1. Leio no site da ADITAL um interessante pronunciamento de Jung Mo Sung - Uma nova crítica teológica para um novo tempo. Breve e, contudo, suficientemente objetivo, Jung Mo Sung propõe, para a nova situação concreta do campitalismo mundial, "uma teologia crítica para fazer frente à nova forma de dominação capitalista que está sendo gestada".
2. Segundo a ótica interna do pronunciamento, essa "teologia crítica" seria nova em face das correntes críticas anteriores, particularmente aquelas que o autor cita expressamente: a das décadas de 1960/70, baseando-se na "teoria de dependência econômica" ("Deus" contra os opressores-colonialistas!), e a das décadas de 80/90, baseando-se na premissa da "idolatria do mercado". ("Deus" contra o deus-mercado!). Segundo o autor, contudo, o planeta atravessaria uma fase de reformulação - mas não uma derrocada - do capitalismo, o que, portanto, exigiria uma "nova" teologia crítica, já que a situação concreta a que ela há de se dirigir encontra-se em transformação, de modo que não se poderia, nesse caso, apelar para os modelos teológicos críticos anteriores. Esse novo modelo crítico deveria ser gestado, então, por "redes e centros catalisadores capazes de promover diálogos e trabalhos interdisciplinares".
3. Levanto uma questão: em que sentido essa "nova teologia crítica" seria, realmente, "nova"? No Segundo Congresso da ABIB, em 2006, perguntei, publicamente, a Norman K. Gottwald, ao fim de sua conferência, se existia, se ele cria, na possibilidade de uma utopia que não tivesse "Deus" como motor, logo, se ele cria na utopia não-mitológica, não-alienada, não-alienante. Não obtive resposta, seja porque o tradutor não entendeu a pergunta, logo, não a formulou adequadamente na língua de Gottwald, seja porque Gottwald não entendeu a pergunta, eventualmente bem formulada pelo tradutor, seja porque, entendendo-a, não tinha, contudo, como responder.
4. Faço a mesma pergunta a Jung Mo Sung - essa "nova" teologia crítica, conquanto "interdisciplinar", ainda terá "Deus", como garantidor, norte, motivo, motivação, fundamento? Ela, essa "nova" teologia crítica, ainda se construirá por meio de afirmações de que "Deus" está ao lado e do lado dela? Em última análise, é "Deus" quem precisa reformular seu discurso contra a sociedade capitalista planetária - nesse caso, instado por "nós", teólogos? Ela, essa teologia "nova", conquanto crítica, será, ainda, uma contra-Cidade Bela, mas, no fundo, ainda, construída segundo os regimes de engenharia e arquitetura da velha Cidade Bela - rumor do mito, mitoplasmas, mitoplastas, e - "cidadãos-cantores"?
5. Bem, ela, essa nova teologia crítica não me parece, assim, tão nova. E, então, a questão que ponho é aquela que propus a Gottwald - toda transformação social que a teologia pretender fazer será, necessariamente, como sempre o foi, até aqui, mitológica?, dependerá, sempre, em primeiro lugar, da alienação epistemológica dos "soldados", seja por meio do auto-engano, seja por meio do encantamento político-religioso das massas? A condição da utopia é - enfim - o mito?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Segundo a ótica interna do pronunciamento, essa "teologia crítica" seria nova em face das correntes críticas anteriores, particularmente aquelas que o autor cita expressamente: a das décadas de 1960/70, baseando-se na "teoria de dependência econômica" ("Deus" contra os opressores-colonialistas!), e a das décadas de 80/90, baseando-se na premissa da "idolatria do mercado". ("Deus" contra o deus-mercado!). Segundo o autor, contudo, o planeta atravessaria uma fase de reformulação - mas não uma derrocada - do capitalismo, o que, portanto, exigiria uma "nova" teologia crítica, já que a situação concreta a que ela há de se dirigir encontra-se em transformação, de modo que não se poderia, nesse caso, apelar para os modelos teológicos críticos anteriores. Esse novo modelo crítico deveria ser gestado, então, por "redes e centros catalisadores capazes de promover diálogos e trabalhos interdisciplinares".
3. Levanto uma questão: em que sentido essa "nova teologia crítica" seria, realmente, "nova"? No Segundo Congresso da ABIB, em 2006, perguntei, publicamente, a Norman K. Gottwald, ao fim de sua conferência, se existia, se ele cria, na possibilidade de uma utopia que não tivesse "Deus" como motor, logo, se ele cria na utopia não-mitológica, não-alienada, não-alienante. Não obtive resposta, seja porque o tradutor não entendeu a pergunta, logo, não a formulou adequadamente na língua de Gottwald, seja porque Gottwald não entendeu a pergunta, eventualmente bem formulada pelo tradutor, seja porque, entendendo-a, não tinha, contudo, como responder.
4. Faço a mesma pergunta a Jung Mo Sung - essa "nova" teologia crítica, conquanto "interdisciplinar", ainda terá "Deus", como garantidor, norte, motivo, motivação, fundamento? Ela, essa "nova" teologia crítica, ainda se construirá por meio de afirmações de que "Deus" está ao lado e do lado dela? Em última análise, é "Deus" quem precisa reformular seu discurso contra a sociedade capitalista planetária - nesse caso, instado por "nós", teólogos? Ela, essa teologia "nova", conquanto crítica, será, ainda, uma contra-Cidade Bela, mas, no fundo, ainda, construída segundo os regimes de engenharia e arquitetura da velha Cidade Bela - rumor do mito, mitoplasmas, mitoplastas, e - "cidadãos-cantores"?
5. Bem, ela, essa nova teologia crítica não me parece, assim, tão nova. E, então, a questão que ponho é aquela que propus a Gottwald - toda transformação social que a teologia pretender fazer será, necessariamente, como sempre o foi, até aqui, mitológica?, dependerá, sempre, em primeiro lugar, da alienação epistemológica dos "soldados", seja por meio do auto-engano, seja por meio do encantamento político-religioso das massas? A condição da utopia é - enfim - o mito?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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