Andrade merece ao menos a consideração da hipótese da "inocência presumida" - até prova em contrário. Assumo a tarefa, portanto, de, em breve, apresentar meu parecer, que, aqui, adianto: "teoria da complexidade", de Morin, 1 x 0 crítica de Érico Fernandes à "teoria da complexidade" proposta por Edgar Morin.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

SD disse...

Nem sei se vou usar o artigo na monografia... me parece, assim como vc achou, inconsistente, baseado em uma análise superficial... mas vou ler com mais calma!!

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