quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

(2015/113) O eu como unidade na expressão, mas multiplicidade sistêmica na origem

É engraçado como as pessoas, mesmo estudadas, mantêm o padrão do pensamento teológico operando, ainda que cuidem estar operando no regime das Ciências Humanas...

Vejam, por exemplo, a questão do "eu". Como herdamos a noção de alma - um mito, mas com raízes extremamente profundas em nossa cultura, não apenas a ocidental, mas, mesmo a planetária, nos viciamos a pensar o "eu" - isto é, a velha alma, como uma coisa, uma unidade, uma singularidade dentro de nós.

Nesse sentido, ainda que não esteja mesmo fazendo teologia, ele se secularizou de verdade - e não da boca pra fora -,, o sujeito pensa o eu como uma coisa, uma singularidade, uma unidade separada, um ser, dentro de si. Em algum lugar do corpo, do cérebro, lá está o eu, como o personagem que "pilotava" o Robô Gigante, ou como o Grande Dave...

Preparem-se para uma segunda frustração: a) não há uma alma metafísica e b) não há um eu-unidade, um eu-coisa, dentro de nós.

Ao contrário, todavia, de muita gente que, assim pensando, destrói o eu, dissolve-o em estrutura, em ilusão - uma tolice, a meu ver, eu penso, como Edgar Morin, que o eu é uma emergência sistêmica, um sistema sobre sistemas, surgindo complexamente da estrutura crítica do cérebro.

O eu não está no cerebelo, nas sinapses, no hipocampo, no hipotálamo, na pineal - não está em "um" lugar: está no sistema: é uma emergência que se tornou possível em um nível crítico do cérebro humano hipercomplexo...

Mas, ainda assim, o eu está aí, é real, não é ilusório - ainda que ele seja dinâmico e possa transformar-se com o tempo, ele é sempre ele mesmo, é sempre o centro frágil-mas-duro da memória desse complexo corpo-cérebro-mente.

Eu sou multidão.

Mas sou eu-só.









OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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