1. Convido à imaginação da "teologia" como o teria sido antes das monarquias. Os deuses - desde onde sairá também o "cristão" - não eram, então, certamente, monarcas. Imaginar como seriam constitui uma das reflexões constituintes da tarefa da Fenomenologia da Religião - que tem instrumentos interessantes para isso (cf. o Tratado de História das Religiões, de Mircea Eliade).
2. Entretanto - a monarquia não é a única invenção humana que contaminou, e para sempre, a "teologia". Ora, os primeiros homens e mulheres, quando se deram conta de serem homens e mulheres, depararam-se com um mundo "dado" - pronto, acabado. Ambíguo, porque ora se comporta de modo bom (a caça!), ora, de modo péssimo (o predador!), esse "mundo", contudo, não demanda questões metafísicas dessa natureza, por si só.
3. Até que o primeiro homem, a primeira mulher, fabricaram seu mundo: seus instrumentos, suas "casas", suas cidades. Nesse momento, imediatamente, os "deuses" tornaram-se, também eles, como nunca o haviam sido, "criadores", construtores... O Homo faber inventou a cosmogonia. Também aqui Feuerbach tem toda a razão.
4. Apenas uma inquietação: o parto humano - terá ele influenciado, de algum modo, e antes do Homo faber, a "teologia"? Terão os deuses - as deusas - "sido" Mães, antes que os deuses, por sua vez, viessem a tornar-se "construtores", "criadores"? Haverá, nessa inquietação, alguma coisa de histórico, quero dizer, no fato de que a emergência do Homo faber teria feito submergir um continente inteiro de "hierofanias" ginecológicas? Sim, as "Mães", parturientes divinas, sobreviveram, porque, afinal, o parto é endemicamente humano - mas à sombra da força inexorável da onda civilizatória, cosmogônica, e, a essa altura, contra-ecológica.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Entretanto - a monarquia não é a única invenção humana que contaminou, e para sempre, a "teologia". Ora, os primeiros homens e mulheres, quando se deram conta de serem homens e mulheres, depararam-se com um mundo "dado" - pronto, acabado. Ambíguo, porque ora se comporta de modo bom (a caça!), ora, de modo péssimo (o predador!), esse "mundo", contudo, não demanda questões metafísicas dessa natureza, por si só.
3. Até que o primeiro homem, a primeira mulher, fabricaram seu mundo: seus instrumentos, suas "casas", suas cidades. Nesse momento, imediatamente, os "deuses" tornaram-se, também eles, como nunca o haviam sido, "criadores", construtores... O Homo faber inventou a cosmogonia. Também aqui Feuerbach tem toda a razão.
4. Apenas uma inquietação: o parto humano - terá ele influenciado, de algum modo, e antes do Homo faber, a "teologia"? Terão os deuses - as deusas - "sido" Mães, antes que os deuses, por sua vez, viessem a tornar-se "construtores", "criadores"? Haverá, nessa inquietação, alguma coisa de histórico, quero dizer, no fato de que a emergência do Homo faber teria feito submergir um continente inteiro de "hierofanias" ginecológicas? Sim, as "Mães", parturientes divinas, sobreviveram, porque, afinal, o parto é endemicamente humano - mas à sombra da força inexorável da onda civilizatória, cosmogônica, e, a essa altura, contra-ecológica.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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