quinta-feira, 19 de março de 2009

(2009/091) Interpretação e Verdade


1. Neste semestre toca-me novamente dar uma disciplina de Tópicos de Hermenêutica. É uma atividade que gosto de fazer. Há tanta coisa interessante para refletir sobre a típica 'atividade de Hermes'. A pergunta pela verdade, portanto, uma questão heurística está sempre presente.

2. Recebi hoje um daqueles emails que chegam todos os dias. Voce abre, dá uma olha e, em geral, deleta. Deste peguei só a primeira parte, porque a segunda era crítica superficial a Lula. A historinha do email é a seguinte:

3. Judy Wallman é uma pesquisadora na área de genealogia nos Estados Unidos. Durante pesquisa da árvore genealógica de sua família deu de cara com uma informação interessante. Um tio-bisavô, Remus Reid, era ladrão de cavalos e assaltante de trens. No verso da única foto existente de Remus (em que ele aparece ao pé de uma forca) está escrito: "Remus Reid, ladrão de cavalos, mandado para a Prisão Territorial de Montana em 1885, escapou em 1887, assaltou o trem Montana Flyer por seis vezes. Foi preso novamente, desta vez pelos agentes da Pinkerton, condenado e enforcado em 1889".

4. Acontece que o ladrão Remus Reid é ancestral comum de Judy e do senador pelo estado de Nevada, Harry Reid. Então Judy enviou um email ao senador solicitando informações sobre o parente comum. Mas não mencionou que havia descoberto que o sujeito era um bandido.

5. A atenta assessoria do Senador respondeu desta forma: "Remus Reid foi um famoso cowboy no Território de Montana. Seu império de negócios cresceu a ponto de incluir a aquisição de valiosos ativos eqüestres, além de um íntimo relacionamento com a Ferrovia de Montana. A partir de 1883 dedicou vários anos de sua vida a serviço do governo, atividade que interrompeu para reiniciar seu relacionamento com a Ferrovia. Em 1887 foi o principal protagonista em uma importante investigação conduzida pela famosa Agência de Detetives Pinkerton. Em 1889, Remus faleceu durante uma importante cerimônia cívica realizada em sua homenagem, quando a plataforma sobre a qual ele estava cedeu."

6. Diante disso, ocorreu-me prontamente a definição de Nietzsche sobre a verdade no fragmento "Acerca da Verdade e da Mentira" , no volume junto com O Anticristo (São Paulo: Rideel, 2005, p.13):
"O que é então a verdade? Um exército móvel de metáforas, de metonímias, de antropomorfismos, numa palavra, uma soma de relações humanas que, foram poética e retoricamente intensificadas, transpostas e adornadas e que depois de um longo uso, parecem a um povo fixas, canônicas e vinculativas: as verdades são ilusões que foram esquecidas enquanto tais, metáforas que foram gastas e que ficaram esvaziadas do seu sentido, moedas que perderam o seu cunho e que agora são consideradas, não já como moedas, mas como metal".

7. Verdade é questão de poder.

8. Somente a pesquisa indiciária consequente é capaz de evidenciar as falácias das verdades 'estabelecidas'.


HAROLDO REIMER

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