
1. Um fragmento póstumo de Nietzsche, recolhido à mesma fonte do post anterior. Uma obra muito boa essa coletânea de Escritos sobre História, de Nietzsche, aristocrata "evolucionista" que o século XX, com seu indisfarçável gosto pré e pós-moderno - tanto faz a direção em que se olhe, dá no mesmo - reduziu a uma fornalha metafórica, um destruidor da história - decerto não se leu Nietzsche, reproduziu-se cacofonicamente alguma balbúrdia pronunciada após uns goles a mais... Bem, mas ei-lo, o fragmento:
2. "Os eruditos alemães e os chamados pensadores alemães, distantes da história real, fizeram da história o seu tema e, como bons teólogos de nascimento, procuraram a comprovação da sua racionalidade. Temo que numa época futura se considere esta contribuição alemã à cultura européia como sendo o seu dote mais miserável: a sua história é falsa!" (p. 243).
3. Todo "ódio" que a Teologia nutrir por Nietzsche é pouco - porque ninguém a denunciou tanto como falsidade do que esse filho de pastor protestante... Esse fragmento póstumo não tem como ser desmentido: ainda se chama "teologia histórica" a reflexão de Oscar Cullmann e de Wolfgang Pannemberg! História? Mas... como assim? Não há nada de "história" ali, salvo raconalização mitológica da provinciana história da salvação que, em si mesma, é platônica, depois, agostiniana, logo, metafísica, ontológica, teológica - mito.
4. O que a Teologia chama de história é a encenação mitoplástica de um enredo mitológico, é uma racionalização - ao "modelo retórico da história - de doutrinas e crenças sistematizadas, é o mundo virado de ponta-cabeça. Não é história isso a que os teólogos chamam de história. História - que, contudo, senhores, nasceu também na Alemanha, porque o método histórico-crítico é filho de protestantes alemães! - é contingência, História é imanência, História é aleatoriedade, História é abertura ao imprevisto e ao imprevisível. O que se chama de história, e se reproduz como telos, é teologia disfarçada. A rigor, é política disfarçada... É, sempre, um clero a fabricá-la, e uma fábrica de catecúmenos a repeti-la... Ou, dito de outro modo:
5. "A maneira gótica de Hegel quando toma o céu de assalto ( - Epigonalidade). Tentativa de introduzir uma espécie de razão na evolução: - eu estou no extremo oposto, vejo inclusive na própria lógica uma espécie de desrazão e de acaso. Esforçamo-nos para compreender como foi na maior desrazão, quer dizer, na ausência de qualquer razão, que se produziu a evolução que leva até o homem" (p. 243).
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
PS. se alguém me acusa de ser, portanto, um não-teólogo, dou de ombros. Insisto: sou teólogo. Mas a Teologia não pode ser mais o que era há duzentos anos - e ainda o é. Tanto quanto a Química, apesar de ser filha e neta delas, não pode ser mais Metalurgia iniciática nem Alquimia... Não sou - aí, sim - um teólogo medieval, nem um teólogo pseudo-moderno, nem faço força para brincar de Idade Média. Faço força - sim, faço - para parir-me como teólogo do século XXI. E, se for para ser aqui o que se era lá, desistirei tão rápido que meu nome se apagará da história das tentativas.
2. "Os eruditos alemães e os chamados pensadores alemães, distantes da história real, fizeram da história o seu tema e, como bons teólogos de nascimento, procuraram a comprovação da sua racionalidade. Temo que numa época futura se considere esta contribuição alemã à cultura européia como sendo o seu dote mais miserável: a sua história é falsa!" (p. 243).
3. Todo "ódio" que a Teologia nutrir por Nietzsche é pouco - porque ninguém a denunciou tanto como falsidade do que esse filho de pastor protestante... Esse fragmento póstumo não tem como ser desmentido: ainda se chama "teologia histórica" a reflexão de Oscar Cullmann e de Wolfgang Pannemberg! História? Mas... como assim? Não há nada de "história" ali, salvo raconalização mitológica da provinciana história da salvação que, em si mesma, é platônica, depois, agostiniana, logo, metafísica, ontológica, teológica - mito.
4. O que a Teologia chama de história é a encenação mitoplástica de um enredo mitológico, é uma racionalização - ao "modelo retórico da história - de doutrinas e crenças sistematizadas, é o mundo virado de ponta-cabeça. Não é história isso a que os teólogos chamam de história. História - que, contudo, senhores, nasceu também na Alemanha, porque o método histórico-crítico é filho de protestantes alemães! - é contingência, História é imanência, História é aleatoriedade, História é abertura ao imprevisto e ao imprevisível. O que se chama de história, e se reproduz como telos, é teologia disfarçada. A rigor, é política disfarçada... É, sempre, um clero a fabricá-la, e uma fábrica de catecúmenos a repeti-la... Ou, dito de outro modo:
5. "A maneira gótica de Hegel quando toma o céu de assalto ( - Epigonalidade). Tentativa de introduzir uma espécie de razão na evolução: - eu estou no extremo oposto, vejo inclusive na própria lógica uma espécie de desrazão e de acaso. Esforçamo-nos para compreender como foi na maior desrazão, quer dizer, na ausência de qualquer razão, que se produziu a evolução que leva até o homem" (p. 243).
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
PS. se alguém me acusa de ser, portanto, um não-teólogo, dou de ombros. Insisto: sou teólogo. Mas a Teologia não pode ser mais o que era há duzentos anos - e ainda o é. Tanto quanto a Química, apesar de ser filha e neta delas, não pode ser mais Metalurgia iniciática nem Alquimia... Não sou - aí, sim - um teólogo medieval, nem um teólogo pseudo-moderno, nem faço força para brincar de Idade Média. Faço força - sim, faço - para parir-me como teólogo do século XXI. E, se for para ser aqui o que se era lá, desistirei tão rápido que meu nome se apagará da história das tentativas.