quinta-feira, 5 de março de 2009

(2009/051) Pleonasmo nada - política e vício!


1. Cito um parágrafo do "polêmico" artigo de Clodovis Boff, Teologia da Libertação e Volta ao Fundamento (1): "mas, fazendo assim - e aqui o repetimos - a TdL mostra que ignora o seu estatuto próprio: o de ser precisamente uma "teologia de segunda ordem", que pressupõe teoricamente uma "teologia de primeira ordem", como a espécie pressupõe o gênero. Ela não se dá conta de que para ser um bom teólogo da libertação não basta ser apenas teólogo da libertação: precisa ser antes ainda, e principalmente, "teólogo da fé" (com o perdão do pleonasmo)".

2. "Teólogo da fé" - plenoasmo? Não, não é. Ao menos se pensarmos - de verdade! - epistemologicamente. Adotar a fé como "princípio" para a teologia (o que não é privilégio de Clodovis Boff), constitui apenas uma demarcação ainda medieval para uma disciplina que precisa, urgentemente, de reforma epistemológica.

3. Entendo: a teologia encontra-se como uma boneca de pano a ser puxada de um lado para outro pela "Igreja" e pela "Universidade", o que faz com que os pronunciamentos "eclesiásticos" - é o caso de Clodovis Boff, mas não só dele - apresentem-na como "fé" (platonismo puro esse modo de articulação). Já na Universidade, a manutenção desse artifício vai do vício da boca torta dos teólogos - fumaram tanto o caximbo medieval que se esqueceram de olhar o calendário...

4. Para uma "ótica de igreja", pode-se sugerir que a afirmação de que "teologia"/"teólogo" seja função da "fé" constitua um pleonasmo. De fato - o teólogo abriu a boca?, olha lá a Doutrina (fé, aí, não passa disso...). Todavia, isso é possível apenas sob essa ótica platônica, anacrônica, medieval. Na "Igreja", vá lá, porque a "Igreja" é tudo isso, afinal - ainda! Mas na Universidade, não! Na Universidade, dizer "teologia da fé" não é pleonasmo, não, senhor: é a classificação necessária de uma condição fóssil, sobrevivente, comprometida, ainda (oxalá por pouco tempo!) (como em Gaza e o Egito, há corredores subterrâneos entre a Universidade e a Igreja, por meio do qual se contrabandeiam relações inconfessáveis...).

5. Na Universidade, a teologia não pode, em nenhuma hipótese, ainda que o MEC tenha tolerado tal absurdo epistemológico, objetivar-se como expressão confessional. Se o faz - e o faz, é verdade, é fato: o faz e o faz hegemonicamente, ainda -, é por pura negligência e irresponsabilidade para com o jogo das Ciências Humanas, corporativismo de vício de pensamento. Cada teólogo e teóloga que, na Universidade vincula teologia e fé comete um ato de desqualidifcação da teologia enquanto ciência - se, de fato, a teologia pode transformar-se em ciência (que não o é, hoje, não há dúvida).

6. Assim, Clodovis Boff tem razão em afirmar que a expressão "teólogo da fé" constitui um pleonasmo, mas, apenas, em seu caso específico, porque é do "púlpito" que ele fala, e aí, nesse lugar, a teologia ainda brinca de ser medieval, com seus argumentos medievais, seus comprometimentos medievais, sua cara-de-pau medieval. Na Universiade, a suituação é outra, e, quando a classificação é possível - e o é em quase a totalidade dos casos - é-o não por uma questão resolvida e certra, mas por obra e graça do pecado crítico da comunidade teológica acadêmica - não conseguiram até agora (não sabem?, não podem?, não querem?) largar a teta da mãe, a barra da saia da ama de leite, sabe-se lá o que mais...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

(1). BOFF, Clodovis, Teologia da Libertação e Volta ao Fundamento, Revista Eclesiástica Brasileira, n. 268, v. 67, outubro 2007, p. 1001-1022, disponível em www.chiesa (aqui).

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio