Para mim, a homossexualidade tem - necessariamente - de ter fundo bio-psicológico. Acho inegociável essa percepção. A homossexualidade está na Natureza inteira e eu não duvido por um segundo que o Homo sapiens herdou-a de seus ancestrais, que, por sua vez, herdaram-na dos ancestrais deles.
Quando digo bio-psicológico, quero dizer que se trata do funcionamento do cérebro: seja na sua estrutura material, seja na sua formatação estrutural, seja na sua composição neuro-hormonal, seja na sua funcionalidade eletro-química. Para mim, o corpo é homossexual, pensando cérebro e psiquê como partes do corpo.
Não descarto a possibilidade de o contexto histórico-social e cultural operarem positivamente na condição homossexual. Mas enganar-se-ia quem pensasse que, nesse caso, trata-se de uma questão de cultura. Só quem não sabe como funciona o cérebro pode cair numa simplificação dessa monta.
Explico.
A mente humana faz as vezes de bolas de malabarismo, sem que o malabarista saiba que está a jogá-las para cima. É uma emergência cérebro-sináptica. No fundo, são as cadeias e constelações sinápticas as responsáveis principais (mas não únicas) da emergência da mente e da consciência. Mas elas não nascem prontas. Um bebê nasce com um mínimo de sinapses, formadas durante a sua vida e experiencia fetais. O conjunto fundamental das sinapses se formará durante a infância. Depois, esse conjunto de sinapses, histórico-culturalmente formado, será o responsável direto pela vida consciente do indivíduo.
É impressionante esse fato: a história da infância do sujeito está marcada inexoravelmente na formação sináptica dessa pessoa, sem que ela possa desfazer-se dessa estrutura. E mais: essa estrutura, formada inconscientemente, será a responsável pelas operações fundamentais da consciência desse indivíduo. A pessoa literalmente se constrói, sem que saiba que isto está ocorrendo, porque ela ainda não tem maturidade psicológica para isso. Quando der por si, já está formada a composição estrutural básica de sua matéria constelação sináptica.
Vejam: são as experiências sofridas por essa criança que determinarão a estrutura sináptica do adulto. É preciso compreender que a estrutura sináptica é biológica - são entroncamentos de conexões de milhares ou milhões de neurônios, que formam determinada constelação por força dessa experiência, daquela, daquela outra. Sim, não apenas o corpo humano se forma durante a história (nove meses no ventre, 100 anos fora dele): a própria história, os acontecimentos humanos nessa história retroagem sobre o corpo e o formam, estabelecendo a estrutura fundamental da mente: as constelações sinápticas.
Penso que as experiencias da infância podem formatar uma composição sináptica que, em certos caso, responderiam pelo que, de modo simplório, tem-se falado de "causas culturais" e "educacionais" da homoafetividade. Sem prejuízo das causas diretamente fisiológicas, bio-químicas, cérebro-hormonais, penso que essas causas ditas culturais sejam, na verdade, também biológicas, porque as experiência fundamentais da formatação sináptica, na infância, moldam - inexoravelmente - a composição desse cérebro-mente.
Não se trata de um defeito, mas de uma formação histórico-biológica. O impulso erótico daí derivado tende, nessas causas, à homoafetividade. Eros, aí, é Narciso. Não há mais como "corrigir" o processo, porque as estruturas sinápticas estão formadas e são irreversíveis.
Não havendo como impedir o impulso homoerótico, a alternativa seria, então, a sublimação dele, a sua inibição, a castração social desse sujeito, adotando, artificialmente, uma posição teatral de macho ou fêmea, inversamente aos seus impulsos sinápticos.
A questão seria: mas por quê? O que há de errado com o impulso homoafetivo? Nada. Apenas o fato de a sociedade tratar a condição homossexual como "pecado", "desvio". "doença" é que traz à tona a questão da inibição desse impulso na forma de auto-controle: ser homossexual, mas não viver como tal. Mas eu insisto: por que não? Não se trata de um defeito, mas de um ser humano formado assim por sua história, história real e recursivamente biológica, experiências de vida que afetam fisiologicamente a própria condição da pessoa. Ela é isso, ela é esse ser, ela é assim, e isso não é um defeito, um pecado ou uma doença...
Logo, não vejo razão alguma para passar-se da consciência da formação sináptica em certos casos de homossexualidade para o planejamento de terapias de prevenção. Tolice. Não há o que se prevenir, muito menos prever, já que as experiências não são inteiramente objetivas, e o que uma criança experimenta de uma forma, gerando assim estruturas sinápticas com determinado sinal, será experimentado por outra criança de forma até contrária, formando estruturas sinápticas com sinais igualmente contrários em relação àquela.
Somos isso, essa coisa que nasce incompleta, completa-se inconscientemente, e, quando assume a plena consciência de si não pode dar conta da estrutura profunda que a vida lhe entregou, nesse momento cosmogônico.
Não estou reduzindo a homossexualidade a essa causa histórico-cultural. Para mim, há outra causas, ainda mais biológicas. Penso que essa seria a causa menos biológica de todas - aquela que derivaria diretamente a experiência vivida na infância, como querem os "culturalistas". Mas estou dizendo que mesmo essa está enraizada biologicamente na forma da fisiologia sináptica formada por meio daquelas mesmas experiências.
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Depois de ter escrito esse texto, bateu-me às mãos o vídeo abaixo. Não é o caso de que trato, mas daqueles que mencionei como sendo diretamente bio-psicológicos.
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Depois de ter escrito esse texto, bateu-me às mãos o vídeo abaixo. Não é o caso de que trato, mas daqueles que mencionei como sendo diretamente bio-psicológicos.
OSVALDO LUIZ RIEIRO
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