1. Dá-me taquicardia. Literalmente. O coração dispara. Sim, sofro, há um ano e meio (a origem é bem anterior), de crises de ansiedade profunda, o que, volta e meia, me deprime. A reação cardíaca é resultado, vá lá, dessa condição psicossomática. Mas são as notícias que leio no Terra Magazine (Bob Fernandes), no Nassif, do PHA, no Mino, a respeito da "Operação Satiagraha" e d"Os Intestinos do Brasil". O Brasil flutua sobre um mar de esgoto, e as fezes invadem as altas instituiçõs - sem exceção: a crise é grave, crônica e endêmica. A Itália teve seu momento de enfrentamento da máfia - nós temos, agora, o nosso. Que batalha!
2. Lá fora (com tentáculos aqui dentro), Obama e McCain atraem todas as atenções, surfando na "onda" do "terrorismo" e da "crise financeira internacional". Há cem anos, repete-se exaustivamente, não se deflagrava uma crise tão grave. Outra senhora batalha!
3. Ainda lá fora, ecossistemicamente, debatemo-nos entre ideologias planetárias, e somos alimentados com informações úteis aos ideólogos de plantão. Absolutamente incapazes de analisarmos por nós mesmos a questão ecológica (como?), somos levados por uns e outros para onde uns e outros querem-nos levar, arregimentados por números, cifras, estatísticas, medições, cálculos, previsões, "provas", deduções, inferências, induções. No sofá, estarrecidos, vemos ser desenhado, em chamas, diante de nós, o inferno-estufa. Batalha terrível!
4. De um lado, "Os Intestinos do Brasil", de outro, o Negro e o Herói, bem como o Planeta. Não nos sobra muita coisa com que nos ocuparmos.
5. Mas há. Nesse momento, silenciosa, trava-se uma "batalha". O campo é a Teologia. Os soldados, os Teólogos. As armas - a retórica. O prêmio - o status quo. O que está em jogo é a necessidade de admitir-se, explicitamente, que o discurso teológico, o "saber" teológico (ah, Zabatiero, que favor lhe fez Habermas!), o conteúdo (todo) de todas as teologias (sim, von Sinner, a "teologia" não é, mais, "cristã" [apenas], mesmo quando se faz "confissão, como queres): discurso, "saber" (racionalização!) e conteúdo devem ser admitidos, no conjunto, e sem exceção, como "imaginação", "projeção", "racionalização", "invenção" (notícia velha, embolorada, com mofo de tempo e umidade, velha de cem anos, olvidada à custa do assassinato de reputação de Feuerbach [outro dia, eminente teólogo dizia que o século XIX "enganara-se" a respeito da "religião". Fala sério!]).
6. "Deve ser admitido", essa expressão que uso, prende-se ao fato de que a "teologia" entrou (definitivamente) no MEC. Já estava. Há vinte, trinta anos, mais ou menos, a CAPES já sucumbira - e, contudo, nada, de verdadeiramente revolucionário, aconteceu: duas, três décadas depois da "adesão", a teologia ainda é mediúnica, monasterial, medieval, ontológica e fideísta onde quer que ela finque raízes (não se vê, por exemplo, que Tillich ainda é ontológico e medieval, malgrado as prestidigitações retóricas de sua teologia). Aí, onde a teologia é pós-graduada, ela (ainda) é "revelação" - ponto (claro, do "seu" ponto de vista, inoculado, naturalmente, qual veneno de serpe, nas veias teologais). Self deception.
7. Mas eu dizia - a "teologia" federalizada de segunda onda (a primeira, "pós-graduação", a segunda, "graduação"), tem exigido pronunciamentos a respeito do estatuto epistemológico da "teologia". Tenho analisado alguns na http://www.ouviroevento.pro.br/. Até agora, não encontrei nenhum a defender que a teologia, como está, das duas uma, ou transforma-se em "ciência" (logo, arranca o terceiro olho que pensa ter, aquele igual ao de Lobsang Terça-feira Rampa), ou vai construir heteronomias em outra freguesia. Tenho lido que ela deve ficar na "academia" - como está! -, tanto quanto que ela deve sair, mas que, mesmo saindo, é "saber racional público" sim, senhor, que tudo é "racionalidade", habermasianas racionalidades... O que se insinua em ambos discursos é a "manutenção" do status quo: a teologia deve permanecer como é, os teólogos, como são. Acho isso tristíssimo.
8. Porque triste é a auto-imagem de uma "teologia" que despreza o que aprendemos desde meados do século XVIII (meninos-diabos gritaram no meio da rua que "o rei está nu", que a metafísica é um fantasma da imaginação): uma auto-imagem que não apenas ainda lida com os conteúdos téológicos como "metafísicos", mas, coisa de teólogos, como se quem lidasse com eles fosse dotado de olhos metafísicos, pescoço metafísico, percepção extra-sensorial: olhos, nariz, boca, mãos e ouvidos metafísicos - que Barth chamou, e nós repetimos, de "revelação". Triste, porque negamos a todos o que não suportamos imaginar ser negado a nós - e quem nos negaria? Quem? Triste, porque não temos coragem o suficiente para olhar para nós mesmos e encarar nossa inexorável solidão e angústia. Triste, muito triste.
9. Não sei como terminará a Mãe de Toas as Batalhas. Se a teologia tem futuro do jeito que pensa ser, que se fez, que se faz, mediúnica, medieval, metafísica. Vai agarrar-se à sua auto-imagem, e, ficando ou saindo da Universidade, anunciar anjos, demônios e deuses aos transeuntes, que ela quer ver apavadoros diante disso, para, em seguida, lhes oferecer conforto? Vai sair, admitindo o risco que corre em aceitar a plataforma do jogo epistemológico das ciências, mas, saindo, jogar de dizer que é sabida, expert em coisas divinas, racionalmente sabidas por meios nada, nada racionais? Vai ficar, aceitar a regra do "novo" jogo, e experimentar, pela primeira vez, a quenosis, o esvaziamento, a humanização, o grande sapo cururu da beira do rio transformando-se em um girino a nadar no mar das regras teórico-metodológiocas de consenso? Que te espera, amiga? Que farão de ti?
10. Quanto a mim, já saí. Trago, na mão, um nome: "teologia". Mas não é ela, mais, o que dela se diz nos livros - quase que a absoluta e constrangedora totalidade deles. Como a "consciência", conforme dela disse Nietzsche, a teologia que carrego na mão, esse nome para essa coisa ainda em construção, é orgânica, nasceu da carne. O futuro é incerto. Descobri-lo na casa dos quarenta, ao cabo de um doutorado, é bênção - ou maldição?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Lá fora (com tentáculos aqui dentro), Obama e McCain atraem todas as atenções, surfando na "onda" do "terrorismo" e da "crise financeira internacional". Há cem anos, repete-se exaustivamente, não se deflagrava uma crise tão grave. Outra senhora batalha!
3. Ainda lá fora, ecossistemicamente, debatemo-nos entre ideologias planetárias, e somos alimentados com informações úteis aos ideólogos de plantão. Absolutamente incapazes de analisarmos por nós mesmos a questão ecológica (como?), somos levados por uns e outros para onde uns e outros querem-nos levar, arregimentados por números, cifras, estatísticas, medições, cálculos, previsões, "provas", deduções, inferências, induções. No sofá, estarrecidos, vemos ser desenhado, em chamas, diante de nós, o inferno-estufa. Batalha terrível!
4. De um lado, "Os Intestinos do Brasil", de outro, o Negro e o Herói, bem como o Planeta. Não nos sobra muita coisa com que nos ocuparmos.
5. Mas há. Nesse momento, silenciosa, trava-se uma "batalha". O campo é a Teologia. Os soldados, os Teólogos. As armas - a retórica. O prêmio - o status quo. O que está em jogo é a necessidade de admitir-se, explicitamente, que o discurso teológico, o "saber" teológico (ah, Zabatiero, que favor lhe fez Habermas!), o conteúdo (todo) de todas as teologias (sim, von Sinner, a "teologia" não é, mais, "cristã" [apenas], mesmo quando se faz "confissão, como queres): discurso, "saber" (racionalização!) e conteúdo devem ser admitidos, no conjunto, e sem exceção, como "imaginação", "projeção", "racionalização", "invenção" (notícia velha, embolorada, com mofo de tempo e umidade, velha de cem anos, olvidada à custa do assassinato de reputação de Feuerbach [outro dia, eminente teólogo dizia que o século XIX "enganara-se" a respeito da "religião". Fala sério!]).
6. "Deve ser admitido", essa expressão que uso, prende-se ao fato de que a "teologia" entrou (definitivamente) no MEC. Já estava. Há vinte, trinta anos, mais ou menos, a CAPES já sucumbira - e, contudo, nada, de verdadeiramente revolucionário, aconteceu: duas, três décadas depois da "adesão", a teologia ainda é mediúnica, monasterial, medieval, ontológica e fideísta onde quer que ela finque raízes (não se vê, por exemplo, que Tillich ainda é ontológico e medieval, malgrado as prestidigitações retóricas de sua teologia). Aí, onde a teologia é pós-graduada, ela (ainda) é "revelação" - ponto (claro, do "seu" ponto de vista, inoculado, naturalmente, qual veneno de serpe, nas veias teologais). Self deception.
7. Mas eu dizia - a "teologia" federalizada de segunda onda (a primeira, "pós-graduação", a segunda, "graduação"), tem exigido pronunciamentos a respeito do estatuto epistemológico da "teologia". Tenho analisado alguns na http://www.ouviroevento.pro.br/. Até agora, não encontrei nenhum a defender que a teologia, como está, das duas uma, ou transforma-se em "ciência" (logo, arranca o terceiro olho que pensa ter, aquele igual ao de Lobsang Terça-feira Rampa), ou vai construir heteronomias em outra freguesia. Tenho lido que ela deve ficar na "academia" - como está! -, tanto quanto que ela deve sair, mas que, mesmo saindo, é "saber racional público" sim, senhor, que tudo é "racionalidade", habermasianas racionalidades... O que se insinua em ambos discursos é a "manutenção" do status quo: a teologia deve permanecer como é, os teólogos, como são. Acho isso tristíssimo.
8. Porque triste é a auto-imagem de uma "teologia" que despreza o que aprendemos desde meados do século XVIII (meninos-diabos gritaram no meio da rua que "o rei está nu", que a metafísica é um fantasma da imaginação): uma auto-imagem que não apenas ainda lida com os conteúdos téológicos como "metafísicos", mas, coisa de teólogos, como se quem lidasse com eles fosse dotado de olhos metafísicos, pescoço metafísico, percepção extra-sensorial: olhos, nariz, boca, mãos e ouvidos metafísicos - que Barth chamou, e nós repetimos, de "revelação". Triste, porque negamos a todos o que não suportamos imaginar ser negado a nós - e quem nos negaria? Quem? Triste, porque não temos coragem o suficiente para olhar para nós mesmos e encarar nossa inexorável solidão e angústia. Triste, muito triste.
9. Não sei como terminará a Mãe de Toas as Batalhas. Se a teologia tem futuro do jeito que pensa ser, que se fez, que se faz, mediúnica, medieval, metafísica. Vai agarrar-se à sua auto-imagem, e, ficando ou saindo da Universidade, anunciar anjos, demônios e deuses aos transeuntes, que ela quer ver apavadoros diante disso, para, em seguida, lhes oferecer conforto? Vai sair, admitindo o risco que corre em aceitar a plataforma do jogo epistemológico das ciências, mas, saindo, jogar de dizer que é sabida, expert em coisas divinas, racionalmente sabidas por meios nada, nada racionais? Vai ficar, aceitar a regra do "novo" jogo, e experimentar, pela primeira vez, a quenosis, o esvaziamento, a humanização, o grande sapo cururu da beira do rio transformando-se em um girino a nadar no mar das regras teórico-metodológiocas de consenso? Que te espera, amiga? Que farão de ti?
10. Quanto a mim, já saí. Trago, na mão, um nome: "teologia". Mas não é ela, mais, o que dela se diz nos livros - quase que a absoluta e constrangedora totalidade deles. Como a "consciência", conforme dela disse Nietzsche, a teologia que carrego na mão, esse nome para essa coisa ainda em construção, é orgânica, nasceu da carne. O futuro é incerto. Descobri-lo na casa dos quarenta, ao cabo de um doutorado, é bênção - ou maldição?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Um comentário:
"Bênção ou Maldição"...?
Deveríamos consultar o "Sr.L."
Mas imagino que, para dar
acertada resposta, você teria
que decidir, se deseja ser
"Águia ou Galinha"...
Brincadeiras à parte... situações
limítrofes, tempos de crise e
as dúvidas nascidas das reflexões
- sintomas de que algo novo está
a nascer - sempre nos deixam
suscetíveis a escutar as palavras
de Atos 26,24b...
Abraço, Mestre!
Elias Aguiar
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