quinta-feira, 4 de setembro de 2008

(2008/20) Metaphorai - de trens, ônibus e textos


1. De Michel de Certeau, The Practice of Everyday Life, Califórnia: Californian University Press: 1984, p.115: "in modern Athens, the vehicles of mass transportation are called metaphorai. To go to work or come home, one takes a "metaphor" - a bus or a train. Stories could also take this noble name: every day, they traverse and organise places; they select and link them together; they make sentences and itineraries out of them. They are spatial trajectories. In this respect narrative structures have the status of spatial syntaxes (...) to indicate with what subtle complexity stories, whether everyday or literary, serve as a means of mass trans-portation, as metaphorai. Every story is a travel story - a spatial practice".

2. Aceitemos a metáfora de Michel de Certeau - e aceitemos que textos são metaphorai, veículos de transporte de massa, como os ônibus e os trens de Athenas. Para onde eles nos levam? Exatamente para aonde nós queremos ir. Como o citado diz, posso pegar methaforai para ir para o trabalho ou para casa - porque metaphorai me levam para onde eu quiser. Eu sei para onde a Teologia quer me levar com suas metaphorai...

3. Eu posso, todavia, comprar o bilhete das metaphorai para ir visitar o/a escritor/a. Para manter-me na metáfora de Michel de Certeau, esse texto, então, continua tendo a função das metaphorai atenienses - mas, agora, em lugar de eu ir para minha casa ou meu trabalho, eu decido ir para a casa, para o trabalho do escritor que eu leio. Exegese, então, e não "metáfora" ou "alegoria". Há metaphorai que são metafóricas, há metaphorai que são exegéticas.

4. O problema da metáfora do texto como metaphorai atenienses é que as metaphorai me levam para onde eu decidir ir, seja minha casa, seja a casa do escritor. Já a metáfora que a teologia usa impede-me de ir para outro lugar que não minha sua/minha casa. Aliás - ainda mais: ir para a casa das pessoas, para levá-las para a minha casa, juntos, transportados por minha metáfora.

5. Definitivamente, não gosto da Teologia que se fez metáfora, tanto quanto desgosto da Teologia que se crê ontologia. Quero apenas uma teologia, uma nova teologia - que me permita e ajude a voltar ao passado, revirar minhas memórias, criticar seus fundamentos, e re-escrever minha história como - agora - homem do século XXI. Não quero construir-me sob o falseamento retórico-metafórico do passado, o recalque do real, mas sujar-me do pó e da lama que pés humanos pisaram e amassaram, ora com lágrimas, ora com suor, ora com sangue, e, sempre, absolutamente sempre, com suas carnes.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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