1. Se Deus há, ou Deuses, isto é, se para além do que é vivo e físico, do que é material e natural, do que é parte desse Universo, se para além da Tabela Periódica e de seus feitiços sub-atômicos, há Alguém, Alguma coisa - não sei. Quanto a isso, respeitosamente, me calo. Em referência a isso, num resquício, ainda, de mística e reverência, silencio.
2. Diante das doutrinas, não. Diante do Deus e dos Deuses pregados, ensinados, instrumentalizados, não, não me calo - conquanto não vá entrar nos templos a denunciar o fenômeno.
3. Assim como aquela corrente budista sabe e ensina que, se alguém encontrar Buda, deve matá-lo, isto é, porque, se foi encontrado, não é Buda, também sei que onde quer que um homem ou uma mulher me aponte, mostre, revele ou indique Deus - ou Deuses - não é ele: é um ídolo.
4. Não, não tenho (mais) problemas com ídolos, imagens, estátuas - compreendo-as todas, e também aquelas imagens de pensamento, pregadas dia e noite pela fé que se considera não-idolátrica, e, todavia, é mais idólatra do que as idolatrias que condena...
5. Nisso, revela-se que não há blasfêmia de minha parte - porque não é Deus aquilo que se vende e anuncia como Deus. Na boca de homens, no livro de homens, no pensamento dos homens, não há Deus, ainda que vistam roupas de domingo e talas engomadas...
6. Não acho que a Teologia Negativa me sirva exatamente, mas, se há uma direção em que eu pense poder ainda caminhar, é essa: o que quer que eu possa considerar de Deus só sobrevive no silêncio - onde há uma palavra, aí Deus não está - salvo, claro, se Deus for criatura humana...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(o leitor atento imediatamente perceberá que acabo de pôr a perder meu posto anterior: e, então, conceberá o sentido profundamente irônico daquele texto...)
2 comentários:
Lembrei-me de Tillich: "Deus é símbolo para Deus" (Dinâmica da Fé).
Não, Tillich, não: ele "sabe" que Deus é símbolo para Deus - ele é um homem de fé clássica, no limite, mas é. No meu caso, a única coisa de que eu "sei" é que Deus, na boca e no pensamento humano, é criatura humana, cultura, história. Se há algo a que lhe corresponda fora daí, não sei. Inclinar-me-ia a uma Teologia Negativa não como afirmação de que é aí que ele está, mas como condescendência racional de que, se há algum lugar em que se pode estar, naquela perspectiva, é ali, conquanto isso não signifique nem garante que esteja...
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