1. De outro modo, como eu posso explicar que ele, por exemplo, "pense"?, que ele, "fale"?, que ele "cante"?, que ele "veja"?, que ele "faça contas"? Já não consigo mais ficar à vontade diante de meu PC - ele tem uma alma, uma assombração, me olhando, fixamente...
2. Há milênios, alguém, em algum cultura, considrou que a natureza do pensamento era por demais diferente da natureza do corpo - expírito versus matéria - para que procedesse dele. O pensamento devia ser mais como o "vento". Assim, decidiu-se considerar a separação (dicotomia, disjunção) entre pensamento e corpo, espírito e matéria. Inventou-se o "dualismo".
3. O dualismo entrou no Ocidente porque Platão o sistematizou, e, uma vez que Platão é a própria "alma" do Ocidente, seja por meio da encarnação helênico-judaica, seja da encarnação greco-romana, o Ocidente tornou-se dualista: o pensamento e o corpo divorciaram-se oficialmente.
4. Quando a teologia começou a incomodar, e a intelectualidade daí procedente começou a querer andar com as próprias pernas, ainda aí o dualismo - em Descartes, por exemplo - conseguiu manter-se, como musgo e limo, agarrado.
5. Somente a partir do século XIX - até onde posso controlar - é que o dualismo começou a ser propositivamente superado. Primeiro, com Marx, cuja epistemologia anti-teológica propos o homem como ser natural. Depois, com Nietzsche, que afirmou que a consciência era a última etapa do desenvolvimento orgânico da/na espécie humana. Hoje, as Ciências Cognitivas "trabalham" como sob esse axioma: o pensamento é material.
6. O que faz com que eu exorcize aquela primeira impressão: haveria uma alma em meu PC. Na verdade, é um anti-exorcismo que devo praticar - e em mim!: meu corpo (é que) pensa, vê, fala, canta, faz contas...
7. É muito curioso - depois de dois mil anos de platonismo, o Ocidente encaminha-se para dialogar muito mais com as tradições próximo-orientais que, está bem, como Platão, também cuidavam de vida após a morte, mas, diferentemente dele, não para uma alma-fantasma, mas para um corpo vivo, uma "garganta viva", como diz Gênesis (e não "alma vivente", como o quis/quer Almeida). Platônico até a próstata, a cabeça de Paulo, todavia, guardava, viva, a tradição material do judaísmo antigo - sem um corpo, seja aqui, seja "lá", toda a fé é vã... A fé daquela gente do Crescente Fértil estava mais para Coisa do que para o Garparzinho...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Há milênios, alguém, em algum cultura, considrou que a natureza do pensamento era por demais diferente da natureza do corpo - expírito versus matéria - para que procedesse dele. O pensamento devia ser mais como o "vento". Assim, decidiu-se considerar a separação (dicotomia, disjunção) entre pensamento e corpo, espírito e matéria. Inventou-se o "dualismo".
3. O dualismo entrou no Ocidente porque Platão o sistematizou, e, uma vez que Platão é a própria "alma" do Ocidente, seja por meio da encarnação helênico-judaica, seja da encarnação greco-romana, o Ocidente tornou-se dualista: o pensamento e o corpo divorciaram-se oficialmente.
4. Quando a teologia começou a incomodar, e a intelectualidade daí procedente começou a querer andar com as próprias pernas, ainda aí o dualismo - em Descartes, por exemplo - conseguiu manter-se, como musgo e limo, agarrado.
5. Somente a partir do século XIX - até onde posso controlar - é que o dualismo começou a ser propositivamente superado. Primeiro, com Marx, cuja epistemologia anti-teológica propos o homem como ser natural. Depois, com Nietzsche, que afirmou que a consciência era a última etapa do desenvolvimento orgânico da/na espécie humana. Hoje, as Ciências Cognitivas "trabalham" como sob esse axioma: o pensamento é material.
6. O que faz com que eu exorcize aquela primeira impressão: haveria uma alma em meu PC. Na verdade, é um anti-exorcismo que devo praticar - e em mim!: meu corpo (é que) pensa, vê, fala, canta, faz contas...
7. É muito curioso - depois de dois mil anos de platonismo, o Ocidente encaminha-se para dialogar muito mais com as tradições próximo-orientais que, está bem, como Platão, também cuidavam de vida após a morte, mas, diferentemente dele, não para uma alma-fantasma, mas para um corpo vivo, uma "garganta viva", como diz Gênesis (e não "alma vivente", como o quis/quer Almeida). Platônico até a próstata, a cabeça de Paulo, todavia, guardava, viva, a tradição material do judaísmo antigo - sem um corpo, seja aqui, seja "lá", toda a fé é vã... A fé daquela gente do Crescente Fértil estava mais para Coisa do que para o Garparzinho...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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