Caminhávamos Bel e eu por uma das ruas de Vitória, penso que estávamos caminhando na orla, isso, na calçada dos prédios da orla de Mata da Praia, quando vimos um casal de rapazes à nossa frente.
De mãos dadas, quase da mesma altura, caminhavam, já próximos da esquina onde Bel e eu viraríamos, tomando o caminho de casa.
Formavam um casal bonito. Um, extrovertido, gesticuloso, de boné virado ao lado. O outro, mais contido. Se se separassem, cada um de um lado da rua, um deles não disfarçaria sua condição gay. O outro, talvez até me atendesse em alguma loja e eu sequer perceberia.
Olhei-os com olhos de carinho. Vi-os em sua absoluta isonomia em relação a Bel e eu. Fosse o caso, sentaríamos com os dois, tomaríamos um sorvete ou beberíamos um suco, enquanto jogamos conversa fora.
Dois garotos, dois namorados, e Bel e eu, os mesmos garoto e garota de há 27 anos. Que diferença? Nossos .40 e os .20 deles? E isso é diferença? Talvez, pensei, fossem até mais religiosos e místicos do que Bel e eu...
Desejei profundamente a naturalização radical da condição deles, a aceitação radical, de nossa parte, da condição gay, da capitulação de todos diante do óbvio.
Que sentido faz - nenhum! - a rejeição ao amor gay? Ah, a religião - pois que se dane a religião! As pessoas valem infinitamente mais do que qualquer punhado de tolices, por mais pregadas em paramentos dourados que sejam...
Se querem, mesmo, ser religiosos, sejam acolhedores!
Todo o meu desejo, pois, vai na direção de um país que supere definitivamente a sua patologia homofóbica, travestida no que quer que seja.
Todo meu desejo vai na direção de que nossa sociedade vença seu medo, seu preconceito, sua religiosidade nociva e nefasta, naquilo que ela tem de nefasta e nociva...
Todo meu desejo vai na direção da superação, por parte de cada um de nós, de todos os limites pessoais, psicológicos e inconscientes que nos mantém intolerantes e intragáveis...
Vi naquele casal um futuro possível.
Desejei esse futuro.
E o desejo agora.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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